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“A pandemia mudou o ensino para sempre” 
Maria David dá explicações presenciais e online em simultâneo

“A pandemia mudou o ensino para sempre” 

Maria David é responsável pela Academia dos Muito Bons, um centro de estudos em Alverca do Ribatejo que se adaptou aos desafios que a pandemia trouxe ao ensino.

Na semana que antecipa um novo estado de emergência, Maria David, começa a manhã a dar explicações de matemática a três alunos do sexto ano. Apenas um está sentado na sala do centro de estudos que gere em Alverca do Ribatejo. Os outros dois acompanham-na via online. “A pandemia vai passar, mas mudou o ensino para sempre”, começa por dizer a O MIRANTE, defendendo que “esta nova forma de ensinar resulta e é para continuar”.
Em sala, desde que puderam retomar as explicações presenciais, não estão mais de quatro alunos, passando a ser a partir de casa que muitos acompanham as suas explicações. Este novo modelo não só permitiu a Maria David, como aos restantes seis explicadores da Academia dos Muito Bons, continuar a dar apoio aos residentes em Alverca do Ribatejo, como alargar a sua acção para locais como Samora Correia, Azambuja, Lisboa, Arruda dos Vinhos e Cacém.
“Aprendi muito com os meus alunos desde Março, quando a pandemia chegou”, diz, explicando que foram eles que a ensinaram a trabalhar com plataformas digitais e redes sociais, que agora usa para ensinar as matérias. Reconhece, no entanto, que ao nível da aprendizagem os alunos que não tinham as ferramentas adequadas ficaram prejudicados e têm sido precisas revisões extra. Consequentemente, a procura por ajuda individualizada aumentou.
Maria David começou por dar explicações de matemática quando tinha 16 anos, depois de interromper o ensino secundário porque “o que fazia falta era ganhar dinheiro”. A mesma necessidade atrasou o seu ingresso no Politécnico de Santarém, onde entrou aos 29 anos para tirar a licenciatura em gestão empresarial. Nessa altura trabalhava em simultâneo como administrativa na OGMA e já era mãe de uma das suas duas filhas. O estudo era feito exclusivamente na viagem de comboio de Alverca a Santarém.
Foi a chegada da segunda filha e a necessidade de a ajudar com os estudos que a levaram a abrir em 2005 a Academia dos Muito Bons. Mas a sua paixão pelo ensino apareceu muito cedo na sua vida. Aos sete anos, entusiasmada pelo facto de saber ler e escrever, quis acabar com o analfabetismo na família e ensinar as letras e os números à avó e à tia. “Aprenderam muito pouco, mas consegui ensinar-lhes o básico e pô-las a assinar o nome”, recorda. Mais tarde, ajudou a sua mãe a concluir 2º ciclo do ensino básico.

O problema da matemática e os ritmos de ensino
Actualmente, uma das suas missões no ensino é fazer com que os alunos deixem de ver a matemática como um bicho de sete cabeças, até porque, defende, não o é. “O problema da matemática é que quando se começa a não perceber perde-se o entusiasmo e o caminho. E depois é muito complicado voltar a gostar da disciplina”, diz, considerando ser importante que com os números e as equações haja acompanhamento individualizado.
A explicadora vinca que os alunos não são todos iguais nem aprendem da mesma forma. É por isso que o ritmo da escola não consegue colocar todos no mesmo patamar de aprendizagem e conhecimento. “Aqui temos a possibilidade de trabalhar com os alunos de formas completamente diferentes, porque uns aprendem melhor a fazer exercícios, outros precisam que lhes expliquemos a matéria três vezes de formas distintas, e os que aprendem à primeira precisam de continuar a ter estímulos para não desmotivarem”.
Por outro lado, reconhece, “ser professor é muito ingrato porque o trabalho administrativo é muito pesado e não lhes sobra tempo para conhecer melhor os seus alunos e ir ao encontro das suas necessidades específicas”. É por isso que deixou cair o sonho da sua juventude e optou por se manter como explicadora e formadora.
Maria David, 53 anos, é natural de Beja e vive em Alverca do Ribatejo desde os três anos. É proprietária da Academia dos Muito Bons, onde dá explicações de matemática e inglês. Em Lisboa dá formação das mesmas disciplinas a adultos e pessoas com necessidades educativas especiais.

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