Sociedade | 24-02-2020 10:00

Folclore volta a Santo Estêvão meio século depois

Folclore volta a Santo Estêvão meio século depois

População faz renascer o rancho folclórico na aldeia. O objectivo passa por recuperar e promover as tradições locais e dar novo fôlego ao associativismo.

Chegou o momento de recuperar e promover as tradições da terra e dar mais fôlego ao associativismo na aldeia de Santo Estêvão, no concelho de Benavente. Foi este o pensamento que motivou Gina Abreu quando decidiu refundar o rancho folclórico que estava sem vida desde 1964. “Já fazia falta um entretenimento para a população desta terra que está parada e poucas actividades oferece aos seus jovens de forma gratuita. Aqui damos a possibilidade a todos de se divertirem ao mesmo tempo que recuperamos uma tradição que estava perdida”, explica a O MIRANTE.

Entre as duas dezenas de pessoas que marcam presença no quinto ensaio do grupo há alguns estreantes nessas andanças e outros já experientes. É o caso de Lucília Fortunato, de 33 anos, que já dançou em outros ranchos do concelho e que agora tem o orgulho de dançar na terra onde nasceu. “Ainda estamos a começar, mas até agora está a correr muito bem. Tem aparecido gente de todas as idades, homens e mulheres”, diz.

O ensaio é dirigido por José Santos, de 28 anos, e para já a música faz-se apenas ao som do acordeão. “Falta a bilha, o reco-reco, a cana e a cantadeira, mas a seu tempo virão”, diz confiante, considerando que o mais difícil é “afinar os dançarinos”. O elemento mais velho do grupo tem 80 anos, chama-se José Machacaz e tem sido o músico de serviço. Sentado numa cadeira num dos cantos do palco, de acordeão ao peito, já perdeu a conta aos ranchos que integrou. “A paciência ainda não a perdi e já diz o ditado que quem corre por gosto não cansa. É amor à música e a esta tradição”, diz o acordeonista.

E desengane-se quem pensa que o rancho não atrai juventude. “Andar no rancho não é foleiro, mas tenho amigos que acham que é. Eu encaro o folclore como uma diversão e não tenho vergonha de o dançar”, diz André Silva. Tem 17 anos e começou a dançar aos seis, por influência do pai. Entretanto fez-se campino seguindo as pisadas do avô.

Para Maria João Silva, 53 anos, estes grupos funcionam como uma terapia, independentemente da idade. Ajudam até, diz, a passar valores aos mais novos e a “tirá-los das ruas ou da frente do sofá”.

Tradições são para seguir, mas sem exageros

Um rancho folclórico vive da cultura popular, da identidade de um povo representada nas vestes e na música que se toca. Procura-se, por isso, a representação próxima dos costumes e tradições autênticos da aldeia, uma tarefa a cargo de José Santos. “Estamos a trabalhar sobretudo em trajes de trabalho e teremos apenas um ou outro domingueiro e o traje de festa de campino”, explica.

Mas este não vai ser um rancho rígido nas regras. “Vai ser um rancho do século XXI que se veste e dança como antigamente”, onde vão ser permitidas tatuagens, cabelos compridos nos rapazes e onde cada um dança com quem quiser. “Não podemos proibir isso, quando já é difícil cativar rapazes para estes grupos”, diz Lucília Fortunato.

Ou seja, o que se quer para já “não é entrar em proibições, mas cativar o maior número de pessoas”, reafirma Gina Abreu. O Rancho Folclórico de Santo Estêvão ensaia na Casa do Povo da localidade, todas as sextas-feiras, das 21h00 às 23h30. A estreia do grupo está agendada para 25 de Abril, durante as comemorações do Dia da Liberdade.

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