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Uma mulher que sabe vender o seu peixe
Adelaide Pratas não esconde o orgulho no negócio onde investiu todas as poupanças

Uma mulher que sabe vender o seu peixe

Começou a trabalhar aos 12 anos para ajudar a alimentar a família e o sonho de um dia poder ter o seu negócio. Adelaide Pratas gere há 25 anos a sua peixaria de congelados, em Aveiras de Cima. O negócio é tradicional mas a pandemia acrescentou-lhe as encomendas pela Internet.

Na peixaria Adelaide, em Aveiras de Cima, a máquina de corte de peixe é posta a trabalhar para cortar em postas um rabo de pescada do Chile. “Está bom assim?”, pergunta à cliente. Adelaide Pratas, 62 anos, é peixeira e dona do seu negócio há 25 anos. Aos 12 começou a trabalhar como doméstica em casas de “gente rica”, em Lisboa. Passou pela agricultura, foi vendedora de peixe e voltou às limpezas, sempre com “o sonho de um dia abrir o próprio negócio”. Em 1995, por sua conta e risco, acabou por abrir no mercado diário uma pequena peixaria de congelados. Afinal, “já tinha passado anos a lidar com o peixe” e queria pôr de novo em prática essa experiência.
Às duas centenas de variedades de peixe e mariscos meticulosamente organizados nas arcas frigoríficas, Adelaide Pratas junta a sua boa disposição. “Gosto do que faço, sabe? E gosto de toda a gente. Os meus clientes são fiéis e têm-me ajudado muito”, diz para justificar o riso constante. E todos os dias entram na peixaria pessoas de todas as idades. “Agora, com a pandemia, só dois de cada vez e com as devidas distâncias. Aqueles que têm menos tempo para esperar, encomendam online e vão buscar à hora combinada”, conta.
Adelaide Pratas e o marido, José Pratas, que a ajuda no negócio, sabiam que com a chegada da pandemia tinham que se modernizar e adaptar. Podiam simplesmente ter ficado de portas abertas, mas com as encomendas evitam filas e reduzem a probabilidade de contágio. Além disso, poupam tempo, algo cada vez mais escasso na vida de alguns dos seus clientes.
Quando não há clientes para servir, Adelaide limpa as arcas e, numa divisão à parte, senta-se a fazer tricô. As pernas já se cansam mais e nunca teve férias. “É que ficar doente não conta. Mas é este ano que tiro uns oito dias e vou passear”, atira. Depois, acrescenta que não sabe estar parada: “Vim de uma família pobre e eu, a mais velha de quatro irmãos, fui aos 12 anos trabalhar para ajudar. Não havia escolha, tinha que fazer o que os pais mandavam”, conta.

“Sou muito exigente com os meus fornecedores”
Diz-se uma mulher sem manias, mas não esconde o orgulho no seu negócio, onde investiu todas as poupanças. Ajuda a escolher o melhor peixe, dá sugestões para o cozinhar e corta-o à medida do cliente. É uma mulher que sabe vender o seu peixe, mas que também ajuda quem precisa com um avio de oferta na época do Natal.
Na peixaria fazem-se avios para o mês, mas também se compra uma porção de lulas para o almoço, já que tudo é vendido avulso. Segundo as estatísticas da vendedora, “a maior parte dos clientes procura um bom peixe, não escolhe o mais barato”. A pescada do Chile a anzol, a maruca do Chile e a garoupa, os mais caros que tem na loja, continuam a vender-se bem. O que não se vende nesta peixaria, ressalva, é banha da cobra. “Sou muito exigente com os meus fornecedores, se não me agrada vai devolvido. Uma vez trouxeram-me um camarão seco. Quando me apercebi fui a casa da cliente que já tinha comprado, trouxe a caixa e levei-lhe outra em condições”, conta.

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