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Nos tempos que correm ser velho parece ser um crime
Daniel Gomes Ferreira é um rosto conhecido de Santo Estêvão e um homem com um passado vasto no movimento associativo de Benavente

Nos tempos que correm ser velho parece ser um crime

Daniel Nunes Ferreira tem 78 anos, é presidente do Centro de Bem Estar Social de Santo Estêvão e um homem que ainda trabalha e que diz com orgulho nunca ter metido um dia de baixa. Rosto conhecido de Santo Estêvão, fala do futuro com preocupação e tem orgulho no seu passado enquanto dirigente associativo no concelho de Benavente.

Hoje em dia ser velho é quase como cometer um crime, considera Daniel Nunes Ferreira, 78 anos, presidente do Centro de Bem Estar Social de Santo Estêvão (CBESSE), concelho de Benavente. Lamenta que muitos idosos sejam postos de lado e marginalizados pela sociedade pelo simples facto de serem velhos. “Não nos podemos esquecer que foram pessoas que antes de nós deram o seu melhor para que nós cá pudéssemos estar e ter a vida que temos”, defende.

Daniel Ferreira é um rosto conhecido de Santo Estêvão e do associativismo do concelho de Benavente. É uma pessoa altamente exigente com a pontualidade e a honestidade. Humildade e dedicação ao outro são outros valores pelos quais pauta a sua vida. Nasceu em Santo Estêvão e ainda ali vive e trabalha. Em tempos foi um dos principais impulsionadores pelo desenvolvimento daquela aldeia. Começou a trabalhar aos 14 anos na área dos cavalos de desporto acompanhando, tratando e montando vários exemplares.

“Fui acompanhante de Calouste Gulbenkian filho e acompanhante da condessa de Barcelona, uma mulher extraordinária. Era um emprego de luxo, fazia o que gostava e viajava muito. Devo ter andado de avião mais de 30 vezes”, recorda. Aos 30 anos ligou-se à agricultura e à pecuária, ramo onde ainda está, trabalhando todos os dias. Diz com orgulho que desconta cada cêntimo para o Estado. E fá-lo por dois motivos: incapacidade para estar parado em casa a ver o correr dos dias e por amor à esposa, que sofre de esclerose lateral amiotrófica e precisa de bastante apoio.

“A minha mulher não fala e já não anda, não a quero meter em nenhum estabelecimento. Tenho três pessoas que se revezam para lhe dar assistência. Os médicos deram-lhe alguns meses de vida mas é uma resistente e já vai com onze anos a conviver com a doença”, revela. Foi amor à primeira vista, confessa Daniel, que se casou com ela quando esta tinha 16 anos e ele 19. “Se fosse hoje era acusado de ser pedófilo mas gostámos logo um do outro”, brinca.

Nunca meteu um dia de baixa

Orgulha-se de nunca ter metido um dia de baixa na vida, nem mesmo depois de uma operação à coluna. “O médico disse que eu não precisava. Agora é ao contrário. Conheço pessoas que tiram baixa por qualquer motivo. Infelizmente hoje em dia os médicos oferecem as baixas”, regista.

Foi dirigente do Grupo Desportivo de Santo Estêvão durante 13 anos e o homem que construiu a sede do clube. Depois foi presidente do Grupo Desportivo de Benavente, da Associação dos Bombeiros Voluntários de Benavente e ainda fez “biscates de político”, como o próprio diz, enquanto vereador do PSD e como independente na Câmara de Benavente.

Quando foi desafiado para ficar à frente do CBESSE a instituição estava para fechar. “Havia uns 15 idosos e deviam dinheiro a toda a gente. Em cinco minutos arranjei uma direcção para pegar nisto. Estou cá há 24 anos. Agora quero ir embora e não aparece ninguém”, lamenta. Durante a gestão das suas direcções modernizaram o espaço e criaram melhores condições para os utentes do centro de dia, creche e ATL. A instituição garante também apoio domiciliário. “Já trouxe a este centro de dia personalidades nacionais, desde arcebispos, deputados, ministros, secretários de Estado e até o anterior Presidente da República, Cavaco Silva”, conta.

Daniel diz que a pandemia foi grave não apenas para os idosos e suas famílias mas sobretudo para as instituições. “Se não houver cuidado grande parte destas associações vai ter de fechar”, teme. Tem orgulho no trabalho da instituição que acompanha os mais velhos e lhes garante-lhes alimentação em condições e higiene pessoal. A sua profissão de sonho era piloto de aviões. “Enquanto puder ser útil aos outros, para poder ajudar o mais possível, é o que espero continuar a fazer”, conclui.

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