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“Queremos que Ourém seja a maior referência nacional ao nível do futebol feminino”

Equipa do Clube Atlético Ouriense

João Sousa, 48 anos, presidente da direcção do Clube Atlético Ouriense quer dar às jogadoras da equipa sénior de futebol feminino as mesmas condições que dá aos futebolistas masculinos e quer que as vitórias passem a ser a nível internacional. O objectivo maior, segundo ele, é fazer de Ourém a maior referência nacional do futebol feminino. Por enquanto tudo não passa de um sonho desmedido. É que nem sequer o campo municipal está operacional, seja para as raparigas, seja para todas as 17 equipas de futebol do clube.

Como é que encontrou a equipa feminina do Ouriense quando aqui chegou? Até há quatro anos a equipa feminina de futebol do Clube Atlético Ouriense nunca tinha tido qualquer resultado positivo. Recordo-me que pouco tempo depois de eu ter assumido o cargo de presidente da direcção a capitã de equipa, Mafalda Baptista, me disse que, oficialmente, nunca tinha ganho um jogo. A direcção anterior não ligava ao assunto e não havia qualquer apoio. Muitos achavam que era exótico existir uma equipa de futebol feminina e pensavam que quem fosse aos jogos era mais para mandar piropos às jogadoras do que para ver futebol. Como é que a equipa conseguiu passar a bicampeã nacional em quatro anos? No primeiro ano do nosso mandato, que já começou tarde por causa da crise directiva, não conseguimos ir buscar muitas jogadoras novas mas trouxemos logo um treinador para o nosso projecto. Conseguimos ir à Final da Taça de Promoção e à Taça de Portugal. Não vencemos, mas fomos lá. Nesse ano (2010/11) ficamos em segundo lugar na nossa série mas já conseguimos derrotar a equipa campeã da série. No ano seguinte (2011/12) fomos campeãs da II Divisão Nacional e no ano seguinte (2012/13) conseguimos ser campeãs da I Divisão Nacional, tal como na época passada. Deu vitaminas à equipa? Uma coisa não posso negar: Não havia resultados mas havia amor à camisola. As jogadoras até pagavam uma mensalidade que depois deixaram de pagar. Fomos buscar algumas jogadoras a vários pontos da região para integrarem um projecto de qualidade. Estamos a falar de miúdas com 15, 16 anos que têm muita garra e vontade de singrar numa modalidade que está mais direccionada para os rapazes. E onde é que foram descobrir estas jogadoras? Temos que agradecer ao Centro de Estudos de Fátima (CEF) porque tinha uma equipa de futsal que tinha bons resultados no campeonato escolar. Como algumas delas queriam jogar a nível federado fomos lá buscar duas que nos foram essenciais, a guarda-redes Daniela e a avançada Anita Santos. E depois vieram outras que já tinham estado em Ourém mas que, entretanto, tinham passado para outras equipas. Fomos buscar duas ao Tomar, que acabou com o futebol feminino, e outra a Abrantes. Conseguimos, também, no 2.º ano da nossa existência, ir buscar a Ana Valinho (natural de Fátima) que tinha sido campeã nacional pela União 1.º de Dezembro. Neste momento o plantel é constituído por quantas jogadoras? O plantel sénior tem 22 jogadoras, com uma média de idades de 19/20 anos. A grande maioria reside num raio de 10/15 quilómetros de Ourém mas também temos jogadoras de Tomar e Abrantes e até de mais longe porque, neste momento, temos uma jogadora de Mangualde e outra madeirense a quem damos apoio logístico. São jovens que acalentam sonhos desportivos que muitas vezes só os rapazes podem realizar. Não posso pedir a estas jovens, deslocadas das suas terras, que ainda paguem para cá andarem pelo que asseguramos as despesas com o alojamento e a alimentação. O nosso objectivo é, no mais curto espaço de tempo, pô-las em pé de igualdade com os rapazes em termos de condições. Como é que se alcança este nível de qualidade técnica na equipa? São jovens com muita capacidade física e potencial. Já tivemos vários treinadores e, desde há um ano que, esse trabalho tem vindo a ser desenvolvido pelo Marco Ramos. Penso que elas estão muito motivadas. O que lhes falta agora é passarem à fase seguinte da Liga dos Campeões. O que já alcançamos já não as motiva suficientemente. Este ano conseguimos fazer algo que nunca tinha sido feito em Portugal, que foi passar à fase seguinte da Liga Europeia dos Campeões mas mesmo isso para nós é insuficiente. Pretendemos implementar um projecto de nível internacional em Ourém. Isso consegue-se juntando mais jogadoras de elevada qualidade mas, acima de tudo, aumentando o número de treinos semanais. E têm condições para isso? Neste momento o Campo da Caridade está em obras e têm que treinar em casa alheia... Há semanas em que nem sequer sabemos se podemos treinar porque não temos campo (pausa). São situações desgastantes mas que nos ultrapassam. A realidade é o que é e está à vista de todos. Gasto muita energia com isto tudo. É essa a maior dificuldade com que se debatem actualmente? Sim. Não temos campo desde Junho, nem para treinar nem para jogar, porque se encontram a decorrer obras que são da responsabilidade do município. Andamos todos os dias a mudar e nunca sabemos para onde vamos. Temos 17 equipas de futebol para gerir e movimentamos mais de 300 atletas, a partir dos quatro anos até aos veteranos. As obras já deveriam ter terminado a 15 de Outubro mas o que é certo é que, por motivos diversos, tal não aconteceu. Qual foi o momento mais alto para si enquanto dirigente do Ouriense? Foi a passagem à fase seguinte na Liga Europeia dos Campeões, um feito histórico em Portugal. Claro que ganhar o primeiro título de Campeão Nacional Feminino é um marco que nunca irei esquecer. Ninguém sonhava que uma equipa, recém-chegada da II Divisão Nacional, conseguisse destronar o 1.º de Dezembro que já ganhava o campeonato há 11 anos consecutivos e não perdia um jogo há seis anos e meio. A conquista da Taça de Portugal, no Jamor, também foi um momento que nunca irei esquecer. Estava um número significativo de oureenses no estádio. Foram autocarros cheios para ajudar a fazer a festa que decorreu de uma forma muito espontânea. O objectivo passa apenas por ter uma equipa vitoriosa? Somos mais ambiciosos. Pretendemos que Ourém seja a maior referência nacional a nível do futebol feminino. Queremos abrir uma Academia/Centro de Estágios para futebol feminino em Ourém. É um projecto para o qual já temos ideias concretas mas também sabemos que é algo de grande dimensão e que não depende só da nossa vontade. Qual é a mensagem que faz questão de passar às suas jogadoras? Que tudo é possível, desde que trabalhemos para isso. As jogadoras têm duas pernas, como todas as outras e a bola é redonda. Mas também lhes digo sempre, tal como digo às minhas filhas: nós somos os melhores mas os melhores da nossa rua e na nossa rua não mora mais ninguém. Se vamos lá fora ninguém nos conhece. Por isso sermos campeões não nos subiu à cabeça. Por muito bons que sejamos há sempre alguém que é melhor que nós. Sonhar com jogos internacionais enquanto se anda por campos emprestados A equipa feminina de futebol do Clube Atlético Ouriense foi campeã nacional de futebol feminino, venceu a Taça de Portugal e participou nos dezasseis avos da Liga dos Campeões. Foi um percurso notável de um grupo de atletas jovens e uma aposta ganha pelo clube que decidiu apostar forte naquela vertente do futebol há quatro anos, quando o actual presidente da direcção, João Sousa, ali chegou. O dirigente apostou, desde o primeiro momento, no futebol feminino porque, daquilo que conhecia enquanto responsável da Associação de Futebol de Santarém, reconheceu que ali existia bastante potencial para ser explorado. Não estava enganado. Captou novas jogadoras para o clube, um pouco por toda a região e construiu uma equipa ganhadora. Fundado em 1949 com as modalidades de hóquei e basquetebol, o futebol só chega ao Atlético Ouriense muitos anos mais tarde. Nos últimos cinco anos, a equipa de futebol feminina, constituída por 22 jogadoras com uma média de idade de 19 ou 20 anos, passou das zero vitórias a campeã nacional. Um feito inigualável na história do clube e de uma equipa onde salta à vista o espírito de ambição e conquista. Para trás há muito trabalho, suor e até lágrimas. Depois de alcançar o pódio nacional pelo segundo ano consecutivo, a equipa pretende agora alcançar resultados a nível internacional. Marco Ramos, que ocupa o lugar de treinador há um ano, tenta motivar as jovens que, tal como os restantes futebolistas das várias equipas do Ouriense, têm que andar de campo em campo porque o campo municipal, denominado Campo da Caridade, continua em obras. Um dos sonhos de João Sousa passa por construir em Ourém um centro de estágios para acolher jovens raparigas que pretendam jogar futebol ao nível da competição. Aconteça o que acontecer no futuro a equipa da passada temporada tem um lugar no historial do clube e está colocada em 102º lugar no ranking europeu de equipas femininas.

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