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“Ainda aparecem pessoas com medo de se sentarem na cadeira do dentista”

“Ainda aparecem pessoas com medo de se sentarem na cadeira do dentista”

Susana Faria, 42 anos, proprietária da Clínica Médica e Dentária Santo António de Bolonha

Licenciada em Medicina Dentária, Susana Faria começou por se inclinar para Direito. Agora diz que não saberia o que fazer se não fosse dentista. Dona de uma energia invejável, lamenta não ter tempo para fazer mais mas não se queixa porque sabe que a escolha foi sua. Diz que consegue ter tempo para a família e que isso é o mais importante. Está na Póvoa de Santa Iria há quinze anos. Gosta de tratar de crianças e diz que ir ao dentista só fica caro porque muitas pessoas não dão muita atenção à higiene dentária. Está a equacionar alargar o horário de funcionamento da clínica para melhor servir a população.

Cheguei a pensar tirar Direito mas acabei por mudar de ideias. Mas vim parar a este ramo um pouco por acaso. Se estamos na escola e somos bons alunos, acaba por ser lógico tirar um curso na área de ciências e foi isso que aconteceu comigo. A medicina acabou por ser uma ideia sempre presente e concretizou-se. Esta actividade tem o privilégio de poder juntar a ciência à arte, o lado humanístico e social. Não sei dizer o que seria se não fosse dentista. Achava Direito muito interessante, mas hoje nem por isso. Ir ao dentista pode ficar caro porque muitas pessoas não dão atenção aos dentes. Sem uma cultura de higiene diária e prevenção. Eu não devia ter de começar uma consulta lavando os dentes da pessoa. Ainda há muito trabalho a fazer nesse capítulo. A má higiene já devia estar resolvida. Assim quando vêm às consultas já é preciso recuperar muitas coisas. Gerir uma clínica dentária é mais do que tratar de bocas e dentes. Temos sempre um pouco de intervenção social. Temos que ser polivalentes. Há pessoas que chegam até nós com dificuldades e torna-se difícil dizer que não. Acabamos quase sempre por ajudar. Ainda se vê muita miséria. Estamos ligados a projectos do Estado, como o cheque dentista, que até considero filantropia, porque os preços que fazemos são ridículos e não pagam os custos. Vou à Terrugem e Carregado, andei pelo Alentejo e estive nove anos em Oeiras. Quando lá estava encontrava muitas pessoas aqui da Póvoa. Já aqui estou há quinze anos. É onde estou há mais tempo. Penso que o próximo passo é trabalhar num horário mais alargado para ir ao encontro dos horários das pessoas. Gosto muito do que faço mas a dedicação obriga a muita cedência. Felizmente ainda tenho tempo para a família e para o trabalho da casa. Claro que tenho pena de não poder fazer mais coisas mas foi esta a minha escolha. Canalizo muita energia para este projecto porque estou no princípio e ainda me falta fazer muita coisa. As crianças aderem muito bem aos tratamentos e eu gosto muito de tratar das crianças. Os adultos já vêm muito formatados. Quando comecei foi com uma certa dose de loucura porque não estava ligada a ninguém do meio. Avancei sozinha e fartei-me de fazer contas mas o empréstimo ao banco já está pago. Quantas vezes tive que fazer e voltar a fazer contas para ver se não me tinha enganado. O empreendedorismo é muito bonito, mas arriscado. Logo no início comecei a ver muitas casas à venda por causa da crise e fiquei assustada. Houve muita gente nessa altura que me vinha pedir emprego. Agora é ao contrário. Preciso de gente e tenho dificuldades em encontrar pessoas daqui. Agora somos eu e uma colega; uma terapeuta da fala; uma nutricionista; uma psicóloga e uma assistente. Ainda aparecem pessoas com medo de se sentarem na cadeira do dentista. Dá-se a volta com muita paciência. Passamos muito tempo a ganhar a confiança delas e a ensiná-las a perder o medo. Eu nunca tive medo, mas lá está, fiz a minha parte e por isso nunca precisei de desvitalizações ou coisas mais dolorosas. Graças à prevenção que faço não vou ao dentista porque não preciso. José Luís Pimenta
“Ainda aparecem pessoas com medo de se sentarem na cadeira do dentista”

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