Sociedade | 29-12-2019 15:00

Hospital Vila Franca de Xira recebe prémio mundial pela redução do consumo de antibióticos

Hospital Vila Franca de Xira recebe prémio mundial pela redução do consumo de antibióticos

Uso excessivo de antibióticos é um problema grave que está a colocar em risco a saúde global. Hospital Vila Franca de Xira foi o primeiro no país a ser premiado mundialmente por conseguir reduzir, em alguns casos em mais de 80 por cento, o uso destes fármacos.

As bactérias estão a ganhar a guerra contra os antibióticos e se nada for feito até 2050 mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo Portugal, morrerão de infecções associadas a bactérias multiresistentes. O alerta é deixado por José Neves, infecciologista, consultor de doenças infecciosas do Hospital Vila Franca de Xira (HVFX) e coordenador do programa de prevenção e controlo de infecção e resistência aos antimicrobianos daquela unidade de saúde.

O seu trabalho tem dado nas vistas nos últimos anos por ter conseguido reduzir no HVFX, em 2018, o consumo de antibióticos de largo espectro, em alguns casos, em mais de oitenta por cento. O objectivo era baixar na globalidade o consumo em 30 por cento mas esse valor foi largamente ultrapassado. Explicado de forma simples, os antibióticos de largo espectro são como uma bomba nuclear: aniquilam as bactérias prejudiciais mas também as saudáveis que são úteis e vivem em simbiose com o nosso corpo.

Na maioria das vezes, por uma questão de comodidade e medicina defensiva, os médicos receitam estes antibióticos de largo espectro quando não havia necessidade e bastaria um outro antibiótico mais focado numa determinada bactéria. Num dos antibióticos ministrados naquele hospital, a Levofloxacina, a redução no consumo foi de 92 por cento. Nos restantes situam-se entre os 60 e os 80 por cento.

“Este programa foi resultado não apenas de um esforço coordenado como de um investimento feito pelo conselho de administração no sentido de implementar uma política centrada na qualidade e segurança do doente”, explica José Neves a O MIRANTE.

Com esse trabalho o HVFX tornou-se no primeiro hospital nacional – e um dos poucos a nível global – a ter conseguido, na prática, reduzir o consumo destes antibióticos e, com isso, reduzir as resistências bacterianas em ambiente hospitalar e, consequentemente, a ter menos infecções por bactérias multiresistentes.

“Implementámos medidas de controlo, como a obrigatoriedade da prescrição de antibióticos ter de ser justificada, verificando diariamente as prescrições e analisando caso a caso, alterando quando necessário. E em muitos casos suspendendo a toma. A bactéria para conseguir ter resistência tem de gastar energia para criar mecanismos de defesa. Ela só produz essa resistência quando tem inimigos, quando deixa de ser atacada volta a ser o que era. Temos conseguido que elas baixem as defesas mas esta continua a ser uma guerra entre bactérias e antibióticos e elas têm ganho a guerra”, explica.

Prémio mundial distingue hospital

Com este trabalho o HVFX venceu a categoria bronze dos prémios da International Hospital Federation, por ocasião do 43º congresso mundial de hospitais que contou com participantes de 34 países e se realizou em Muscat, Omã. São prémios que distinguem a excelência na qualidade, segurança e cuidados centrados no doente em hospitais de todo o mundo.

As superbactérias são um grave problema de saúde pública, diz o médico, e além dos hospitais também os cidadãos têm de compreender a necessidade de tomar medidas. “A maioria das bactérias são passadas entre as pessoas de forma fecal-oral. Se não tiverem o cuidado de lavar bem as mãos antes de comer ou de manipular alimentos podem transmitir as bactérias”, lembra.

Em 72 horas a flora bacteriana de um indivíduo que entre num hospital é substituída pelas bactérias existentes na unidade de saúde. Por isso, avisa, é preciso um cuidado adicional.

“Temos tantas células bacterianas no organismo como células humanas. Metade de nós são bactérias, mas vivem connosco em simbiose e ajudam-nos sem nos fazer mal. O pior é quando alguma coisa falha e há infecção. Um doente hospitalizado ou mete cateter, algália ou agulhas. Isso são agressões que criam portas de entrada para as infecções”, explica o médico de 67 anos, natural de Praia da Vitória, na ilha Terceira, Açores.

O antibiótico não é para a febre

Segundo o clínico mais de metade dos antibióticos actualmente prescritos na comunidade são desnecessários. “Grande parte dos doentes e das infecções que existem na comunidade são virais e, para essas, tirando a gripe, que tem tratamento antivírico específico, nas infecções respiratórias banais os antibióticos não fazem nada. Destroem a flora do indivíduo e fazem com que as bactérias mais sensíveis morram e ficam as resistentes. O antibiótico não é para a febre. Este problema tem solução e passa muito pelos médicos e pela literacia para a saúde pela população”, refere.

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