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“Ser presidente de junta foi mais um desafio que consegui superar”
A completar o segundo mandato na junta de Alpiarça, Fernanda Cardigo pode concorrer a mais um, mas diz que ainda não pensou nisso

“Ser presidente de junta foi mais um desafio que consegui superar”

Fernanda Cardigo, 51 anos, é presidente da Junta de Freguesia de Alpiarça desde 2013. Antes disso integrou várias listas, mas pedia sempre para não ficar em lugares elegíveis porque não queria descurar o acompanhamento dos filhos. Quando ambos cresceram aceitou o desafio e confessa que questionou as suas próprias capacidades para exercer o cargo. Hoje é uma mulher realizada e segura de si. Voltou aos estudos, é cuidadora informal da mãe e tem como foco concluir o mandato e superar a crise criada pela Covid-19.


Nasci em Alpiarça, de onde é oriunda toda a minha família. Na infância passava muito tempo com os meus avós que eram seareiros. Faziam searas de melão em Vila Franca de Xira. Saíam daqui em Abril e assentavam arraiais em Vila Franca. Só regressavam no início de Setembro, depois da safra.
Assim que começavam as férias grandes ia ter com eles e passava lá todo o Verão. Ajudava-os e também recebia um dinheirinho. Alpiarça ficava um pouco deserta durante o Verão, os miúdos acompanhavam os pais ou para Vila Franca ou aqui nos campos dos arredores. Quando voltava, em Setembro, ainda ia com os meus avós fazer praia, normalmente para a Consolação, perto de Peniche.
Fiz o 12º ano incompleto no liceu de Santarém. Depois comecei a trabalhar e casei e só mais tarde acabei por completar o secundário em Almeirim. Tinha a ideia de trabalhar num escritório. Também pensei seguir a área de saúde, mas na passagem do 9º para o 10º ano as minhas amigas convenceram-me que matemática e físico-química eram disciplinas muito difíceis e acabei por optar por humanidades, apesar de o meu forte ser a matemática.
Trabalhei em várias áreas, desde uma vacaria, a um clube de vídeo, até ir parar ao escritório de uma empresa de construção civil e obras públicas, em Alpiarça. Ali fiquei durante 14 anos. Era um trabalho que me realizava. Estava ligada aos recursos humanos, ajudava na contabilidade e tratava do processamento dos salários.
Sempre dei o melhor nos cargos que já ocupei. O meu primeiro trabalho foi numa vacaria. Trabalhei lá seis meses até que o chefe me perguntou, ‘gosta de trabalhar aqui não gosta?’ Respondi-lhe com sinceridade que não era aquilo que queria fazer para o resto da vida, mas se era o meu trabalho fazia o melhor que podia. Trabalhava com tal brio que ele pensou que eu realmente gostava daquela função. Foi uma experiência que não esqueci.
Tentei incutir aos meus filhos a importância da formação académica. Não vale a pena ir logo trabalhar para passados 10 anos estarmos a ganhar o mesmo. Actualmente estou a fazer uma licenciatura em Gestão Turística, vou para o terceiro ano. Era uma coisa que gostava de ter feito antes e acabei por não fazer.
A política surgiu por acaso. Integrei várias listas, mas pedia sempre para não ficar em lugares elegíveis. Os meus filhos eram pequenos e fiz questão de os acompanhar em todas as actividades. Ambos praticaram triatlo, o que me absorvia todo o tempo.
Quando os meus filhos cresceram surgiu o convite para encabeçar a lista à Junta de Freguesia de Alpiarça. De início fiquei assustada e questionei se teria capacidade para exercer o cargo, mas tive muito apoio e tem corrido bem. Foi mais um desafio que consegui superar. A experiência de vida ajudou-me muito mais do que as habilitações académicas.
Estou no segundo mandato, comecei em 2013. Posso fazer mais um, mas ainda não pensei nisso. O foco é concluir o actual mandato da melhor maneira e superar esta crise criada pela Covid-19.
Além da presidência da junta e dos estudos sou cuidadora informal da minha mãe. Vive comigo há seis anos, desde que foi diagnosticada com uma demência próxima do Alzheimer. Voltar aos estudos tem também como objectivo estimular a mente e tenho tido bons resultados.
Gosto de morar no campo e quando nos mudámos tivemos uma surpresa gira. Um dia saí de casa de manhã e deixei a roupa estendida. Quando regressei ao fim do dia tinha a roupa apanhada e dobrada e uma dúzia de ovos à porta. Surpresa de uma vizinha. Ali as pessoas são mais chegadas umas às outras. Vivi na vila até aos 30 anos e agora estou há 21 no lugar do Casalinho.
O trabalho e a família fazem-me feliz. Há ainda outra coisa que me dá felicidade: poder ajudar quem precisa. Temos tido alguns casos aqui na freguesia e lembro um que me tocou especialmente. Construímos uma casa de banho a uma senhora que, com 70 anos, nunca tinha tido uma casa de banho. Com um gesto tão simples conseguimos melhorar-lhe a vida. São situações que marcam mais do que por exemplo a oferta de cabazes alimentares, que também fazemos. Uns dias depois acabam os alimentos e volta a necessidade.
Sou optimista e acho que com calma conseguimos chegar a bom porto. Temos que ser conscientes e seguir regras, mas sem medos e sem alarmismos. No início da pandemia foram tempos complicados na gestão da freguesia. Confesso que não dormi nas primeiras noites porque não sabia o que fazer, não havia orientações e a própria Direcção-Geral de Saúde não tinha respostas.
Temos dado o nosso melhor e adaptámo-nos. Exemplo disso foi o “Há Festa na Minha Rua” que ganhou novos moldes e passou a ser feito numa carrinha. Convidámos artistas locais que actuaram para o público que vinha à janela. Agora parece banal, com muitas actividades destas a decorrer em todo o país, mas na altura, início de Maio, fomos pioneiros. Foi muito gratificante ver a alegria nos olhos das pessoas.

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