Sociedade | 17-06-2019 07:00

Com 38 anos de serviço é o bombeiro mais antigo em actividade nos Voluntários de Almeirim

Com 38 anos de serviço é o bombeiro mais antigo em actividade nos Voluntários de Almeirim
ALMEIRIM

António José Sousa já viu do pior mas não aguenta quando vê os filhos com um simples corte num dedo.

António José Sousa é o bombeiro mais antigo no activo nos Voluntários de Almeirim e já viu das piores coisas que se pode imaginar, como levar uma menina de três anos como morta ao colo para um hospital de Lisboa. Mas se vê um dos seus dois filhos com um corte no dedo começa logo a ficar branco e com sinais de quem vai desmaiar. A menina salvou-se e hoje quando a encontra ela solta umas lágrimas de emoção. É o melhor reconhecimento que uma pessoa dedicada a ajudar os outros pode ter.

Aos 52 anos, o bombeiro voluntário já pensou sair do quadro activo da corporação, mas diz que sente força em continuar por quem o comanda e pelos jovens que o acompanham na sua actividade. Com 38 anos de serviço disse ao comandante que estava pronto para sair e dar o lugar a outros com mais energia, mas Jorge Costa, que lidera a corporação, disse-lhe para esperar pelos quarenta anos e depois logo se vê.

Começou aos catorze anos na corporação. O seu pai já era bombeiro e chegou a segundo comandante, estando actualmente no quadro de honra. Aos dezoito anos começou a fazer serviço como bombeiro e lembra-se que na altura deram-lhe um fato-de-macaco e umas botas de borracha. Era o fardamento, muito diferente do que é hoje em que há uma especial preocupação com a proteccção individual, com fardamentos resistentes ao fogo e outros materiais de protecção. “Às vezes chegávamos ao quartel e nem sabíamos o que íamos fazer, entrávamos no carro e logo se via o que se encontrava. Hoje é tudo muito diferente”, relata.

Quando se é jovem e os bombeiros são uma paixão faz-se de tudo. António José Sousa uma vez saiu para um incêndio em Tomar com uma unha do dedo do pé arrancada, mas não disse nada. Quando chegou ao teatro de operações não aguentava com dores, mas não disse nada porque a vontade de ser bombeiro era maior. António é uma referência no quartel e não se escusa a fazer nada. É o primeiro a dizer pronto e as férias passa-as no quartel, disponível para fazer o que é preciso, seja emergência médica ou combate a incêndios.

No tempo em que os bombeiros trabalhavam a apagar fogos até à exaustão e ainda não havia preocupações com a segurança na circulação, António e outros colegas que já não estão no activo vinham em cima do carro de combate a incêndios e prendiam os cintos a partes do veículo para não caírem, porque o cansaço era tanto que adormeciam no trajecto.

Das memórias que António regista há uma de um acidente há muitos anos, era um bombeiro ainda no início, em que morreram pai e três filhos. A situação aconteceu na Estrada Nacional 118, no Casal Branco. Na altura, recorda, os bombeiros praticamente carregavam as pessoas nas macas e levavam-nas o mais rapidamente possível para o hospital. “Felizmente hoje há muita formação e muita segurança para os bombeiros”, sublinha.

António José Sousa realça que ainda se mantém como bombeiro porque tem uma “família espectacular”, que o incentiva a continuar. “É a minha mulher e os meus filhos que não querem que saia dos bombeiros”, conta, acrescentando que o que já lhe custa é fazer noites, mas faz tudo o que os superiores lhe pedirem.

A história mais recente que guarda foi nos incêndios do ano passado. Foi levado para um local que nem sabe onde fica e quando a mulher lhe ligou e perguntou onde estava, porque tinha ouvido que havia bombeiros rodeados por fogo, ele, que só via chamas por todo o lado, respondeu que estava no inferno. Mas nessa ocorrência o que lhe ficou na memória foi uma criança que se agarrou às suas pernas a pedir para não se ir embora com a sua equipa porque tinha medo de ficar sozinho com a família com tudo ardido ou a arder à volta.

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