Sociedade | 02-04-2016 13:37

Ex-supervisor mete o dedo na ferida culpando sindicatos pelo fecho da Opel na Azambuja

Ex-supervisor mete o dedo na ferida culpando sindicatos pelo fecho da Opel na Azambuja

Armando Martins lança livro sobre momentos marcantes da unidade que fechou há dez anos.

Se não fosse a intransigência negocial dos sindicatos e a "vingança" da administração, a fábrica da General Motors (GM) em Azambuja, que fabricava modelos da marca Opel, poderia ainda estar em funcionamento, na melhor das hipóteses. Ou fechado mais tarde do que aconteceu. A convicção é de Armando Martins, 55 anos, que foi durante quase 17 anos supervisor de produção na fábrica, que empregava quase 1500 trabalhadores, 1200 deles empregados directos. A fábrica fechou em Dezembro de 2006 e no ano em que se assinala o décimo aniversário do encerramento da General Motors, Armando decidiu reencontrar-se com os apontamentos que tomou durante os meses quentes que antecederam o fecho da unidade de Azambuja e compilou-os num livro. Com o título, "Conflitos Sociais", a obra é reveladora dos problemas que levaram ao fecho daquela unidade fabril. "Os operários foram vítimas da administração internacional mas sobretudo da comissão de trabalhadores e dos sindicatos. Criou-se uma guerra e conflitos tão grandes que quem ficou prejudicado foram os trabalhadores", refere o ex-trabalhador no livro.Para Armando Martins, que vive em Azambuja, o clima que levou ao encerramento da fábrica da Opel não deveria ter acontecido. "Um ano antes tinham existido bastantes dificuldades nas negociações entre os sindicatos a administração. A tal ponto que Eric Stevens (à data vice-presidente da GM Europa) teve de vir à Azambuja para entrar nas negociações", recorda o antigo supervisor de produção". O escritor diz que essas negociações não correram muito bem, porque os sindicatos tentaram hostilizar e ameaçar Eric Stevens. "A verdade é que a partir daí as coisas precipitaram-se e os conflitos começaram a ser maiores. Para mim o fecho da fábrica foi uma vingança por causa disso", sublinha. Um exemplo da intransigência dos sindicatos e da comissão de trabalhadores foi a reivindicação de aumentos acima da inflação, de 150 euros para todos os trabalhadores, numa altura em que as regalias já eram elevadas. Cada trabalhador ganhava, em média, acima de 1200 euros, valor ainda hoje considerado acima da média. "Na AutoEuropa (fábrica em Palmela que produz viaturas Volkswagen) a comissão de trabalhadores teve uma postura diferente e por isso a fábrica se mantém lá", defende. Armando Martins foi um espectador privilegiado do que aconteceu na fábrica. "Sempre achei que as greves não levavam a lado nenhum. Houve muitos excessos. A dada altura havia muitos conflitos entre os próprios trabalhadores, gente que queria trabalhar e outros, afectos aos sindicatos, que não deixavam", recorda. No livro são relatados também boicotes à produção. Um dos problemas, lembra Armando Martins, foi a falta de apoio psicológico e emocional para quem foi despedido.

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