uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
“As colectividades e associações são as universidades do povo”
Carlos Pernes assume-se como um homem de esquerda

“As colectividades e associações são as universidades do povo”

Carlos Pernes é presidente da Assembleia-Geral dos Bombeiros de Samora Correia. Carlos Pernes nasceu em Samora Correia e guarda boas memórias da infância. Tendo vivido um terço da sua vida em ditadura não esquece o Portugal desses tempos e as dificuldades por que as pessoas passavam. Tem um percurso reconhecido na vida local enquanto autarca e enquanto dirigente associativo. Aos 22 anos foi o mais novo presidente da Sociedade Filarmónica União Samorense. Gosta de ler e escrever e, aos 65 anos, ainda pratica karaté diariamente.

Não passei fome quando era criança mas a maioria das pessoas do meu tempo passou muito mal. Era uma vida dura. Havia fome e desemprego e o trabalho era ocasional e sobretudo na agricultura. Tenho boas memórias da infância mas comecei a trabalhar aos 16 anos. Sou contabilista certificado e a minha vida sempre foi esta. Ainda hoje trabalho por conta própria nesse ramo.
Entrei no associativismo cedo e aos 22 anos tornei-me presidente da Sociedade Filarmónica União Samorense (SFUS). Fui o mais novo presidente da história daquela colectividade. Sempre me envolvi muito na vida da comunidade. Também estive ligado à fundação do teatro experimental de Samora. Depois comecei a fazer crónicas numa rádio. Em 1994 fui eleito como autarca pela CDU e fiz cinco mandatos, dois deles como presidente da Assembleia Municipal de Benavente.
As colectividades e associações são as universidades do povo. São uma escola de bons princípios e democracia. As classes mais desfavorecidas têm muito a ganhar com as associações. Aqui ainda somos uma zona rural apesar da proximidade com Lisboa. Só se tem a ganhar ao participar no associativismo. Nunca esperei receber nada em troca pelo meu envolvimento no associativismo. No dia em que as direcções sejam remuneradas isso será tudo menos associativismo, no limite será um emprego no Estado. Perde-se o espírito de dar em troca de nada.
Guardo boas memórias da política mas também algumas desagradáveis. Já fiz a minha catarse. Não digo que não voltarei à política mas não sei se seguiria os mesmos caminhos. Sou um homem de esquerda. Conheço bem o Carlos Coutinho (Presidente da Câmara), que é meu familiar mas gosto mais dele como pessoa do que como presidente. Para mim palavra dada terá de ser sempre honrada.
Quando estou a fazer alguma coisa não consigo parar. Gosto de ler e escrever e estou a terminar o meu quinto livro. Dois deles já foram editados e os restantes estão à espera de luz verde das editoras. Sobre o novo acordo ortográfico acho que não vale a pena remar contra a maré. Os nossos autores foram responsáveis pela alteração à nossa escrita. Foram além do que deviam ter ido em certas palavras. Mas também é verdade que havia consoantes a mais em algumas palavras. A escrita é evolutiva como a humanidade e não sou fundamentalista. Já estou a escrever na nova grafia. Mas já fui mais radical do que sou hoje. Considero-me agora mais tolerante.
Sou praticante de artes marciais e continuo a aperfeiçoar o karaté. Todos os dias pratico e sou cinturão preto. Gosto de me distrair com isso e aliviar a cabeça. Já fiz em parte a minha viagem de sonho, à Itália. Há dois anos fui de Umbria à Sicília. Agora quero conhecer Florença e a parte norte daquele país.
Irrita-me a hipocrisia em que as pessoas dizem uma coisa e depois fazem outra. Gente que faz grandes elogios pela frente e depois nas costas espeta facas. A hipocrisia é o pior defeito da humanidade.

“As colectividades e associações são as universidades do povo”

Mais Notícias

    A carregar...