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Quadros de nu feminino censurados no Hospital de Torres Novas

Quadros de nu feminino censurados no Hospital de Torres Novas

Artista plástica Elsa Marques chocada com decisão da administração em retirar três telas
Quando foi convidada para expôr os seus trabalhos no átrio da entrada principal do Hospital Rainha Santa Isabel, em Torres Novas, a artista plástica Elsa Marques, 46 anos, estava longe de imaginar que três das suas pinturas, figurativas da zona púbica da mulher evocadas a partir da polpa de uma papoila, iriam ser retiradas para um local “mais recatado” por ferirem susceptibilidades. “Mas será que as senhoras que ficaram escandalizadas nunca foram ao ginecologista?”, questiona a pintora revoltada com a atitude. A exposição foi organizada através da Liga dos Amigos do Hospital mas quem foi responsável pela mudança das três obras de sítio permanece, por enquanto, uma incógnita. Contactada por O MIRANTE, a responsável da Liga dos Amigos do Hospital de Torres Novas, Ana Isabel Moreira, escusou-se a dizer de quem partiu a decisão. Igualmente contactada, a administração do hospital também não respondeu em tempo útil de fecho de edição. A artista, natural de Mouriscas, concelho de Abrantes, decidiu expor os seus mais recentes trabalhos e, na quinta-feira, 30 de Abril, montou com o amigo e também artista plástico Carlos Vicente duas fases do seu trabalho pictórico a pastel. “Vou com o Vento” retrata diversos trabalhos sobre o voo da flor dente de leão. “Metamorfose-me” retrata em diversos quadros sequenciais a transformação de uma papoila numa mulher que vira costas às vicissitudes da vida. A papoila é o símbolo grego para os orgãos genitais femininos. Ambos os temas têm uma narrativa lógica, que o artista dispõe pelo espaço expositivo, facilitando assim a leitura sequencial dos trabalhos. Foi este último que causou a polémica uma vez que, segundo O MIRANTE apurou, algumas funcionárias do hospital, ainda nesse mesmo dia, não gostaram dos trabalhos expostos considerando-os “impróprios” pelo que retiraram os quadros que faziam parte da sequência relativos à zona púbica feminina. Elsa Marques ficou a saber da troca através da responsável da Liga dos Amigos do Hospital de Torres Novas que, segundo afirma, lhe deu conta de reacções menos favoráveis à exposição dos quadros pelo que anuiu a essas pressões. Dirigiu-se para obter explicações junto do gestor mas por ser véspera de feriado ninguém se encontrava. “Achei isto uma falta de respeito”, confessa ao nosso jornal frisando que por se tratar de uma exposição sequencial “não faz sentido tapar ou esconder esses quadros”. Por esse motivo as telas não estão numeradas nem com qualquer indicação descritiva tendo, inclusive, ponderado retirar as obras expostas. A artista manifestou o seu desagrado junto de responsáveis mas os quadros continuavam escondidos pelo menos até à tarde desta terça-feira, 5 de Maio. Para minimizar a situação foi colocado, posteriormente, um aviso indicando que a exposição é sequencial e que a alteração da ordem de trabalhos altera a leitura normal e lógica da sequência. Segundo disse a pintora, esta foi a segunda vez que expôs no Hospital de Torres Novas. Na sua estreia também se encontravam quadros de nus mas dessa vez não houve qualquer censura. Para o artista plástico Carlos Vicente, responsável pelo atelier do Centro Cultural de Vila Nova da Barquinha (que a artista frequentou) esta alteração não faz qualquer sentido uma vez que “falseia a leitura lógica dos mesmos”. Carlos Vicente considera que o facto de terem trocado a ordem dos trabalhos de Elsa Marques “equivalente a alguém alterar a ordem das páginas num livro afim de dar outro rumo a um qualquer enredo que não o do autor”
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