
Já são poucos os jovens que sonham ser bombeiros
Duas corporações de bombeiros da região, Municipais do Cartaxo e Voluntários de Salvaterra de Magos, tinham poucos voluntários para iniciarem uma recruta e juntaram-se para formarem doze novos soldados da paz
A crise do voluntariado está a afectar os bombeiros que cada vez mais têm menos jovens a oferecerem-se para abraçarem a causa. Os Municipais do Cartaxo e os Voluntários de Salvaterra de Magos não tinham elementos suficientes para iniciarem a formação a novos bombeiros e decidiram juntar-se para iniciarem uma recruta conjunta. O grupo tem 12 elementos, sete de Salvaterra e cinco do Cartaxo, e começou os treinos em Fevereiro.
Na manhã de sábado, 7 de Maio, muitos jovens certamente ainda estavam a dormir quando o grupo constituído por aprendizes de bombeiros aprendia a rastejar em espaços apertados com botijas de oxigénio às costas e equipados com capacetes que complicam a tarefa. Eram nove e meia da manhã e os recrutas com idades entre os 17 e os 33 anos esforçavam-se por transportar vítimas num cenário simulado de incêndio urbano. O instrutor Paulo Silva ia dando as ordens e corrigindo os erros. As tentativas falhadas de fazer as coisas bem provocavam a risota mas os recrutas não desistiam.
Joana Rabita, de Salvaterra de Magos, tem 17 anos e é dos recrutas mais novos. Ao contrário de outros não tem familiares ligados aos bombeiros. “Alistei-me porque o trabalho deles sempre me fascinou. É sempre uma aventura”, revela a jovem estudante confessando que a parte mais difícil da formação é o esforço físico. Joana Rabita, tal como Tiago Nunes, do Cartaxo, não se importa de abdicar de saídas à noite para estar em plena forma na recruta que começa cedo. O jovem de 19 anos sentiu o chamamento devido à necessidade de ajudar o próximo, que o acompanha desde criança, e pelo espírito de entreajuda que rege os bombeiros. Coisa que admite já ver pouco na sua geração. “As pessoas estão cada vez menos disponíveis para ajudar”, considera.
Se todos concordam que o espírito de sacrifício é uma qualidade essencial num bom bombeiro, o recruta Mário Silveira, de 33 anos, sabe bem o que isso é. Desafiado pelos amigos a alistar-se nos bombeiros, junta a recruta à sua profissão de serralheiro civil em Salvaterra de Magos. Ao contrário da jovem Joana Rabita, o esforço físico não é uma dificuldade. “O pior é mesmo conciliar esta actividade com a minha profissão”, considera, acrescentando que os jovens atravessam uma crise de valores. “Eles não estão para se sujeitar a este esforço físico e não têm a disponibilidade necessária para esta missão nem para arcar com as responsabilidades que ela implica”. Considera que já tem outra maturidade e capacidade de sacrifício que a maioria dos mais jovens ainda não tem. “Eles andam mais naquela vida de escola, amigos, saídas à noite e não estão muito para aqui virados”, entende.
O adjunto de comando dos Bombeiros do Cartaxo, Vítor Reis, explica que tiveram que partir para uma formação conjunta para conseguirem rentabilizar a formação e os recursos. O também responsável pelo curso de instrução inicial de bombeiros confirma que se tem verificado um decréscimo do número de candidaturas para a recruta. “Os jovens agora têm muitos interesses que os distraem e que acabam por aliciá-los. Para além disso, grande parte das vezes eles têm uma ideia errada do que é ser bombeiro e pensam que é uma profissão menor”, analisa aquele que seguiu as pisadas do pai há dezasseis anos. “A profissão de bombeiro devia ter mais reconhecimento e deviam ser criados outros incentivos para captar a população mais jovem”, afirma.
Curso tem 350 horas e decorre aos fins-de-semana
O curso de instrução inicial de bombeiros tem a duração de 350 horas. A maior parte do tempo é dedicada à formação teórica e prática e 120 horas são de treino no posto de trabalho, tipo estágio. Os recrutas recebem formação em matérias como Organização dos Serviços de Bombeiros, Técnicas de Socorrismo, Equipamentos, Manobras e Veículos. Aprendem também técnicas de salvamento e desencarceramento, combate a incêndios florestais, urbanos e industriais. Quem sonha ser soldado da paz pode contar, para além do espírito de equipa e de muitas amizades ao longo do curso, com uma formação que pode ser útil tanto a nível profissional como pessoal, garante Vítor Reis, adjunto de comando dos Bombeiros do Cartaxo.
