uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
A estabilidade familiar é determinante  para o bom desempenho escolar
A porta do gabinete de António Pedro está sempre aberta para quem com ele quiser falar

A estabilidade familiar é determinante  para o bom desempenho escolar

António Pedro, 54 anos, é o director do Agrupamento de Escolas Vale Aveiras, no concelho de Azambuja. Natural de Almeirim fez-se professor há 28 anos. Já leccionou em oito escolas e foi director em quatro, entre Santarém e os Açores. Diz que os professores têm vindo a perder autoridade e a confiança dos encarregados de educação. É filho de pais separados e sentiu na pele o que é ter de dividir-se entre duas casas. Uma experiência de vida aliada à profissional que o leva a dizer que 90 por cento dos alunos com dificuldades de relacionamento e aprendizagem vivem problemas no seio familiar.


Sou filho de pais separados e isso levou a que tivesse uma infância muito instável. Vivi entre os arredores de Lisboa e Almeirim, de onde sou natural. O cheiro e o sabor da caralhota quente com manteiga e açúcar fazem-me recordar a minha infância.
Aos 17 anos quis tornar-me independente e concorri para cabo especialista na Força Aérea Portuguesa. Uma semana antes do juramento de bandeira senti que não era ali o meu lugar e desisti para me tornar professor.
Os meus professores foram muitas vezes o meu pilar e isso influenciou a minha escolha. Davam-me a estabilidade que não tinha em casa. A estabilidade familiar num aluno é determinante para o bom desempenho escolar. Mais de 90 por cento dos alunos que têm dificuldades na aprendizagem e em estabelecer relações saudáveis na escola têm problemas em casa. Passar por uma separação após 28 anos de casamento fez-me perceber que na vida nada é para sempre. Vivi com a minha família na casa dos meus sonhos. Tive de encerrar esse ciclo e recomeçar.
Quero chegar aos 60 anos com um novo sonho concretizado. Construir uma nova casa em Almeirim e desfrutar cada vez mais da companhia dos meus dois filhos. Nunca vou deixar que sintam a minha ausência. Sinto-me mais homem do campo do que da cidade. Gosto de mexer na terra e da relação de proximidade que existe nas pessoas dos meios rurais. Não gosto da indiferença e distanciamento que se vive nas grandes cidades.
Um professor é como um treinador de futebol. Nas bancadas qualquer um opina e sugere modelos de jogo diferentes. Connosco passa-se o mesmo, o nosso trabalho é tão exposto que qualquer pai acha que teria um melhor método de ensino. A autoridade de um professor tem vindo a perder-se e somos cada vez mais criticados pelos encarregados de educação. É incompreensível como se respeita e confia num médico e se põe em causa o trabalho de um professor.
Há falhas no ensino português e uma delas é exigir-se um trabalho demasiado burocrático aos professores. Com tanta papelada falta o tempo para se estabelecer a relação entre professor e aluno. Fui dos mais jovens professores a ser director de uma escola. Leccionei um ano na Escola Secundária de Salvaterra de Magos e fui eleito para o cargo. Tornou-se um vício, mas desengane-se quem pensa que quem ocupa este cargo o faz por dinheiro.
Atrevo-me a dizer que pago para exercer este cargo. Ganho mais 150 euros no ordenado que nem chega para pagar o combustível e portagens que gasto num mês de Almeirim a Aveiras de Cima. Gostava de terminar a minha carreira como professor. A mala de couro com que comecei a dar aulas está guardada à espera desse dia. Ser director é um cargo desafiante e de muita exigência, mas sinto falta de ensinar.
A porta do meu gabinete está sempre aberta no sentido literal. Falar comigo não pode ser algo extraordinário ou que exija grandes burocracias. Falando numa linguagem militar nem sou general nem coronel nem major, quanto muito sou um bom capitão. Sou do terreno e nesta vida profissional como director gosto de pôr novas ideias em prática. Não tenho medo de mudar o que está instituído e para haver mudança basta haver vontade.
Arrependo-me de ter sido candidato a presidente de junta de Azóia de Baixo há cerca de 10 anos. É normal arrependermo-nos de algo que já fizemos. Não tenho perfil para político e só essa curta experiência conseguiu trazer-me inimizades para a vida.
Pratiquei muitos desportos e por isso talvez nunca tenha sido bom em nenhum. Fui dos primeiros a jogar hóquei patins nos tigres de Almeirim. O primeiro jogo, foi ao ar livre e choveu granizo. Não foi fácil manter o equilíbrio. Faço uma corrida de cerca de 10 quilómetros todos os dias. Uma vez inscrevi-me numa prova em Almeirim. Achei que ia fazer a caminhada de cinco quilómetros e acabei a correr 23. O esforço foi tal que até as unhas dos pés me caíram, mas cheguei ao fim.
Sou um homem de regras. Sou incapaz de sair de casa sem fazer a cama e lavo sempre a loiça depois da refeição. A roupa, os meus livros, tudo tem que estar organizado. Não sou pessoa de desistir, mas gostava de ser mais ponderado. Nos momentos de grande pressão gostava de ter mais auto-controle. Tenho o vício terrível de não desistir enquanto não alcanço os meus objectivos. Deito-me muitas vezes com o trabalho.

A estabilidade familiar é determinante  para o bom desempenho escolar

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido