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“Sou um privilegiado porque sou pago para fazer aquilo que gosto”
Sérgio Paulo começou a dar treinos ao ar livre no jardim de São Bento, no centro de Santarém

“Sou um privilegiado porque sou pago para fazer aquilo que gosto”

Sérgio Paulo, 42 anos, chegou a Santarém aos 19 para jogar futebol. Licenciou-se em Desporto no primeiro curso de licenciatura em Rio Maior e a sua vida sempre esteve ligada à actividade física. Depois de mais de uma década à frente da direcção técnica de um ginásio e health club da cidade decidiu dar o salto e aventurar-se por conta própria nos treinos outdoor. Restart Now é o nome do projecto que pretende trazer o desporto à rua, mais concretamente ao jardim de São Bento.

Nasci num bairro social de Coimbra e lá cresci com todas as vantagens e desvantagens que isso implica. Não renego as minhas raízes e posso afirmar que as vantagens falaram mais alto. Tornei-me uma pessoa resiliente e aprendi a seguir os meus sonhos. Sei que sou capaz de começar do zero e não tenho medo de arriscar.
Vim para Santarém com 19 anos para jogar futebol no União de Santarém. Estudei em Rio Maior, onde fui pioneiro na licenciatura em Desporto. Na parte final do curso já trabalhava em alguns ginásios e comecei também a dar aulas de natação no complexo aquático, em Santarém, onde permaneci 12 anos. Depois foram surgindo outras oportunidades na área do desporto e do fitness.
Pratiquei futebol federado desde os 12 anos e cheguei a profissional. A área do desporto e do treino esteve sempre presente no meu dia-a-dia. Tentei aliar esse gosto pessoal à profissão. Sou um privilegiado porque sou pago para fazer aquilo que gosto. Estou ligado à área do fitness há mais de duas décadas. Fiz a direcção técnica de um ginásio e health club durante mais de dez anos. Ali coordenava também a parte de hidroginástica, personal trainers e aulas de grupo.
Saí recentemente desse emprego para abraçar um projecto meu: os treinos outdoor. Uma ideia que surgiu durante a pandemia. Tive que gravar alguns vídeos para aulas online e estava cansado de o fazer tendo como fundo quatro paredes. Pensei criar uma imagem mais saudável e decidi “ocupar” o jardim de São Bento. Algumas pessoas que passavam pelo jardim perguntavam se também podiam treinar. Quem treinava comigo no ginásio também me começou a abordar. Estavam fartas dos treinos online e questionavam se havia possibilidade de virem também para o jardim treinar.
Actualmente tenho cerca de duas dezenas de pessoas a treinar com grupos já formados. As aulas começam às 07h30 e acabam às 20h00. Criei aqui um nicho de mercado. A minha vertente de treino nada tem a ver com a parte muscular. É um treino funcional em que os exercícios são adaptados às exigências do dia-a-dia como subir um lance de escadas, esticar uma perna, calçar um sapato. Tentei ao máximo criar treinos em que se dá uso ao peso do corpo.
Estão a aparecer cada vez mais miúdos que praticavam modalidades que foram canceladas. Quem vive perto começou a ver as aulas e a dar-me os parabéns por ter vindo dinamizar um jardim que há mais de 20 anos não tinha qualquer actividade. Alguns dos moradores começaram também a vir treinar e disponibilizaram as suas casas para guardar material se fosse necessário. O objectivo é crescer e fazer um movimento que inclua também crianças.
Desde o desconfinamento que se nota um aumento de pessoas na rua a praticar actividade física. É uma das coisas boas da Covid. Fazer as pessoas mexerem-se e assim melhorar o sistema imunitário. Os ginásios abriram recentemente, mas frequentar um espaço desses tem agora uma série de burocracias e trâmites que vêm complicar a vida dos utentes. Há que medir a temperatura à entrada, desinfectar as mãos, levar duas toalhas, só se pode tirar a máscara para treinar, os treinos são limitados a uma hora e, até há pouco, não se podia tomar banho no balneário.
Temos que saber aproveitar ao máximo os recursos da cidade. Quando as condições atmosféricas não permitirem o treino ao ar livre tenho em vista uma alternativa. Por enquanto não posso adiantar muito, posso só assegurar que está a ser tratado. Já tivemos um dia de chuva em que fomos treinar para o coreto do Jardim da República. Há sempre soluções.
O nome para este novo projecto será Restart Now, recomeçar agora. Numa altura em que nos estamos a reinventar, em tudo, desde as relações familiares às laborais, entendi que seria importante reinventar a minha profissão. Com 42 anos, não me vejo até à idade da reforma confinado a um ginásio. Criei também uma página no Instagram onde divulgo as actividades: out_training_restartnow.
Tenho a guarda partilhada do meu filho Gustavo, de 9 anos. Ele tem-me acompanhado nestes treinos porque está sem escola. É uma área que ele também gosta. Quando estava no ginásio era mais complicado levá-lo para o trabalho.
A área desportiva está um pouco abandonada na cidade. Todos os jardins deveriam ter estruturas de apoio à actividade física. Temos a Escola Prática de Cavalaria que era o sítio ideal para criar um circuito de manutenção ou um centro de treino, por exemplo, uma vez que há camaratas para receber equipas.
É triste perceber que cheguei a Santarém aos 19 anos e a única coisa que foi feita relacionada com a minha área foi um complexo aquático. A cidade tem muito potencial, mas não faz sentido que os espaços existentes estejam todos dispersos. Devia haver uma centralização, como acontece em Rio Maior.

“Sou um privilegiado porque sou pago para fazer aquilo que gosto”

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