Sociedade | 14-01-2005 21:37

Vale do Sorraia não previne as catástrofes

A região do Vale do Sorraia, que abarca os concelhos de Benavente, Salvaterra de Magos e Coruche, poderá ser massacrada por uma catástrofe natural de grandes dimensões. Os municípios não estão preparados para responder eficazmente a um sismo ou a uma grande cheia. Esta foi uma das conclusões de um estudo de pós-graduação sobre o Plano Especial de Emergência do Vale do Sorraia, da autoria de Joaquim Mário Antão. Portugal é o país da União Europeia mais vulnerável às cheias. É no Ribatejo onde acontecem com mais frequência. Quanto ao Vale do Sorraia é uma zona muito crítica em termos de sismos e cheias, “por isso temos obrigação de nos precaver para evitar danos maiores”, defendeu o autor do estudo. Na cerimónia de apresentação da tese de pós-graduação, que decorreu na passada sexta-feira, no auditório da Escola Profissional de Salvaterra de Magos, o técnico defendeu que a maior aposta em termos de protecção civil deve ser feita junto dos mais jovens, principalmente nas escolas. “Além das disciplinas de português, francês e matemática, deveria ser ministrada, nos estabelecimentos de ensino, em Portugal, a disciplina de Protecção Civil”, aconselhou o autor do estudo.“Estamos na cauda da Europa em termos de protecção civil”, foi desta forma que Joaquim Mário Antão começou a apresentação da sua tese. Neste curso, ministrado pela Universidade Independente, Mário Antão optou por centrar o seu estudo no plano de emergência do Vale do Sorraia. Durante as duas horas de palestra, falou-se dos meios e recursos, cheias, cartografia, segurança de barragens e legislação sobre protecção civil.Já que os terramotos, os maremotos e as cheias não podem ser evitados, “é preciso que estejamos preparados para nos defendermos”, referiu. Sempre numa atitude construtiva, foram feitas várias críticas aos municípios, que parecem ter “planos de emergência que não respondem às necessidades das populações”. E como justificação para a sua tese, Joaquim Mário Antão não hesitou em referir que “há planos de emergência no nosso país que foram copiados uns dos outros”.A mesma crítica foi feita aos Planos Directores Municipais (PDM), que “não acautelam as catástrofes naturais”. Joaquim Mário recomendou, por isso aos presidentes de câmara que aproveitem agora as revisões no PDM para acautelar este tipo de situações.Este estudo de pós-graduação centrou-se também nas barragens de Montargil e Maranhão, que em caso de colapso poderão inundar o concelho de Coruche. Mário Antão referiu que num trabalho de campo, verificou que existem muitas construções feitas em zonas de cheias. Através de várias simulações gráficas, mostrou também como ficariam algumas habitações caso se verificasse algum colapso numa dessas barragens. “As casas e as vias de comunicação ficariam completamente submersas, e o número de vítimas mortais seria incalculável”, argumentou. A vigilância e a segurança das barragens mereceram também um reparo neste estudo. Segundo Joaquim Mário, muitas vezes não existe qualquer tipo de vigilância nas barragens. Conta que, num fim-de-semana, quando estudava a Barragem do Maranhão, verificou que com um simples alicate poderia cortar um corrente e abrir os descarregadores de água. “O acesso à barragem do Maranhão é quase livre”, adiantou. “Como seria se houvesse algum atentado terrorista”Joaquim Mário Antão recordou que nas cheias de 1979, os principais troços desta sub-região ficaram completamente submersos. As EN-10, 114, 118 e 119 ficaram intransitáveis. “ Em caso de grandes cheias, a chegada junto de centros de saúde e hospitais, só será possível de barco”.No final da palestra, o autor do estudo colocou a funcionar um detector de cheia. Também este foi um trabalho da sua autoria. O aparelho pode ser colocado junto de uma barragem ou um rio. Sempre que se verificar uma subida das águas acima dos níveis aceitáveis, o aparelho emitirá um sinal luminoso intermitente acompanhado de um sinal sonoro, o que permitirá alertar as populações da subida das águas.Mário Gonçalves

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