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“Sou uma pessoa realista que gosta de ser surpreendida pela positiva”
Maria Margarida Franco

“Sou uma pessoa realista que gosta de ser surpreendida pela positiva”

Maria Margarida Franco, 35 anos, notária, cartório de Azambuja

Maria é uma pessoa que prefere o campo à cidade. É do Ramalhal, Torres Vedras, mas encontrou em Azambuja uma terra de gente acolhedora pela qual se apaixonou. Quando era pequena sonhava ser advogada mas ao longo do curso preferiu dedicar-se a outras vertentes do Direito, como o administrativo. Gosta de dedicar os tempos livres à família e a viagem diária para casa serve-lhe como bálsamo para conseguir desligar do trabalho.

Gosto muito do campo talvez porque tive uma infância muito ligada a ele. Já morei na cidade quando estudava. Mas se me perguntarem se prefiro as inovações e as vertentes culturais de uma cidade ao som dos pássaros no campo, prefiro os pássaros. Quando quiser cultura vou à cidade, tenho a vantagem de estar perto. Habituei-me a ir à horta buscar uma alface ou à macieira buscar uma maçã e ter um jardim com animais. É outra qualidade de vida.

Não gosto do movimento nas cidades, dos carros, das buzinas. Quando vivia em Lisboa às sete da manhã já tinha buzinas à janela do sétimo andar. Nessa vertente Azambuja é excelente, tem comboio, as pessoas conseguem estar na cidade em meia hora e há aqui uma óptima qualidade de vida. A minha zona, Oeste, é húmida, inconstante e ventosa. Aqui estamos relativamente perto da capital e Azambuja sabe receber muito bem, as pessoas são muito simpáticas.

Vivo no Ramalhal e venho para Azambuja todos os dias. A viagem ajuda-me a desligar e a espairecer a cabeça. É longa e a estrada não é muito fácil mas como gosto de conduzir até passa rápido. É o meu momento de desligar. Pode parecer desagradável e inconveniente trabalhar longe de casa mas ajuda-me a fazer o clique e a ter o meu momento de introspecção. Consigo desligar do trabalho quando chego a casa porque tenho um filho pequeno e dedico-me a ele. Mas às vezes já estou a dormir e acordo quando me lembro de algum processo e de alguma solução para resolver determinada situação.

No dia-a-dia temos de ter os valores básicos de qualquer ser humano, como o respeito, seriedade e reserva. Por volta dos 12 ou 13 anos comecei a querer enveredar pela advocacia. Tenho um famoso episódio na escola do qual alguns professores se lembram, em que fiz o julgamento do lobo mau e do capuchinho vermelho. Eu era a advogada do lobo e tinha provas para o absolver. Preparei-me afincadamente para esse julgamento, foi muito giro. Eu levava aquilo muito a sério. Depois de fazer a licenciatura em Direito acabei por meter de parte a advocacia e tomei o gosto pelo Direito administrativo, a relação entre o poder e os particulares, não tanto o direito que nos leva à barra.

Os meus tempos livres gosto de dedicá-los à familia. Gosto de passear ao ar livre, ir à praia, parques verdes, andar de bicicleta. Por enquanto ainda consigo conciliar o trabalho com o facto de ser mãe. Gosto muito de viajar mas a minha viagem de sonho ao longo dos anos tem-se alterado. Já tive anos em que quis fazer um safari em África, outros em que queria ir um mês para a Austrália mas neste momento a minha viagem de sonho seria com a família a um sítio com praia, calor e muito descanso. Para poder desfrutar.

Ainda não apanhei nenhum susto na Estrada Nacional 3. Mas tenho o perigo de tal forma presente que vou vendo que há bermas, paragens de autocarro e sinais que num fim-de-semana desaparecem ou vão ficando destruídos, sinal de que vão havendo acidentes. O perigo anda ali à espreita. Devia haver mais rotundas para facilitar os acessos e deviam fazer algo para minorar os riscos naquela zona.

Não sou capaz de me afastar do telemóvel. Sou contra telemóveis mas desde que fui mãe sinto uma maior dependência dele. Mas lembro-me bem de quando comecei a utilizá-los e lembro-me que éramos mais felizes sem eles. Os telemóveis contribuíram para a falta de pontualidade dos portugueses. A conversa do “estou a chegar” não acontecia antigamente. Éramos mais livres sem os telemóveis.

Ninguém passa fome lá em casa mas confesso que não sou grande cozinheira. Sou uma pessoa muito organizada e gosto de ter as coisas minimamente planeadas. Já saí de madrugada de casa para poder ver o nascer do sol. Devemos ter um pouco de espontaneidade e improviso na nossa vida mas na vertente profissional gosto de ter as coisas organizadas e estruturadas. Em casa isso também é bom, para nos permitir ter momentos de descontração. Tudo com conta, peso e medida.

Comecei a viver sem redes sociais e não me faziam falta. Têm algumas vantagens se forem bem utilizadas e com conta, peso e medida. O problema é que passámos do 8 ao 80, ainda se assiste a muitos de nós vidrados com as redes.

Sou uma pessoa realista e optimista. Não gosto de me iludir e esperar muito, prefiro não ter surpresas desagradáveis. A crise ainda não acabou. Já passou a fase pior mas noto que as pessoas ainda não se sentem tão à vontade como antes. Temos de ter raciocínio para ver onde as coisas vão dar. Ainda vamos demorar um bocadinho a voltar ao que éramos antes.

“Sou uma pessoa realista que gosta de ser surpreendida pela positiva”

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