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“Potencial turístico de Santarém é enorme mas não tem sido aproveitado”

“Potencial turístico de Santarém é enorme mas não tem sido aproveitado”

Hugo Cardoso viveu a sua juventude na cidade ribatejana e actualmente dá aulas numa universidade em Vancouver

Professor trouxe 11 alunos do Canadá para desenvolver na cidade ribatejana um projecto-piloto na área da arqueologia. Diz que a cidade não mudou muito desde a sua juventude e defende que o património cultural e monumental da cidade tem que ser mais promovido.

“Santarém tem um património único e muito rico que devia ser melhor aproveitado. O potencial turístico de Santarém é enorme mas não tem sido aproveitado”. A opinião é de Hugo Cardoso, 40 anos, antropólogo, natural de Santarém, e professor na Simon Frasier University (SFU), em Vancouver, Canadá, desde 2013. Hugo Cardoso trouxe 11 alunos da sua universidade até Santarém, onde vão ficar até 11 de Julho, no âmbito de um projecto-piloto que visa criar na cidade ribatejana uma “escola de campo” na área da arqueologia (ver outro texto nesta página).Hugo Cardoso lamenta que Santarém não aposte mais na divulgação turística do concelho. “Estamos a uma hora de Lisboa e muitos turistas vão a Fátima. Quem vai a Fátima também passa por Santarém. Podia, por exemplo, haver cartazes no aeroporto de Lisboa com publicidade sobre Santarém, para os turistas ficarem a saber que existe esta cidade e terem curiosidade em conhecê-la. Esta aposta tem que ser concertada entre a câmara municipal, entidade regional de turismo, associação de comércio local e partidos. Todos têm que fazer parte desta aposta”, considera.O professor universitário dá o exemplo das centenas de turistas estrangeiros que vêm a Santarém visitar a igreja do Milagre, sem que esse fluxo seja devidamente rentabilizado. “Os turistas vêm nos autocarros, visitam a igreja e vão embora sem conhecer o resto da cidade. Isto não pode acontecer”, critica, acrescentando que Santarém tem que perceber que há que investir no turismo. “Santarém tem um património e cultura local muito importantes, que alguns escalabitanos desvalorizam e as pessoas de fora não conhecem. É importante colocar Santarém no mapa do turismo nacional”, reforça.“Requalificação do Largo do Seminário não faz sentido”Hugo Cardoso foi nascer a Lisboa mas viveu em Santarém até aos 18 anos, altura em que ingressou na universidade na capital. Licensiou-se em biologia na faculdade de ciências da universidade clássica de Lisboa. Fez o doutoramento em Antopologia, entre 2001 e 2005, na McMaster University, no Canadá. Regressou a Portugal mas as oportunidades na sua área profissional não eram muitas. Em 2013 surgiu a oportunidade de dar aulas na SFU, em Vancouver. Não pensou duas vezes e agarrou a oportunidade.O professor considera que Santarém está muito parecida com o que era na sua juventude e que há obras que não foram positivas. “Há algumas obras de embelezamento do centro histórico que não fazem sentido como, por exemplo, a requalificação do Largo do Seminário”, diz. Hugo fala também dos espaços de diversão nocturna que, na sua opinião, sempre foram poucos. “Na minha juventude, sempre que me queria divertir com os meus amigos tínhamos que ir para Almeirim ou para o Cartaxo porque Santarém não tinha bares nem discotecas. Havia um ou dois espaços mas não mais que isso”, recorda.A viver em Vancouver há dois anos Hugo Cardoso vai estando a par do que se passa na cidade através dos amigos de infância e juventude. O antropólogo garante que gostou muito de viver em Santarém mas não pensa voltar a viver na cidade. Quando visitou o Canadá pela primeira vez o que mais o surpreendeu foi a largura “enorme” das ruas. “Lá é tudo muito grande, com muito espaço. É a primeira diferença com Portugal que salta à vista”, afirma.Universidade canadiana quer criar escola de campo em SantarémVários alunos da Simon Fraser University, de Vancouver, Canadá, estão em Santarém no âmbito dum projecto-piloto que visa criar na cidade ribatejana uma “escola de campo” dessa universidade, à semelhança das que já existem na Grécia, na Austrália, nas ilhas Fidji, no Pacífico Sul e no próprio Canadá.A ligação da cidade à Simon Fraser University deve-se à colaboração que o arqueólogo da Câmara de Santarém, António Matias, mantém com Hugo Cardoso, professor da Simon Fraser University que viveu durante algum tempo em Santarém. A investigação pretende fazer uma avaliação nutricional da população medieval, a partir do conjunto de esqueletos encontrados num pequeno cemitério muçulmano descoberto durante as obras de renovação de um edifício no centro histórico de Santarém.A comitiva canadiana foi recebida nos paços do concelho pela vereadora do Património Cultural, Susana Pita Soares, que afirmou ser “uma honra recebê-los na cidade para trabalhar, estudar e enriquecer o conhecimento”, acrescentando que o executivo camarário “vê a arqueologia como um domínio de conhecimento científico fundamental, que nos permite conhecer o passado, o presente e preparar o futuro”.Já Hugo Cardoso referiu ser “com muito gosto” que volta a Santarém e ter criado a oportunidade de trazer estudantes da sua universidade e não só, afirmando esperar que “ Santarém ganhe alguma coisa com esta visita”. Diz que está satisfeito com este projecto porque percebe que os seus alunos estão a gostar da experiência. “Para alguns é a primeira vez que saíram do Canadá e esta é uma oportunidade única para todos e que eles estão a aproveitar”, garante. “A riqueza arqueológica de Santarém e os inúmeros trabalhos de investigação que os achados, em particular de ossadas humanas, têm originado, fazem dela um lugar privilegiado para os investigadores de vários ramos das ciências, o que explica o interesse desta universidade de Vancouver, visto que a legislação canadiana não permite a investigação em restos humanos em contexto arqueológico”, considera a autarquia em comunicado.
“Potencial turístico de Santarém é enorme mas não tem sido aproveitado”

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