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Em defesa da unificação do Médio Tejo e do Pinhal Interior Sul

Em defesa da unificação do Médio Tejo e do Pinhal Interior Sul

Presidente de Mação quer regionalização que tire o concelho do colete de forças em que se encontra

Saldanha Rocha não chegou a aquecer o lugar como presidente da Comunidade Urbana do Médio Tejo. A nova legislação sobre associações de municípios obrigou o concelho de Mação a sair dessa estrutura e a ficar agregado à unidade territorial do Pinhal Interior Sul. O autarca de Mação diz que assim fica numa carruagem mais afastada da locomotiva. Afirma ainda que a identidade regional não está em risco com a agregação da Lezíria e do Médio Tejo a regiões diferentes.

Manifestou-se recentemente a favor de um modelo de regionalização que parte o distrito de Santarém em dois, com o Médio Tejo a ficar agregado à Região Centro. Esse não é um passo para a quebra da identidade regional?Esse novo modelo que irá surgir não vai dividir nem quebrar. O facto de pertencermos à Região Centro e a Lezíria pertencer ao Alentejo, se houver bom senso e crer, não vai dividir, vai é fortificar.As regiões não vão ficar de costas voltadas?Penso que não. A Lezíria e o Médio Tejo já trabalham há muitos anos com uma linha mais ou menos definida. Como na água, no saneamento, no turismo e noutras áreas de intervenção. Não se deve pôr uma tónica de desgraça. Encaro com optimismo este novo caminho que vamos ter forçosamente de percorrer. E espero que o iniciemos o mais depressa possível, porque como estamos é que não devemos continuar a bem de zonas do interior como a nossa, esquecidas, não priorizadas.A regionalização vai impor limites administrativos, como ainda são os distritos. E a coesão que existe neste momento em termos de distrito deixará de existir.Poderá surgir outro modelo territorial. Mas acho que não porá em causa as relações entre quem cá vive, nem as relações institucionais que hoje existem entre autarcas, empresários... É uma questão de ordenar o território de uma maneira diferente. O que ganha o Médio Tejo por ficar ligado à Região Centro?Tanto a Lezíria como o Médio Tejo saíram da Região de Lisboa e Vale do Tejo porque foi uma forma estrategicamente inteligente de ir buscar financiamentos comunitários. Estes concelhos mais a norte do distrito, por proximidade ou outro tipo de afinidades com a região do azul e do verde, da água e da floresta, foram encaminhados para a Região Centro. E os outros colegas da Lezíria mais para o lado de baixo. Acho que é difícil dizer o que se ganha e o que se perde.A sua posição a esse nível é pessoal ou reflecte o que pensa a maioria dos municípios da Comunidade Urbana do Médio Tejo, a que ainda preside?A minha posição acerca da regionalização é pessoal. Nunca discuti isso com os meus colegas. Acredito que possam pensar da mesma forma, que também entendam que esse processo é demasiadamente importante para o futuro desta região. Vamos ter de iniciar o trabalho de campo e de partir muita pedra. O facto de ser presidente de um município periférico, com ligações fortes à Beira Baixa e ao norte alentejano, tem influência no desvalorizar da coesão regional do Ribatejo?Não. Mação é considerado o concelho mais a norte do Ribatejo, do distrito de Santarém. É um concelho de confluências. Sentimo-nos bem nesta região de confluências. O Ribatejo diz-me tanto como me diz o norte do Alentejo ou a Beira. É por isso que aqui dizemos que Mação é o concelho ribatejano mais beirão do Alentejo, ou o concelho beirão mais ribatejano do Alentejo. É engraçada esta troca de palavras, pois também dizemos que somos divertidos como os ribatejanos, pacatos como os alentejanos e afáveis como os beirões.É presidente da Comunidade Urbana do Médio Tejo, mas o seu município integra também a Associação de Municípios do Pinhal Interior, onde estão vários concelhos da Beira Interior. Quais as vantagens de estar em diversas frentes?Vamos ter de sair da Comunidade Urbana do Médio Tejo por imposição da nova legislação do associativismo municipal. Mas voltando atrás: o Ribatejo não é desvalorizado por nós. Até porque a protecção civil, as estradas, a segurança social, a saúde, tudo isto Mação trata em Santarém…Mas a educação, a floresta ou a agricultura já trata no distrito de Castelo Branco.Pois, porque somos uma região de confluências e é muito difícil gerir isso. Formataram-nos desta maneira e por muito que queiramos sair deste colete de forças não nos deixam. Por isso é que acho importante que a regionalização venha definir de uma vez por todas as regras do jogo e venha marcar territórios que tenham poderes, que possam ter um planeamento, uma gestão e uma maneira de intervenção no território muito próprios. Se não for assim é uma confusão. Mação é um exemplo do que não deve ser a gestão de um território.É por isso que vão deixar de integrar a nova associação de municípios do Médio Tejo.Segundo a nova legislação, as novas comunidades coincidem com os limites territoriais das NUT III. Nós pertencemos à NUT do Pinhal Interior Sul, mas sempre trabalhámos com os concelhos do Médio Tejo.Não deixa de ser irónico que o presidente da Comunidade Urbana do Médio Tejo seja presidente de um concelho que pertence a uma NUT diferente.Sou presidente do Médio Tejo porque Mação sempre integrou essa equipa.É um bom reflexo da confusão administrativa em que o seu concelho vive?Sim. Mas isso não quer dizer que não se tenha feito trabalho, que a gente não se tenha entendido. Quando é que Mação vai ter de abandonar o Médio Tejo?Em breve. A nova lei vai extinguir as comunidades urbanas existentes. Vão ser criadas novas comunidades intermunicipais, as CIM, em função das NUT. E Mação vai ser forçado a mudar de região. Nós não queríamos. Isso é pior para o concelho?Ficamos numa carruagem mais afastada da locomotiva. Ficamos numa zona mais desertificada, com mais dificuldades. O que gostava é que pudesse acontecer a unificação das duas regiões, Pinhal Interior Sul e Médio Tejo. Não é por acaso que todos os colegas anuíram que nos candidatássemos à contratualização dos fundos comunitários em parceria.Pode ser o primeiro passo?É. Isso só traz vantagens. Qualquer político decente, com bom senso, que queira perceber e viver o território, entende que essa unificação dos dois territórios viria proporcionar o equilíbrio entre uma região mais desenvolvida e outra menos desenvolvida. Se houver seriedade política na regionalização vão deixar-nos pensar aquilo que queremos. E não impor-nos aquilo que não queremos. Já colocou essa questão ao mais alto nível?O secretário de Estado da Administração Local, Eduardo Cabrita, em visita em Julho a Mação disse-nos que era possível no próximo reordenamento territorial Mação e o próprio Pinhal ajustarem-se ao espaço em que melhor se sentissem. Acredito que os políticos sérios têm uma só palavra. “Médio Tejo é uma equipa coesa”Desta experiência como presidente da Comunidade Urbana do Médio Tejo, conte-nos como foi gerir os interesses de uma associação de municípios com tantas cidades de dimensão semelhante? As rivalidades ancestrais são difíceis de ultrapassar?Não. Isso é uma falsa questão. Não há rivalidades. Somos uma equipa coesa, que joga no mesmo tabuleiro. Não digo que não possamos posicionarmos em quadrados diferentes, mas isso é benéfico para o grupo de trabalho.Isso funciona muito bem no papel, mas na prática as coisas nem sempre são assim. Situações aparentemente comezinhas, como as sedes dos futuros agrupamentos de centros de saúde, suscitam polémica entre municípios. É verdade. É normal que cada um tente puxar para o seu território aquilo que todos desejamos. Tal como é normal que as cidades maiores, com mais peso populacional e político, tenham outro tipo de força. Mas acredito que é perfeitamente natural entre nós haver equilíbrio, inteligência emocional, bom senso para que todos nos possamos sentir bem no grupo de trabalho. Tomar continua a ser líder natural dessa sub-região do Médio Tejo ou hoje as coisas já não são assim?Não creio que haja um líder natural na região. Todos os concelhos têm características diferentes. Tomar pode ser líder natural em termos de património, tal como Abrantes pode ser em termos da educação de excelência ou Alcanena e Torres Novas como potenciais líderes nas plataformas logísticas de transportes. Isto só vem equilibrar o território. Com a falta de recursos que existe, com a dimensão que temos, não vale a pena estar a pensar em replicar aquilo que outros já têm.Há questões estruturais que continuam por resolver, como uma rede eficaz de transportes públicos entre os principais pólos urbanos e entre os três hospitais do Médio Tejo. Isso atesta a incapacidade dos municípios para se concertarem em torno de determinados objectivos?Não, porque esse trabalho da mobilidade territorial está a ser feito e existe uma candidatura que apresentámos e que chega ao pormenor da localização das paragens de autocarros.“Sinto-me feliz por aquilo que estou a fazer pela minha terra”Saldanha Rocha é “candidato natural” a mais um mandato à frente da Câmara de MaçãoQuando anuncia a sua recandidatura a presidente da Câmara de Mação?Neste momento sinto-me perfeitamente confortável com o trabalho que estou a desenvolver, sinto-me entusiasmado e muito motivado com os projectos que temos em mão. Sinto-me feliz por aquilo que estou a fazer pela minha terra. E acho que não vai ser preciso fazer um baile com orquestra para anunciar a minha candidatura. Creio que vou ser um candidato natural. Concorda com a nova lei que estabelece o máximo de três mandatos consecutivos para os presidentes de câmara?Sou completamente defensor e assino por baixo a lei da limitação de mandatos. Só lamento que a mesma limitação não tenha sido estendida aos senhores deputados. Quantos mandatos pode fazer ainda perante a nova lei?Só mais um. Vai ser o último, se o povo assim o quiser. Num concelho pequeno e com um campo de recrutamento escasso existem dificuldades em formar as listas?Existem algumas dificuldades quando queremos constituir equipas multidisciplinares, com várias áreas de formação. Muitos jovens que se formam vão para fora. Por outro lado, acredito que estes lugares vão ser cada vez menos desejados. A exigência é cada vez maior, a intolerância é cada vez maior e o devassar da vida privada é uma coisa cada vez mais comum.No campo do recrutamento há ainda a imposição de quotas femininas para complicar mais a situação. Concorda com essa medida?Concordo, a mulher tem um papel muito importante na sociedade. É uma força séria de inteligência, de querer, que não devemos desperdiçar.Já está a falar para o eleitorado feminino.Já. As mulheres devem estar em lugares de destaque na sociedade.Vai conseguir arranjar mulheres para a sua lista?Já tenho. Quantas vereadoras tem neste momento?Nenhuma. Mas em Mação temos mulheres à frente da acção social, da biblioteca, do museu…Tem havido um esforço para colocar Mação no mapa. Como os festivais, as feiras, vários eventos desportivos, a criação da marca Mação e até o Dakar Series. Isso representa um avultado esforço financeiro para um município pobre.São iniciativas com orçamentos diferentes. Temos conseguido equilibrar. Ponderamos muito, fazemos contas e optamos. Encaro tudo isso como um investimento sério na divulgação da imagem do nosso concelho, das nossas gentes, dos nossos produtos. Há muita gente que pode ter achado estranho que tivéssemos aqui em Mação o quilómetro zero do Dakar. Foi aqui porque soubemos trabalhar o assunto e aquilo que a câmara gastou em termos de financiamento foi 5 mil euros.Como é que conseguiu trazer esse evento para Mação?É preciso ter sentido de oportunidade, alguma sorte, mas como sabe o segredo é a alma do negócio.E para o ano há mais?Há. O meu avô farmacêutico dizia-me muita vez que o mundo é dos calados.E o senhor faz por seguir o conselho. É uma pessoa reservada?Prefiro escutar. Uma máxima diz que há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha que é lançada, a oportunidade perdida e a palavra pronunciada.A visibilidade desses eventos também ajuda a ganhar eleições. Não o faço por isso. Obviamente que tudo isto dá projecção, tudo isto faz com que o homem José Saldanha, que é presidente da câmara, possa ser visto pelos munícipes como uma pessoa dinâmica, inovadora, que faz bem à terra. Mas tanto faço isso como tenho nesta terra família e quatro negócios que criam postos de trabalho e ajudam a criar riqueza para a região. E aí não estou a pensar em eleições. Sente-se mais um homem de negócios ou um autarca?Neste momento sinto-me muito mais um autarca. Não há o risco de essas duas actividades se misturarem?Não posso confundir as duas coisas. Os negócios nem têm nada a ver com a autarquia. São na área da saúde, é uma farmácia, é uma clínica… Nos negócios ajudo naquilo que posso, porque sei que a minha família vivendo cá e tendo apostado nesta terra está a criar postos de trabalho, a servir as pessoas. Sou feliz e quero ser feliz, estupidamente feliz…Este mandato ficou marcado também pela perda de mandato do seu vice-presidente, por não ter entregue dentro do prazo a declaração de rendimentos. Entretanto foi buscá-lo para seu assessor para áreas chave como a protecção civil e a floresta. Não há aí um certo desvirtuar da ética?O António José Louro perdeu o mandato por uma atitude perfeitamente infantil. Esqueceu-se de entregar um documento que a lei obriga a entregar. Avisei-o várias vezes, mas ele além de andar assoberbado com trabalho é também muito distraído no que toca à papelada. E quando não somos organizados nesta linha e só estamos virados para a acção podemos sofrer consequências. Isto foi um descuido que pagou muito caro. E quanto à sua posterior contratação para a câmara?Não vejo nada que impedisse que o chamasse para meu assessor. Só o fiz porque o concelho continua a precisar dele, vai beneficiar da atitude que ele teve e desenvolveu na área florestal e da protecção civil.Será o seu sucessor natural na câmara?Não. Acho que pode ser candidato de novo, contarei seguramente com ele na próxima lista, mas não o quero perder como técnico pois para mim é um carro de combate.
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