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O carpinteiro do Rock

Xarepa celebra quarenta anos de entrega total à música

Carpinteiro de profissão. Músico por devoção. Aplaina um solo na guitarra com o mesmo empenho com que faz os acabamentos de um móvel. Canta um verso de Bruce Springsteen com a mesma alma com que apronta uma mesa de sala de jantar. O Estado conhece-o por Vitor Manuel Marques Filipe. O nome “verdadeiro” é Xarepa.

Foi registado como Vitor Manuel Marques Filipe mas cedo o baptizaram de Xarepa, que era a alcunha do pai. A foto que ilustra este artigo foi tirada em Julho de 1996 quando O MIRANTE o entrevistou pela primeira vez. Não mudou nada desde então. Um boné, um corpo esguio, um ar sério e concentrado. O Rock como pano de fundo. Na altura tinha decidido optar pela música a tempo inteiro. Até essa altura era o Xarepa dos conjuntos. Cantava e tocava com outros amantes de música como ele. Companheiros de noitadas e aventuras. A partir daí a solo com a sua banda. Xarepa Band, claro está.A vinte de Setembro juntou os amigos num concerto em que celebrou quarenta anos de palco. No dia 8 de Outubro, toca na Feira Nacional dos Frutos Secos/Fersant no pavilhão da Fersant. Vale a pena ir ver e ouvir. Uma história de amor à música de um miúdo que já passou dos 50 há cinco anos, é uma bela história. Aqui e em qualquer lado. O seu inglês tem sotaque de Lapas, a terra onde nasceu e cresceu. O seu coração bate ao ritmo das batidas do Rock. Não vale a pena citar nomes. Xarepa canta o reportório todo. De trás para a frente e da frente para trás. As cem mil canções que todos devemos ouvir antes de morrer. Foi ele quem fez a sua primeira guitarra. Na altura já trabalhava numa empresa de madeiras. O carpinteiro carpinteirava em duas frentes. No trabalho e na música. Fazia cadeiras e mesas. Aplainava solos e cantigas nas horas vagas. O equipamento do primeiro conjunto, Os Supersónicos, era o da igreja local. O falecido Padre Amílcar a dizer Ámen na missa e o grupo a entrar de rompante para levar amplificador, microfone, colunas e tudo o resto. Ficava o missal porque as palavras que Xarepa cantava eram de origens menos divinas.É um autodidacta numa geração de auto-didactas. A escola era a escola da rua e dos amigos. Aprendia-se a ver tocar os que sabiam. Não havia youtube nem concertos na televisão. Não havia MTV sequer. Os discos eram raros. Gravavam-se emissões de rádio numas coisas chamadas casetes. Ouvia-se um acorde e ia-se lá por tentativas. Ouvia-se o vocalista e imitava-se o som que lhe saía da garganta.Vale a pena relembrar um episódio que ajuda a compreender de quem se fala quando se fala de Xarepa. A única vez na vida que esteve sem tocar foi quando se casou. Um fim-de-semana de alguma pressão. “Eu andava a leste, completamente alheio, não sabia o que havia de fazer”, conta. Valeu-lhe o facto de a mulher o compreender melhor que ninguém. Não o deixou ir tocar mas também não lhe azucrinou a cabeça. No dia 8 de Outubro, Xarepa tem autorização para tocar. É no Pavilhão de Exposições da Nersant, a partir das 21h00. Está convidado.

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