uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
“Cada vez se critica mais e participa menos no associativismo” 
Vítor Silva ligou-se desde a juventude à vida associativa da cidade vilafranquense

“Cada vez se critica mais e participa menos no associativismo” 

Vítor Silva, 54 anos, é presidente da mesa da assembleia da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca de Xira

É vilafranquense de gema, nascido e criado no coração da cidade. Está a cumprir o primeiro mandato como presidente da mesa da assembleia da Misericórdia de Vila Franca de Xira. Lamenta que a ligação das pessoas ao associativismo esteja a morrer. É tradicionalista na forma de vestir e confessa-se ambicioso. Diz que hoje se vive pior em Vila Franca de Xira do que há 30 anos e que faz falta uma mudança.

Deixei de fumar aos 40 anos depois de o meu pai ter falecido com cancro no pulmão. Não se morre aos 65 anos e eu não queria ter o mesmo fim por causa do vício que me acompanhou durante 25 anos.
Sou um aficionado pelo trabalho. Não passo muito tempo em casa e não tenho horário. Não se chega onde se quer na vida a trabalhar oito horas por dia. Para se ter sucesso pessoal ou profissional tem de se ter ambição. Não pode ser vista como algo negativo. Sou ambicioso e não tenho vergonha de o dizer.
Sem ter um curso superior consegui atingir todos os meus objectivos profissionais. Comecei como estagiário comercial até chegar a director comercial regional da Allianz. Actualmente acho muito improvável um jovem fazer um percurso similar ao meu sem ter uma licenciatura.
Há anos que visto fato todos os dias. Se me dissessem que tinha de ir trabalhar de fato-de-treino não ia sentir-me bem. Acredito que a forma como nos vestimos ajuda a causar uma boa impressão.
Perder a memória é das coisas que mais temo. A minha é de elefante, apesar de anotar todos os afazeres numa agenda em papel, porque sou metódico. Gosto de ajudar os outros e sou muito agradecido a todos os que me ajudaram na vida. Sei que peco por falar muito e ser teimoso. Defendo as minhas causas, mas com a idade tornei-me mais flexível.
Reconheço à Misericórdia a sua dimensão no contributo que dá à economia social da cidade. Quando o provedor, Armando Jorge, me fez o convite para ocupar o lugar de presidente da mesa da assembleia aceitei logo.
Procurei desde a minha juventude ligar-me às associações da cidade. Sou fundador do Grupo de Jovens Católicos e sou sócio do União Desportiva Vilafranquense, do União Artística Vilafranquense, dos Bombeiros da cidade, da Liga dos Amigos do Hospital, do Núcleo Sportinguista e da Misericórdia.
Assusta-me o futuro do associativismo. As pessoas cada vez criticam mais e participam menos. Nenhuma instituição vive sem sócios ou dirigentes. E o que se vê é que tem havido nos últimos anos uma queda abrupta no número de sócios.
O Estado tem que ter uma postura mais séria. Não se pode limitar a despejar dinheiro nas instituições e achar que os problemas ficam resolvidos. As instituições para idosos precisam de ser repensadas no futuro.
Nasci na casa dos meus tios, em Vila Franca de Xira, com a ajuda de uma parteira. Não fui um parto fácil. A minha mãe jurou que nunca mais teria um filho em casa. A infância foi passada na rua, a brincar, numa altura em que a cidade ainda fervilhava de gente.
Sou do tempo em que havia divisão por género na escola e se usava uma bata branca que chegava sempre suja a casa. Só depois do 25 de Abril é que comecei a ter meninas na minha turma, na antiga escola do Bacalhau que é a Escola Básica Álvaro Guerra.
Sempre vivi a Feira de Outubro com muita intensidade até começar a trabalhar. Passava os dias nas esperas de toiros e a andar nos carrosséis. À quinta-feira toda a cidade se juntava para comer frango assado.
Hoje vive-se pior em Vila Franca de Xira. Transformou-se numa cidade velha no edificado e envelhecida na sua população, sem atractividade para os jovens. Os vilafranquenses estão a deixar morrer a cidade. As pessoas agarram-se muito à cor política e esquecem-se que foram eleitas para defender os interesses da população. A cidade precisa de uma mudança e têm de ser os eleitos, seja à esquerda à direita ou ao centro, a fazer com que aconteça.
Acredito que todos podemos contribuir para ter uma cidade melhor. Não me vejo a entrar a fundo na política, mas tive a minha dose. Fui presidente da JSD e eleito pelo PSD na Junta de Vila Franca de Xira. Depois de uma paragem, em 2018, voltei a integrar a comissão política concelhia.
O Sporting é uma grande paixão. Não poder ir ao estádio ver um jogo de futebol, por causa da pandemia, deixa-me imensa saudade. Sou sócio fundador do Núcleo Sportinguista de VFX e presidente da assembleia geral.
Tenho uma filha com 22 anos e sou casado há 27. A minha família é o meu pilar. Não conseguiria estar longe dela e por isso nunca deixei de morar em Vila Franca, mesmo quando trabalhava na margem sul do Tejo.
Se a minha vida acabasse amanhã faltaria pela primeira vez ao trabalho. O dia seria seguramente passado com a minha família. Não tenho por hábito falar do meu passado. Ter esta conversa ajudou-me a revivê-lo. Há muita gente que me conhece, mas são muito poucos os que conseguem juntar todas as minha peças e montar o puzzle completo.

“Cada vez se critica mais e participa menos no associativismo” 

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido