Morreu Arquimedes da Silva Santos, figura maior do neo-realismo
Era o último dos escritores neo-realistas vivos. Médico, poeta, escritor e ensaísta, era uma figura maior da cultura do concelho de Vila Franca de Xira.
Morreu domingo, 8 de Dezembro, em Lisboa, aos 98 anos, Arquimedes da Silva Santos, especialista em neuropsiquiatria infantil, poeta, escritor, ensaísta e um dos maiores rostos do movimento neo-realista português e do concelho de Vila Franca de Xira. Um homem sem meias palavras, que dizia o que pensava e que completou 98 anos em Junho.
O autor de obras como “Plinto” ou “Cantos Cativos” passava os seus dias num lar em Lisboa depois de em 2018 ter aparecido pela última vez em público, já visivelmente debilitado pela idade, para a inauguração de uma exposição bibliográfica sobre o seu percurso, no Museu do Neo-Realismo, espaço de cultura do qual foi um dos grandes impulsionadores.
Foi também em 2018 que recebeu o título de doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa. Já antes recebera, pela Presidência da República, em 1998, a comenda da Ordem do Infante Dom Henrique e em 2001 a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública.
Cidadão antifascista, preso político torturado, era um homem que se confessou várias vezes multidimensional, com intervenção nas áreas cívica, política, artística, científica e educativa. Nasceu na Póvoa de Santa Iria em 1921 e frequentou escolas em Estarreja e Ourém. Fez o 1º ano do liceu em Santarém e foi depois viver para Vila Franca de Xira.
Contactou com grupos de outros poetas, artistas e escritores, como Alves Redol, Bernardo Santareno, Garcez da Silva, Júlio Graça, Bona da Silva, Fernando Namora, Fernando Lopes Graça, Eduardo Lourenço e João José Cochofel. Criou grandes laços de amizade e cumplicidade com Alves Redol, tendo honrado essa memória lutando pela criação de um Centro de Documentação e Investigação do Neo-Realismo, acabando por ser, em 1988, membro fundador da Comissão Instaladora do Museu do Neo-Realismo e, dez anos depois, vice-presidente da Assembleia-Geral da Associação Promotora do museu.
Arquimedes da Silva Santos morreu sem ver instituído um prémio literário concelhio com o seu nome, como o município anda a estudar há vários anos, mas esteve presente na inauguração de uma estátua em sua honra na Póvoa de Santa Iria em 2009.
O MIRANTE foi um dos últimos jornais a realizar uma grande entrevista de vida com o autor, na sua casa, que vale a pena ler ou reler. Nela Arquimedes confessava que se dependesse do dinheiro que ganhou como médico durante a sua vida hoje andaria a pedir esmola.