Sociedade | 05-11-2017 17:04

No Lar da Fundação Padre Tobias são raros os residentes que não têm visitas

No Lar da Fundação Padre Tobias são raros os residentes que não têm visitas

Há um emigrante em França que só pode visitar uma tia quando vem a Portugal mas nunca falha e há o caso de duas irmãs que não se vêem porque estão em lares diferentes, a mais de cem quilómetros um do outro.

Só um dos sessenta e oito residentes do Lar da Terceira Idade da Fundação Padre Tobias, em Samora Correia, não recebe qualquer visita de familiares ou de amigos. A situação dura desde a sua ida para lá, encaminhado pela Segurança Social, já lá vão mais de três anos.


A situação foi relatada a O MIRANTE pela técnica Ana Lino, que acompanhou uma jornalista durante uma reportagem no local, cuja parte principal foi publicada na edição da semana passada, com o título “No Mundo Solidário e Humano da Fundação Padre Tobias”. Aquela funcionária não revelou dados sobre o caso para não violar a privacidade da pessoa mas disse que na base daquela situação excepcional está uma doença e o corte de relações com a família que é anterior à chegada ao Lar.


Há um ou outro residente de idade muito avançada e com graves problemas de saúde que também pode não receber visitas regulares porque os raros familiares residem longe, por exemplo, mas a maioria das pessoas são visitadas com mais ou menos frequência.
Albina Soares, de 94 anos, viúva e sem filhos, está a viver no Lar há quase cinco anos e é visitada, pelo menos uma vez por ano por um sobrinho que está emigrado em França. “Ele vem ver-me sempre que está em Portugal de férias, ou no Verão ou no Natal. E já me tem visitado de surpresa. Uma vez estava aqui sentada, olhei para a porta e ele estava a entrar. Nessas alturas eu fico muito contente”, conta.


Há também uma amiga que a visita de vez em quando mas infelizmente, não é visitada pela irmã, uma vez que ela também reside num lar mas a mais de 140 quilómetros de distância, em Pombal.


Ainda de acordo com as informações dadas por Ana Lino, a grande maioria dos idosos que reside no Lar da Fundação Padre Tobias, em Samora Correia, recebe visitas regulares de familiares ou de amigos e se alguns não são visitados mais amiúde é porque as famílias moram longe ou têm vidas demasiado ocupadas. Há também um ou outro caso de afastamento devido a conflitos familiares.


Entre os que recebem menos visitas encontra-se Rosa Serrano. Tem 91 anos e há seis que a filha, com quem vivia depois de enviuvar, a colocou no Lar por não poder continuar a cuidar dela devido aos seus próprios problemas de saúde. “Gostava mais de estar em casa da minha filha e ver os meus netos todos os dias, mas ela não me pode ter lá e também não sou infeliz aqui, sou muito bem tratada”, confessa Rosa, que, apesar de tudo, não está esquecida e continua a receber visitas da filha e dos netos, sempre que lhes é possível.


Patrocínia Pires, 89 anos, insere-se na situação da maioria dos residentes. O marido, que chegou a frequentar consigo o Centro de Dia e que estava inscrito na lista de espera para o Lar juntamente consigo, faleceu antes de abrirem vagas. Mas Patrocínia Pires não está sozinha, como ela própria conta. “É raro o dia em que um dos meus netos não me vêm cá visitar e não me leva a passear com ele”.

Objectos pessoais são permitidos mas animais de estimação não entram

Os residentes do Lar da Fundação Padre Tobias, em Samora Correia, estão autorizados a ter junto de si alguns utensílios que trazem de suas casas. É uma forma de minorar o facto de terem que abandonar as casas onde muitos viveram uma vida inteira, apesar de muitos dos quartos serem partilhados com outras pessoas.


Patrocínia Pires é uma das muitas residentes que trouxe consigo alguns objectos que a ajudam a sentir-se um pouco como em sua casa. “A colcha da cama, a televisão, as molduras e as fotografias, as almofadas e as figuras daquele altar que montei ali são minhas. Trouxe tudo da minha casa”, conta, sem se esquecer de apontar para a fotografia que tem sobre a cabeceira da cama, onde está ao lado do falecido marido.


O que não os utentes não podem ter consigo são animais de estimação. “Já tivemos um utente que quis trazer o animal de estimação mas acabou por compreender que não podíamos permitir aquela situação” conta a técnica Ana Lino.


Apesar de não permitir a presença de animais de estimação, a direcção do Lar está a tentar criar uma situação que também permita minorar essa ausência. “Sabemos como a relação com os animais de estimação é importante e gostávamos que os nossos utentes não tivessem de prescindir dela aquando para aqui vêm. A pensar nisso, o ano passado pedimos ao Canil de Benavente que trouxesse dois cães para passarem um dia a interagir com os idosos e eles adoraram. Também estamos em conversações para ver se é possível termos pelo menos um cão, que seria a nossa mascote”, refere a técnica destacada para acompanhar O MIRANTE.

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