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“Para ser taxista não basta saber conduzir”
Adérito José é um dos mais jovens taxistas do concelho de Benavente

“Para ser taxista não basta saber conduzir”

Adérito José é taxista no concelho de Benavente há dois anos.

Motorista fala em deslealdade entre colegas e da perda de serviços com seguradoras de saúde e acidentes no trabalho que oferecem metade da tarifa legislada. Diz que a ANTRAL deve defender mais os interesses da classe e que o município deve ter um papel fiscalizador mais atento no que respeita às condições de segurança e higiene nessa profissão.

Chamar um táxi por telefone ou através da internet sobrepõe-se cada vez mais à ida até uma praça de táxi, quando falamos de aldeias, vilas e até cidades de pequenas dimensões e sem grande movimento comercial. “Tem de existir mobilidade”. A opinião é de Adérito José que escolheu levar a vida ao volante quando tinha apenas 21 anos e se fez motorista de pesados. Natural de Coruche, hoje com 44 anos, é taxista há dois anos com registo na freguesia da Barrosa, concelho de Benavente.
Adérito José diz que na profissão de taxista “não basta saber conduzir” e que é preciso preencher um conjunto de condições que dignificam a actividade. “A condução deve ser defensiva, mas há que dar importância a factores como a segurança e higiene no trabalho, quer no que toca ao veículo quer a nós próprios; saber abordar o cliente e tirar ilações sobre o seu comportamento e prestar o auxílio que ele necessita durante todo o serviço”, refere.
Como diz, os anos de actividade são curtos mas suficientes para ter percebido que no “mundo dos táxis, a deslealdade entre colegas é enorme”. Adérito José diz não entender a razão, até porque “os contingentes estão definidos em cada concelho”, ou seja, se chega um novo taxista é “porque um outro abandonou a actividade”. No concelho de Benavente existem 14 táxis divididos pelas quatro freguesias. O de Adérito é único na freguesia da Barrosa, o que não o impede de fazer serviço em qualquer parte do país.
Na sua óptica, a Câmara Municipal de Benavente devia ter um papel mais fiscalizador, pois “não basta a inspecção anual”, para apurar a qualidade do veículo no serviço. Adérito José fala em táxis que podem andar sujos e que em nada dignificam a profissão. Critica ainda as seguradoras que oferecem metade do valor de tarifa legislado (0,47 cêntimos por quilómetro) e que cada vez mais é obrigado a negar esses serviços, porque “não dão para a despesa”.

“Temos de saber ouvir os piropos”
A O MIRANTE, garante que é apaixonado pelo que faz e que a sua ambição nunca passou por ser taxista numa grande cidade, por gostar da “interacção e proximidade com o cliente”. É dos mais jovens taxistas do concelho, mas põe em prática o cavalheirismo à moda antiga, como sair do carro para abrir a porta a quem entra e sai. Atitude que já lhe valeu alguns piropos, de mulheres mais atrevidas. “Uma senhora disse-me que se fosse mais nova casava comigo”, diz. Como reagiu? “Com naturalidade, pois pode tratar-se de uma tentativa de avaliação do nosso trabalho. Temos de saber ouvir os piropos e responder com educação. Por norma não se trata de assédio, nem devemos levá-lo para esse campo”, apregoa.
O táxi imaculadamente apresentável é lavado por fora todos os dias e aspirado no interior sempre que necessário. “Arejado e perfumado”, como gosta de o manter, o carro foi comprado novo há apenas um ano, para substituir o primeiro que teve ao serviço, “um Mercedes com 30 anos e um milhão de quilómetros”. Apesar de nunca o ter deixado ficar mal na estrada, “faltava-lhe o silêncio e o conforto” que tem a actual viatura, explica.
Adérito diz ser homem reservado e que nunca puxa conversa, a menos que seja o cliente a fazê-lo. Aí entra no diálogo onde se partilha um pouco de tudo “O tempo é sempre o primeiro tema de conversa” e depois vai-se partilhando um pouco da vida ou de alguma notícia do dia. Mas segue a política de “o que se conversa no táxi fica no táxi”.
Para o taxista de Benavente, com os Uber, Cabify e outras plataformas de transporte, o táxi corre o risco de se perder no tempo, se a ANTRAL não inovar no modo de actuação e defender os seus industriais. Ainda assim é positivo, ao acreditar que “há mercado para todos” e que “vai haver sempre quem prefira o táxi tradicional”, pelo “apoio e acompanhamento que um taxista pode dar ao cliente”.

“Para ser taxista não basta saber conduzir”

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