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Um clube que é a grande família da aldeia

Associação Cultural e Recreativa de Santa Cita movimenta cerca de centena e meia de atletas

A Associação Cultural e Recreativa de Santa Cita é a grande família da localidade que lhe dá o nome e aldeias vizinhas. O hóquei em patins é o cartão de visita principal, mas o orgulho dos associados vai mais além, vai sobretudo para o facto terem sido eles com a ajuda da população os obreiros da história do clube e da construção do pavilhão desportivo e sede da colectividade.

José Manuel Barroca da Cunha é o sócio número três da Associação Cultural e Recreativa de Santa Cita. É o mais antigo ainda vivo e é o presidente da direcção há muitos anos. “Sou fundador e estou na direcção desde o início da vida da colectividade, fundada no dia 21 de Maio de 1975”, disse com satisfação antes de contar a O MIRANTE, a história brilhante de vida da colectividade da aldeia de Santa Cita, no concelho de Tomar, que tem cerca de 800 habitantes.O dirigente conta que o objectivo da formação da colectividade foi proporcionar actividades culturais com e para a população. Mas o clube rapidamente se virou para a área desportiva. Onde tem um trajecto de que todos os santacitenses se orgulham. “Começámos com a ginástica, onde chegámos a ter uma campeã nacional, mas é no hóquei em patins que somos conhecidos por todo o país, já chegámos a disputar o Campeonato Nacional da Primeira Divisão, com os colossos de então, Sporting, Benfica e Porto, entre outros” garante o presidente.Actualmente a associação conta com cerca de seiscentos associados, quatrocentos dos quais com as quotas em dia, movimenta cerca de centena e meia de atletas nas modalidades de hóquei em patins, patinagem artística, pesca desportiva, columbofilia, ciclismo e desporto aventura.Nesta altura a equipa de seniores de hóquei em patins disputa o Campeonato Nacional da Segunda Divisão. Mas é na formação de jovens hoquistas que o clube se destaca. Há dez anos, quando a equipa de seniores masculinos foi despromovida à terceira divisão, teve início um projecto que visava uma forte aposta nas camadas jovens. Dentro de um contexto social complicado, numa localidade com poucos habitantes e por isso, poucos apoios, a aposta em treinadores qualificados e num projecto de formação a longo prazo mostrou ser acertada. “Temos tido regularmente equipas a disputar os campeonatos nacionais de jovens e alguns deles vão integrando a equipa de seniores”, referiu o presidente. A aposta na formação tem também trazido gente nova ao clube. Devido ao reduzido número de habitantes do local onde está sediado, os cerca de 150 atletas que representam o clube são oriundos de vinte freguesias dos concelhos de Tomar, Entroncamento, Ourém, Torres Novas e há um jovem que vem de Benfica do Ribatejo, um sinal claro de que o bom trabalho que está a ser feito na formação tem chamado a atenção dos jovens da região, que se mudam para Santa Cita para poderem evoluir principalmente como hoquistas.As fontes de receita deste pequeno clube são, na sua maior parte, fruto de quotizações e várias campanhas de angariação de fundos, donativos, e festas organizadas pela direcção, onde o presidente destaca o trabalho efectuado pelas mulheres da aldeia. “São sempre mais actuantes do que os homens, são um valor importante para a realização de eventos que organizamos”, disse, acrescentando que os apoios das entidades oficiais são meramente simbólicos.“Não digo que somos descriminados mas não posso deixar de dizer que o apoio da Câmara de Tomar e da Junta de Freguesia de Asseiceira, são quase nada. Em relação aos clubes da cidade de Tomar a diferença é abissal. Compreendemos as dificuldades das autarquias, mas entendemos que devíamos ser olhados de outra maneira”, disse o presidente.Apesar das dificuldades actuais não tem sido difícil encontrar pessoas para a direcção e também para acompanhar os jovens e as várias secções do clube. “Apenas pedimos mais apoio dos pais dos escalões acima dos iniciados. Nos escalões mais jovens não temos razão de queixa porque os pais estão em todas, mas com a subida aos escalões mais elevados esse acompanhamento diminui, não queremos que isso aconteça e vamos sensibilizando os familiares para nos acompanharem porque assim podemos efectuar um melhor trabalho e só vivendo como como uma família é que podemos ter cada vez mais força”, disse em jeito de apelo Barroca da Cunha.O aparecimento do hóquei e a construção do pavilhãoO hóquei em patins na Associação Cultural e Recreativa de Santa Cita nasceu, em 1977, quase por acaso. Os filhos do actual presidente então em idade escolar, inscreveram-se para jogar futebol jovem nos programas que eram então disponibilizados pelo Grupo Desportivo da Matrena. Mas não mostraram grandes capacidades para a modalidade.Foi então que o pai lhes comprou uns patins e eles aproveitavam um espaço acimentado existente no quintal da sua casa para fazerem a sua aprendizagem, e com eles começaram a aparecer muitos outros jovens da escola, e a determinada altura já dava para formar uma equipa jovem. “Foi então que um grupo de pais, onde eu estava incluído, resolvemos contratar um treinador e começar com uma equipa jovem, e curiosamente, logo no primeiro ano de competição fomos campeões distritais. A partir daí já não parou mais o hóquei em Santa Cita”, explicou o presidente.O clube jogava então num pequeno polidesportivo descoberto que existia no centro da aldeia, local sem as mínimas condições para a prática da modalidade. Por isso começou a germinar na aldeia a ideia de construir um pavilhão fechado. “A população uniu-se e começou a organizar vários eventos para concretizar a construção, foram-se juntando verbas e a determinada altura já havia possibilidade de avançar com a obra”.A partir de então tudo se desenrolou com rapidez. O empresário António Jacinto Ferreira, a quem a colectividade muito deve, deu-lhes a mão e avançaram. “No local havia um saibro que era muito bom para as obras de construção civil e negociámos com outro empresário aqui da zona, o senhor João Salvador, que, a troco da retirada de saibro, nos facultou todo o cimento e o ferro para fazer a obra. O sítio da retirada do saibro serviu mesmo para fazer a base do pavilhão e as bancadas que foram escavadas nas barreiras que ficaram. O resto do pavilhão e da sede foi feito com as verbas angariadas pela população”, disse o presidente da Associação Cultural e Recreativa de Santa Cita com mal disfarçado orgulho. A Federação Portuguesa de Patinagem dificulta a expansão do hóqueiJosé Manuel Barroca da Cunha é um conhecedor do hóquei em patins e não hesita em dizer que a Federação Portuguesa de Patinagem é a principal culpada de muitos clubes deixarem a modalidade, principalmente ao nível do escalão sénior. “Se não quiserem acabar com a modalidade têm que fazer uma reestruturação profunda ao nível dos campeonatos”.Segundo Barroca da Cunha, os campeonatos actuais obrigam a grandes deslocações e os clubes não estão preparados para isso, houve mesmo alguns clubes que na última época quando tinham que disputar jogos nas ilhas davam falta de comparência, porque a Federação deixou de suportar as deslocações.Por outro lado o organismo máximo do hóquei resolveu também criar uma taxa de jogo que se torna quase impossível de suportar pelos clubes. “Neste momento posso dizer que para realizar um jogo de seniores aqui em Santa Cita, sei que tenho à partida uma despesa de cerca de 600 euros, e a taxa federativa é uma parte importante dessa verba, os clubes estão a ficar depauperados”, garante.“Aqui na Associação de Patinagem do Distrito de Santarém tem havido vários clubes a desistir do hóquei sénior e isso fica a dever-se às despesas que a subida aos nacionais acarreta. É necessário pensar que em vez de um campeonato da terceira ou da segunda divisão, passar a disputar-se provas de âmbito regional e depois sim os primeiros classificados disputarem eliminatórias para subirem à primeira divisão. Já venho a colocar esta hipótese há muito tempo, mas é em vão e os clubes vão desistindo cada vez mais”, disse Barroca da Cunha.

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