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Jovem com paralisia cerebral conta em livro a história da sua vida

Jovem com paralisia cerebral conta em livro a história da sua vida

Aos 31 anos, apesar de não poder fazer uma vida completamente autónoma, Isaura não se resigna à sua condição e não consegue estar parada. Faz voluntariado e tem na pintura e na escrita duas companhias fiéis.

Isaura Matos tem 31 anos e é um exemplo de determinação, perseverança e luta contra a sua condição. Os pais de “Papoila”, como é conhecida pela família e amigos desde criança, descobriram aos seis meses de vida que a menina era portadora de paralisia cerebral motora. Apesar da limitação, Isaura, que sempre viveu na Golegã, nunca se privou de nada e fez uma vida normal como qualquer pessoa. Foi à escola, trabalhou, tirou a carta de condução, até que aos 24 anos teve problemas graves de epilepsia que a obrigaram a reformar-se e a não poder conduzir mais. Com os dias livres, Isaura começou a escrever as suas memórias desde que nasceu até agora. O ano passado concluiu um livro que escreveu sobre si e na tarde de sábado, 30 de Abril, esteve na Chamusca, na Semana da Ascensão, a dar autógrafos.
Um dos momentos mais importantes da sua vida foi quando passou no exame de condução. Tinha 21 anos. “Muitas pessoas disseram-me que eu não podia nem conseguia tirar a carta de condução. Não foi fácil mas não desisti enquanto não consegui”, conta a O MIRANTE. O livro descreve que foi a sua professora de ensino especial que lhe deu a alcunha de “Papoila” aos cinco anos.
Frequentou a escola primária e prosseguiu os estudos na Escola EB 2,3 Martins Correia, na Golegã, e integrou também o agrupamento de escuteiros da vila. “Durante três anos participei em 80 por cento das suas actividades. A minha função era cozinhar uma vez que eu gostava muito de o fazer e sabia. Aos sábados tínhamos reunião na sede para combinarmos acampamentos ou fins-de-semana de apoio à sociedade e à paróquia. O meu acampamento preferido foi quando fizemos um raid de sobrevivência desde a Golegã até à localidade de Praia do Ribatejo. Eram 50 quilómetros a pé e eu achava que não conseguia devido às minhas dificuldades. Achei que seria mais sensato ir de carro com os chefes. No entanto, um dos meus amigos, que sabia que eu tinha muita vontade de os acompanhar, levou um carro para bebés para quando eu me sentisse cansada poder sentar-me e ele conduzir-me. Acompanhei-os até ao fim e foi uma experiência incrível”, recorda no seu livro.
Também fez parte do Rancho Folclórico da Golegã e foi nessa altura que visitou países como Inglaterra e Itália e concretizou o sonho de conhecer o Vaticano e ouvir o Papa João Paulo II. Terminou o 9º ano e durante as férias de Verão trabalhou sempre nas piscinas da Golegã através do Instituto Português da Juventude. A sua função era dar as senhas aos utilizadores do espaço mas havia sempre tempo para se divertir e brincar na piscina. Uma das suas paixões é a pintura e o desenho, que costuma praticar nos tempos livres.
Foi estudar Informática para a Escola Profissional do Entroncamento e nesse Verão conheceu o seu primeiro namorado. “Estava em Inglaterra com o rancho quando me contaram que tinha sido admitida na escola do Entroncamento. Fiquei muito feliz porque estudar ali permitiu-me conhecer pessoas novas e um mundo novo”, recorda. Entretanto, deixou a escola e começou a trabalhar. A sua mãe abriu um café, a que deu o nome de Papoila, e Isaura começou lá a trabalhar até ao seu encerramento alguns anos depois.
Nunca baixou os braços e procurou outro trabalho. Encontrou-o no Centro Social e Paroquial da Golegã. Aos 24 anos, a sua vida sofreu um revés ao diagnosticarem-lhe epilepsia que a tornou dependente de terceiros, algo que Isaura não queria que acontecesse. Após meses de recuperação no Hospital de Dia de Tomar, Isaura voltou para casa e começou a fazer voluntariado na Santa Casa da Misericórdia da Golegã. Nos tempos livres dedica-se à pintura e às suas memórias que resolveu colocar num livro para mostrar que, apesar das adversidades e obstáculos, todos somos capazes de tudo.
No livro de Isaura existem alguns poemas escritos pela própria:
Papoila é a nossa flor/Flor que nos junta/
Agora está a tentar separar-nos/Mas nunca vai acontecer
Porque a nossa Papoila/Nunca vai morrer
Há gente que eu não tenho saudades/Mas há uma pessoa
De que eu tenho muitas/Essa é a minha Papoila!.

Jovem com paralisia cerebral conta em livro a história da sua vida

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