Sociedade | 11-11-2019 10:00

“Não me consigo despir à frente do meu marido apesar de saber que ele me ama”

“Não me consigo despir à frente do meu marido apesar de saber que ele me ama”

Teresa Santos teve cancro da mama antes dos cinquenta anos e perdeu um seio.

O cancro da mama deixa mazelas no corpo e na alma. Quem perde um seio perde a auto-estima e fica com medo para toda a vida. O amor e a compreensão dos outros, nomeadamente de maridos filhos, familiares e amigos é importante mas por muito que se queira há uma sombra que fica e que nunca desaparece. A propósito de Dia Nacional de Luta Contra o Cancro da Mama, que se assinala a 30 de Outubro, recolhemos o testemunho de quem ainda não superou a doença. Não é tudo cor-de-rosa como aparece nas campanhas de solidariedade.

Teresa Santos, 52 anos, teve cancro da mama há três anos e ainda não superou da mastectomia a que foi sujeita. Falta-lhe a coragem para voltar a olhar para si como mulher e para conseguir despir-se à frente do marido. “Parece disparate porque estou casada há 25 anos e sei que ele gosta de mim, mas a auto-estima foge-nos e é difícil recuperá-la”, conta emocionada a O MIRANTE.

O diagnóstico de cancro da mama, em Fevereiro de 2016, atingiu a funcionária do Agrupamento de Escolas Dr. Ginestal Machado, em Santarém, como uma facada no estômago. Recorda-se do dia em que o médico lhe disse que tinha cancro. Nesse dia sentiu que o seu mundo desabou e chorou durante todo o caminho de regresso a casa.

Ainda sem coragem para avançar para uma reconstrução mamária, por receio de complicações com a cirurgia, Teresa Santos confessa que tem uma vida sexual normal e faz todas as tarefas do dia-a-dia. As maiores dificuldades são, garante, encontrar um soutien ou um biquíni atraente para a sua condição e deixar de ter complexos com o corpo. Estar nua em frente do marido ou olhar-se ao espelho são actos difíceis, com a mastectomia sempre presente.

Revela que lhe foi difícil lidar com a doença, embora tenha contado sempre com o apoio do marido e dos filhos. Sente que o seu futuro continua incerto, embora já consiga olhar-se ao espelho de relance e tocar-se, mas durante muito tempo não o conseguiu fazer. “Sinto-me mutilada”, confessa.

Tinha tirado um quisto na mesma mama, em 2008. Conta que tudo correu bem e que nada fazia prever o que veio a acontecer. Foi já em Fevereiro de 2016, na mamografia e ecografia mamária que se detectou o tumor maligno. Desde então já perdeu a conta às consultas e exames a que se submeteu, até chegar à intervenção cirúrgica, no Hospital de Santarém, em Maio desse ano.

Seguiu-se um momento de recuperação que, fisicamente, até foi rápido, mas que para Teresa Santos nunca foi superado psicologicamente. “Lembro-me de, passado uma semana da operação, ter ido à Liga Portuguesa Contra o Cancro buscar um soutien e uma prótese. As voluntárias falaram comigo e disseram que a mama não era mais que um pedaço de carne, mas nada do que diziam era o que queria ouvir”, desabafa.

A realizar exames periódicos de seis em seis meses, admite que ainda hoje treme cada vez que vai a uma consulta no hospital por recear saber que teve uma reincidência do cancro. Apesar disso, garante, vai vivendo e apreciando a vida o melhor que consegue, acreditando que a reconstrução mamária, que espera fazer daqui a uns anos, lhe volte a trazer a alegria de viver.

Seis mil novos casos por ano

Actualmente em Portugal, com uma população feminina a rondar os cinco milhões, surgem seis mil novos casos de cancro da mama por ano, o que representa 11 novos casos por dia. Diariamente morrem quatro mulheres vítimas desta doença. O cancro da mama é a principal causa de morte precoce (antes dos 70 anos) nas mulheres em Portugal. Sendo a forma de cancro mais frequente na mulher, raramente surge antes dos 30 anos de idade, aumentando significativamente a partir dos 45 anos e principalmente depois dos 60 anos.

A grande dificuldade em diminuir a prevalência dos factores de risco como o tabagismo, o sedentarismo ou características genéticas e hereditárias justificam uma prevenção secundária que normalmente se traduz na mamografia.

Através do Programa de Rastreio de Cancro da Mama, as mulheres em idade rastreável (50-69 anos), inscritas nas Unidades de Saúde, são convidadas a realizar uma mamografia gratuita a cada dois anos. De acordo com o Ministério da Saúde, a nível nacional foram já realizadas mais de três milhões de mamografias de rastreio e encaminhadas para diagnóstico e tratamento mais de 16 mil mulheres, o que permitiu um tratamento menos agressivo, mais eficaz e, em alguns casos, a cura total.

O cancro é a doença que mais preocupa os portugueses e os tumores do pulmão e mama são os que causam mais apreensão, segundo um estudo da consultora GFK a nível nacional baseado em entrevistas presenciais a mais de mil adultos. Um quarto dos portugueses entrevistados refere o cancro do pulmão como o tipo de doença oncológica que maior preocupação causa, logo seguido do cancro da mama, com 21%.

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