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“É bom acordar de manhã e ir trabalhar no que se gosta”

“É bom acordar de manhã e ir trabalhar no que se gosta”

Raquel Henriques, coordenadora pedagógica e directora do Centro Social para o Desenvolvimento do Sobralinho

Cresceu em Alhandra e tem saudades dos tempos em que as crianças podiam brincar na rua umas com as outras. Viveu fora de Alhandra algum tempo mas regressou porque gosta da terra e das pessoas. Desde sempre que quis ter uma profissão ligada às crianças. É educadora de infância embora agora tenha outras responsabilidades ao nível da gestão no Centro Social para o Desenvolvimento do Sobralinho. Considera-se uma privilegiada por fazer o que gosta e garante que um bom líder sem uma grande equipa não consegue ter sucesso. Gosta de sentir que todos os dias faz a sua parte para dar um futuro melhor às crianças da instituição. Nos tempos livres dá sempre prioridade à família e em particular às duas filhas.

Durante a minha infância em Alhandra brincava na rua e as pessoas eram o melhor que a terra tinha. Guardo boas memórias desse tempo. Havia muitas crianças. A proximidade do rio também era muito boa, embora naquele tempo o espaço não estivesse tão arranjado como hoje. Quando casei fui viver para o Carregado mas como só lá ia dormir acabei por regressar a Alhandra onde ainda hoje vivo. Não gosto de ver noticiários na televisão porque o que se passa no mundo me entristece. É miséria atrás de miséria. Ainda por cima as televisões exploram os casos mais dramáticos porque acham que é isso que lhes dá mais audiências. É tudo muito negativo. Falta-lhes mostrar o melhor, aquilo pelo qual vale a pena lutar. Sempre quis ter uma profissão ligada às crianças. Ser educadora de infância foi a concretização desse desejo. Já estou no Centro Social há quinze anos. Acabei a faculdade e vim logo trabalhar para aqui. Há seis anos aceitei este desafio de ser a coordenadora pedagógica e não estou arrependida apesar de ser um cargo trabalhoso, sobretudo na parte de organização do pessoal e na criação de estratégias para o centro continuar a crescer e a melhorar em termos de qualidade. O ano passado aceitei outro grande desafio, que foi juntar a essas funções o papel directora, o que acaba por permitir ter uma noção geral da instituição e tentar que as coisas se organizem e funcionem da melhor maneira. Gerir conflitos entre as pessoas é o maior desafio que tenho. Temos uma centena de funcionários e temos que fazer com que tudo corra da melhor maneira. Todos os dias de manhã passo por todas as salas, onde desejo os bons dias e contacto com os mais pequenos. É uma das coisas de que não prescindo. Tentamos fazer o nosso melhor para que os jovens tenham um futuro melhor. Aflige-me muito ver pais a chorar por terem ficado desempregados e não poderem manter os filhos connosco. É uma situação que me preocupa muito, porque infelizmente o desemprego não pára de aumentar. Os miúdos passam demasiado tempo com os jogos de computador e a internet. Também sou mãe e tenho consciência disso. Já não se brinca tanto como antigamente. Aqui tentamos proporcionar-lhes a oportunidade de saberem o que é ser criança. Tentamos que possam brincar uns com os outros, aproveitando a infância. Claro que não vão conseguir brincar como nós brincámos, porque não conseguem ter a liberdade que nós tínhamos. Hoje já não podem ir sozinhos para um parque infantil. Temos de os proteger. A sociedade não permite que estejam tão livres. Hoje estamos muito mais preocupados e alerta para os perigos. Mas acredito que os jovens de hoje vão ter um futuro melhor. Um bom líder sem uma excelente equipa não vai a lado nenhum. É a nossa equipa que faz o nosso sucesso, ninguém alcança o mérito sozinho. Tenho a sorte de ter essa grande equipa comigo e uma direcção fantástica que nutre uma boa relação comigo e permite ter uma boa união para que as coisas funcionem. Confiança, lealdade e muito trabalho são os segredos para o sucesso. Não conto as horas que trabalho por dia porque gosto do que faço. É muito bom acordar de manhã com vontade de ir trabalhar. Sinto-me uma privilegiada por fazer o que gosto. Nunca sonhei estar neste papel e não consigo desligar do trabalho. Levo os problemas para casa. Eles estão sempre comigo. O Centro Social vive comigo 24 horas por dia. Acordo muitas vezes a pensar na forma de resolver determinada situação. As minhas filhas e o meu marido são quem me consome a maioria do tempo sempre que estou livre. Tentamos desligar do trabalho, ir ao cinema, ver sobretudo filmes infantis. Não sei o que é ver um filme para adultos há muito tempo (risos). Gosto de passar os tempos livres em família. Adoro ler mas ultimamente não tenho tido tempo para isso, chego a casa muito cansada.
“É bom acordar de manhã e ir trabalhar no que se gosta”

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