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“Com os filhos em casa os pais começaram  a valorizar o papel do professor”
Dora Morgado é presidente da ADIC de Samora Correia há dois mandatos

“Com os filhos em casa os pais começaram  a valorizar o papel do professor”

Dora Morgado, 56 anos, presidente da ADIC de Samora Correia


É natural de Alcácer do Sal mas foi em Samora Correia que se sentiu em casa e é a terra que já chama sua há três décadas. Dora Morgado, um rosto conhecido na cidade ribatejana, é professora de português na escola básica e secundária João Fernandes Pratas, eleita da Assembleia Municipal de Benavente pelo PSD e presidente, há dois mandatos, da ADIC – Associação de Desenvolvimento Integrado da Criança. Diz que a felicidade se encontra todos os dias nas pequenas coisas, detesta a mentira e sonha conhecer o norte da Europa depois de ler os policiais daquelas terras. Ser professora, diz, é um desafio acrescido em tempos de pandemia.

Gosto de crianças, mas não me apetece voltar atrás e ser criança novamente. Acredito que cada momento tem o seu tempo próprio e já tive o meu. Mas não vivo sem as minhas recordações. Uma das coisas que melhor me caracteriza é ainda ter amigos de infância e da adolescência com quem falo regularmente. Na minha idade a única coisa que me chateia é o estado do esqueleto (risos). Sou professora de português há 30 anos na escola básica e secundária de Samora Correia. Sou de Alcácer do Sal, mas fui morar aos oito anos para Vila Franca de Xira. Como os meus pais construíram casa nos Arados (Samora Correia) acabei por vir para cá e não estou nada arrependida.
Ser samorense é algo que não se explica: sente-se. Gosto muito de morar em Samora Correia. Fui muito bem recebida pelas pessoas da cidade e é mesmo muito bom viver aqui, porque temos imensa qualidade de vida. As pessoas são muito extrovertidas, muito aguerridas e lutam imenso pelos seus direitos. Juntam-se para fazer as coisas acontecerem. Gosto disso. Apaixonei-me totalmente por Samora e já a considero a minha terra. Também gosto das pessoas de Benavente e Santo Estêvão, claro, mas identifico-me mais com as gentes de Samora.
Dar aulas de português é uma grande paixão. Se não fosse professora seria uma pessoa muito infeliz. Consigo viver o melhor dos dois mundos, a minha paixão pelos livros e o ensino. E tento passar essa paixão aos meus alunos. A pandemia veio dar aos professores um papel diferente. Com a ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues começámos a ser muito depreciados na opinião pública e as pessoas começaram a não respeitar o professor. Antigamente o professor e o padre eram as pessoas mais importantes da terra. Aos poucos fomos perdendo esse estatuto. Curiosamente os pais começaram a valorizar-nos mais desde o início da pandemia quando tiveram que lidar com o facto de terem os filhos em casa. Perceberam que nem sempre é fácil lidar com eles. Passámos a ser mais acarinhados e compreendidos pelos encarregados de educação. Isto apesar de eu não ter razões de queixa.
A ADIC foi fundada em 2002, tem sete colaboradoras e presta apoio a 131 crianças do primeiro ciclo ao sétimo ano de escolaridade. Acompanhamos as crianças desde as sete da manhã até ao final do dia quando os pais as podem vir buscar. Aqui podem fazer os trabalhos de casa, jogar, ver televisão e desenvolver várias actividades. Os nossos utentes a tempo inteiro podem também frequentar nas férias diversos ateliês, participar em visitas de estudo, acampamentos e outras iniciativas. A ADIC tem um papel fundamental na comunidade e as pessoas de Samora Correia reconhecem-nos esse papel. Connosco os miúdos desenvolvem aqui essas competências. E muitas vezes também recebemos alunos sinalizados pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens. A ADIC já esteve pior. Não somos uma associação para fazer dinheiro e por isso vivemos das mensalidades dos nossos utentes. O nosso objectivo é apoiar a comunidade. As receitas vão dando para os gastos. Felizmente não estamos com a corda na garganta.
O mundo muda de hora a hora. Em Janeiro de 2020 não tinha dúvidas que havia muita coisa boa nos nossos alunos e acreditava que eles podiam fazer um mundo melhor no futuro. Agora tenho muito receio que possamos estar a transformar completamente uma série de gerações ao deixar de lhes incutir na escola valores tão fundamentais como a partilha e solidariedade. A escola era o local por excelência para isso e aqui na associação tentamos continuar esse trabalho. O nosso principal objectivo são os utentes, depois os colaboradores, que são quem dá alma a esta casa e com quem os miúdos estão todos os dias. Gostava de fazer deste espaço um ateliê de educação pela arte. Neste momento estamos a apelar à comunidade que nos ajude consignando parte do IRS, através do NIF 505335689. É gratuito e permite-nos renovar equipamentos que precisamos.
Tira-me do sério a mentira e as pessoas que usam os outros para subir na vida. Não consigo lidar com isso, sinto-me extremamente irritada e como não estou na idade de fazer fretes, às vezes sou desagradável e digo o que me apetece. Já tenho os cabelos brancos que me permitem fazer isso. Tenho sempre sonhos e eles vão mudando e crescendo. Acredito que a felicidade está nas pequenas coisas. Não somos felizes 24 horas por dia, somos felizes nos pequenos momentos do dia, por exemplo quando vemos o sol aparecer depois de um dia de chuva.
Leio religiosamente a Visão e o O MIRANTE. São as publicações que não dispenso e das quais sou assinante. Deixei de ter paciência para os telejornais e assim consigo ter as melhores informações do país e da região, no caso de O MIRANTE. Tenho o sonho de poder ir conhecer a Suécia e Noruega. São países que me interessam bastante. Sobretudo depois de ter começado a ler policiais nórdicos.
Sou eleita na Assembleia Municipal de Benavente e gosto de poder ajudar a resolver os problemas. Fui eleita pelo PSD depois de ter sido a cabeça-de-lista à assembleia nas últimas autárquicas. Já levo 12 anos de política local enquanto eleita da assembleia municipal. A dada altura senti necessidade de interromper esse percurso e fiquei quatro anos afastada. Entretanto voltei neste último mandato. O que gosto na política autárquica são as pessoas, lidar com as suas necessidades e anseios e tentar ajudar a resolver os problemas. A política nacional não me seduz minimamente. Mas da local gosto muito. Mesmo sabendo que estou num concelho tipicamente CDU dou-me lindamente com todos os autarcas, comunistas e socialistas, respeito todos e acho que eles me respeitam também.

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