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“O Tejo é a pérola desta região e não tem sido potenciado”
António Godinho acumula dois trabalhos, consultoria informática e a gestão da Carpintaria Mário

“O Tejo é a pérola desta região e não tem sido potenciado”

António Godinho é proprietário da Carpintaria Mário Lda., em Vale de Cavalos, concelho da Chamusca, desde 2012, quando o pai faleceu. Desde miúdo que as férias eram passadas a trabalhar na carpintaria a moldar a madeira ao gosto dos clientes. A empresa foi criada na década de 80 e está de pedra e cal.

Cresci a brincar na charneca à beira Tejo. A minha infância foi passada em Vale de Cavalos, a brincar na rua. Nada parecido com agora. Tenho 46 anos e recordo ainda as minhas brincadeiras com amigos de infância. As crianças de agora, daqui a 20 anos não terão o que lembrar. Não vão brincar para a rua, quase não fazem amizades e passam a infância em frente a um telemóvel ou um tablet.
Licenciei-me em Informática de Gestão mas o meu sonho era ser piloto. Não sei de onde surgiu essa fixação. Sei que tinha essa vontade, mas há 30 anos, com a falta de informação que havia, principalmente nas pequenas aldeias como Vale de Cavalos, havia a ideia de que esta era uma profissão inatingível. Algo totalmente errado. Não me sinto menos capaz para poder ter seguido essa área.
Tenho que trabalhar noites e fins-de-semana para gerir o negócio que o meu pai me deixou. Trabalho numa empresa na área da banca, desde 2002, em consultoria informática. Foi lá que iniciei a minha carreira. Em 2012, quando o meu pai faleceu, ainda ponderámos se continuávamos com a empresa, porque vínhamos de uma fase de crise, entre 2008 e 2012. Mas a família quis fazer jus ao trabalho dele e acabámos por continuar com a Carpintaria Mário. Sou sócio-gerente e acumulo dois trabalhos. Não tenho fins-de-semana, invisto aqui muito do meu tempo, depois de sair do emprego. É mais difícil ainda porque trabalho e resido em Póvoa de Santa Iria.
Sempre tive curiosidade em perceber como funciona um computador. Quando era adolescente houve um senhor, o Vítor Costa, que puxou muitos jovens para esta área em Vale de Cavalos. Na altura, previa-se que seria uma área com muita saída a nível profissional. Tirei o curso no ISLA, em Santarém, e sempre trabalhei na área.
Com a pandemia de Covid-19 o nosso negócio cresceu. Ao contrário do que pensámos, este ano sentimos um crescimento de pedidos de orçamento e de trabalhos contratados, quer a nível empresarial, quer de particulares. As pessoas estiveram mais tempo em casa e quiseram mudar algumas divisões, como a cozinha, um dos espaços onde passaram mais tempo durante o confinamento. Procuram mobiliário mais funcional.
Não gosto de conduzir em localidades pequenas, prefiro o trânsito de Lisboa. Pode parecer ridículo, mas para quem está habituado ao trânsito de Lisboa, conduzir por exemplo na Chamusca é enervante. Todos andam a passo de caracol, param para se cumprimentarem, parece que andam a passear. Em Lisboa já sabemos com o que vamos contar e estão todos apressados a correr para o mesmo lado.
Gosto de vir a Vale de Cavalos para ter um pouco de sossego. Vale de Cavalos pouco evoluiu desde que saí daqui. Mas isto é um problema transversal às aldeias localizadas mais no interior do país. A Chamusca tem feito uma coisa positiva que é a defesa das tradições, mas não se admite estar de costas viradas para o Tejo e isso é um erro muito grande. A pérola desta região é o Tejo, a charneca e isso não tem sido potenciado. Mas quem diz a Chamusca, diz outros concelhos vizinhos e até mesmo a capital de distrito, Santarém, não tem tido projectos de valorização do rio.
Gosto muito de viajar, fiquei fascinado com a Tailândia. Foi uma viagem que me marcou pela beleza do país, mas também porque ia em lua-de-mel. A última viagem que fiz foi às Filipinas. Em Portugal, gosto muito de alguns recantos do Algarve. E a zona da Arrábida é uma pérola em bruto.
Não consigo desligar o telemóvel quando estou de férias. É impossível. Tenho que estar sempre contactável, acima de tudo por causa da carpintaria porque tomo, diariamente, dezenas de decisões, mas também pela empresa em que trabalho. Não estou descansado se tiver o telemóvel desligado.

“O Tejo é a pérola desta região e não tem sido potenciado”

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