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“Por vezes perdemos um bom técnico para ganhar um mau licenciado”
Martinha Duro chegou à Escola Técnica e Profissional do Ribatejo em 2006 para leccionar Português e assumiu a direcção há 11 anos

“Por vezes perdemos um bom técnico para ganhar um mau licenciado”

Martinha Duro, 45 anos, é directora pedagógica da Escola Técnica e Profissional do Ribatejo.

Martinha Duro candidatou-se a um lugar de professora de Português no Colégio Infante Santo e só quando chegou a Tremês percebeu que afinal a vaga era para a Escola Técnica e Profissional do Ribatejo. Apaixonou-se pela escola e assumiu a direcção pedagógica há mais de uma década. Outras das suas paixões são a leitura e os convívios à mesa com conversas prolongadas a discutir um livro ou um poema.

Sou de Pombal e vivo em Leiria, mas neste momento tenho o coração em Santarém. Depois de ter enviado currículo para uma série de escolas chamaram-me para aqui em 2006. Fui ver no mapa onde ficava Tremês. Achei que não era assim tão longe e resolvi experimentar. Subo e desço a Serra de Aire e Candeeiros todos os dias. Tenho a sorte de poder observar a paisagem e contemplá-la. Adoro o Ribatejo.
Sou genuinamente feliz aqui. Pensei que vinha leccionar no Colégio Infante Santo [que partilhava instalações com a Escola Profissional], mas quando cheguei percebi que era para a Escola Técnica e Profissional do Ribatejo. A verdade é que me apaixonei pelo ensino profissional, por esta escola, pela região e pelas pessoas.
Antes de chegar à escola profissional dava aulas de português no ensino secundário. Formei-me em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Franceses, na Universidade de Coimbra.
Não é muito bonito dizer isto, mas quando cheguei tinha um bocadinho o preconceito em relação ao ensino profissional. Depois de estar aqui apercebi-me das vantagens deste ensino e percebi quão errada é a ideia de que os alunos não querem saber de literatura nem de falar bem português. Percebi que tinha a oportunidade de fazer uma coisa que gostava muito: cumprir um programa sem o peso do programa. O meu papel é formar pessoas.
Tenho alunos que saem da aula a declamar Fernando Pessoa e que vão para casa pesquisar mais sobre o autor. Isso é incrível. Há alunos de humanidades que não têm esse interesse. Falamos tanto de escola inclusiva e de ensino inclusivo, não há ensino mais inclusivo que o profissional. Tem a mais-valia de podermos potenciar as capacidades de um aluno brilhante, sem desapontarmos um aluno que não quer prosseguir os estudos.
Por vezes perdemos um bom técnico para ganhar um mau licenciado. Precisamos de todas as profissões. No ensino profissional os alunos podem experimentar uma profissão para perceberem se gostam ou não. Não há profissões menores. Cada vez mais precisamos de mão-de-obra especializada e a formação é o caminho.
É preciso estimular o gosto pelo conhecimento. Depois de adquirido ninguém nos consegue tirar o que aprendemos. Quando conseguirmos fazer perceber isso revolucionamos o ensino. Podemos inventar milhares de estratégias pedagógicas e tecnológicas, mas se não estimularmos o gosto pelo conhecimento não valem de nada.
Sou directora desde 2010. Voltei a apaixonar-me, adoro ser directora e trabalho com uma equipa incrível de cerca de 40 professores. Ajudava o director anterior, Gonçalo Pereira, e quando ele saiu surgiu o convite que aceitei.
Os meus passatempos preferidos são a leitura e o cinema. Também gosto de viajar e tenho saudades disso. Gostei muito da Noruega, país organizado, limpo e calmo. Não destaco nenhuma viagem pela negativa. Em todas tiro algo de positivo, sou daquelas pessoas que vêem sempre o copo meio cheio. Tenho muita curiosidade em conhecer o Japão, sobretudo o interior. Prefiro os destinos culturais. Não sou fã de praia. O sol é bom para estar numa espreguiçadeira a ler um bom livro.
Não sou muito de demonstrações de afecto, mas gosto de pessoas e tenho saudades do abraço. Também sinto falta dos convívios à mesa. Das conversas prolongadas com os amigos a discutir um livro ou um poema. Sou apaixonada por poesia e gostaria de ter feito um recital no Dia Mundial da Poesia.
Como é que os miúdos vão encarar o futuro? Só daqui a uns tempos teremos a verdadeira noção dos danos. Com a pandemia estou preocupada com o que os alunos estão a perder na escola, mas mais preocupada com o que estão a perder a nível pessoal. Os pais estão tão embrenhados nos seus problemas que não os conseguem deixar de lado para dar um bocadinho de atenção aos filhos. Há pais que perderam os empregos... .

“Por vezes perdemos um bom técnico para ganhar um mau licenciado”

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