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“É urgente valorizar a escola porque o que ela nos dá socialmente é um bem maior inestimável”
Mário Santos Director do Agrupamento de Escolas de Benavente

“É urgente valorizar a escola porque o que ela nos dá socialmente é um bem maior inestimável”

Somos todos seres complexos e diversos. A profissão é uma parte importante da vida, mas claramente não é “a” nossa vida.

O exercício do cargo trouxe-me, sobretudo, uma consciência global do todo, de um todo que vai para além dos muros da escola, mas que afecta toda a comunidade educativa, inclusive por vezes para além do nosso país, no que concerne aos projectos internacionais. Descobri em mim uma capacidade de ouvir e de comunicar (que ainda precisa de ser desenvolvida), que é essencial para cumprir o cargo.

A minha primeira motivação prendeu-se pela aprendizagem individual que esta função nos traz. Junto a esta, um acreditar que o Agrupamento de Escolas de Benavente tinha um potencial e uma capacidade de transformação da sociedade a médio - longo prazo, sobretudo na comunidade educativa em Benavente. Após 4 anos constatamos esta afirmação, e a motivação mantém-se, embora individualmente, motiva-me impulsionar o processo gradual de descentralização da decisão da acção para as várias lideranças intermédias.

O conhecimento académico é fundamental para o sucesso de qualquer empresa que esteja assente em conhecimento. Contudo, a atitude crítica construtiva, a atitude de eterno aprendiz que ouve as várias partes, a capacidade em comunicar e sobretudo a capacidade de se rodear e colocar as pessoas certas, no local certo e no momento certo, são fundamentais. Mais que o conhecimento académico que procuro atingir (de momento estou a finalizar o Mestrado em Educação na Universidade de Lisboa), a capacidade em encontrar parceiros e estabelecer pontes entre ideias e realidade fazem toda a diferença.

No caso da escola não podemos procurar a nossa equipa mais próxima fora do nosso contexto escolar. A escola é, aliás, das únicas organizações em que o director não recruta os seus colaboradores ou quando o faz é em situações muito concretas e transparentes. Dentro desta limitação, algumas das lideranças são escolhidas pelos pares e não directamente pelo director. Dada esta situação há que conhecer bem os nossos colaboradores, estabelecer relações de proximidade e analisar o seu currículo e experiência.

Gostaria de dizer que os meus braços direitos são todos os colaboradores da escola, embora aqueles que me estão mais próximos sejam pessoas que escolhi e que tiveram a amabilidade em aceitar este desafio exigente (pessoal e profissionalmente), e quer ao longo dos últimos 4 anos, quer os que actualmente me acompanham de perto têm feito um trabalho exemplar. Destaco a Cristina Silva, a Alexandra Ferreira, a Filomena Teixeira, o Pedro Carromeu e a Paula Cabrita na primeira equipa de direcção que me acompanhou. Destaco a Rosa Teixeira, a Manuela Barreiros, a Luísa Subtil, a Cláudia Martins e a Sónia Machado nesta segunda equipa. Além desta equipa mais próxima, muitos mais haveria a destacar, sem os quais o nosso sucesso não teria sido possível.

Nas últimas décadas socialmente temos desvalorizado a acção da escola na sociedade e esta tornou-se menos apelativa. Não é uma questão local, é uma situação nacional. Começamos a ter muita dificuldade em contratar professores. É urgente valorizar a escola socialmente. O que a escola nos dá socialmente a todos (não só aos que têm filhos na escola) é um bem maior inestimável. Cabe-nos a todos valorizá-la nas nossas acções.

A burocracia existente é maior do que aquela que é necessária ao normal desenvolvimento do dia-a-dia escolar. Por vezes torna-se um constrangimento porque nos consome tempo e recursos que seriam valiosos para a acção mais importante da escola que é a acção pedagógica.

A escola não substitui a família mas tem de trabalhar em proximidade com a família. Este é um dos maiores constrangimentos que temos. Envolver as famílias e a escola num objectivo comum em torno da educação dos mais novos.

Embora nos últimos anos tenha havido uma maior flexibilidade e autonomia concedida, a escola está muito dependente dos exames nacionais, de programas curriculares extensos e por vezes pouco adaptados à realidade e necessidades dos alunos.

Queremos que os alunos saibam dividir frases em orações e conheçam a tabela periódica, mas temos alunos que não sabem deslocar-se sozinhos na cidade, não entendem o funcionamento do sistema democrático ou simplesmente nunca descascaram uma peça de fruta ou acenderam um fósforo.

Dedico muitas horas e muitos dias por ano ao que faço. Mais do que aqueles que considero que deveria dedicar. Contudo, obrigo-me a mim mesmo a desligar-me e a focar-me noutros aspectos da vida que vão para além da nossa profissão. Somos todos seres complexos e diversos. A profissão é uma parte importante da vida, mas claramente não é “a” nossa vida.

De um modo geral a educação tem passado por um período de alguma estabilidade nas políticas educativas. Isso é importante para a implementação e consolidação de processos. Atravessámos a pandemia e fomos capazes de dar respostas e entender que existem oportunidades muito interessantes para criar valor. Concordo que economicamente temos de dar mais passos relativos à produtividade, mas isso não significa que tenhamos de fazer mais. Para mim temos sobretudo de fazer melhor.

“É urgente valorizar a escola porque o que ela nos dá socialmente é um bem maior inestimável”

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