Sociedade | 28-03-2020 18:00

Cidadão de Santarém morreu à porta de casa e corpo esteve 10 horas na rua

Cidadão de Santarém morreu à porta de casa e corpo esteve 10 horas na rua

João Taxa Araújo faleceu na via pública, em Santarém. O corpo do militar aposentado esteve no chão durante dez horas.

O corpo do coronel João Manuel Taxa Araújo, ex-comandante da Escola Prática de Cavalaria em Santarém, esteve mais de dez horas à espera para ser removido da via pública, no sábado, 21 de Março. O militar aposentado, de 77 anos, faleceu à porta de casa, caindo inanimado no chão cerca das 10h00, tendo aí ficado até às 20h30. A situação suscitou a indignação de familiares e amigos e muitas críticas nas redes sociais.

A espera foi longa, uma vez que a delegada de saúde encontrava-se sem mãos a medir perante um cenário de diversos casos de Covid-19 a emergir na região. O corpo acabou por ser removido por uma ambulância dos Bombeiros de Benavente específica para este tipo de casos, que terá sido solicitada cerca das 18h00. A delegada de saúde não chegou a deslocar-se ao local para declarar o óbito.

João Taxa Araújo morreu à porta de casa, na Rua Dr. Virgílio Arruda, perto da Escola Mem Ramires, em Santarém, quando se dirigia para o carro, com a esposa, para seguirem para o Hospital de Santarém. Segundo familiares, devido ao receio por causa do coronavírus, o casal ainda considerou não sair de casa, mas o homem terá reforçado que tinha que ser visto por um médico, pois estava a sentir-se muito indisposto e com falta de ar.

Segundo os técnicos de saúde do INEM que estiveram no local e ainda fizeram manobras de reanimação embora sem sucesso, o homem terá sofrido uma paragem cardiorespiratória. Os técnicos não relacionaram este caso com a doença Covid-19. Durante todo o dia a PSP esteve no local, onde colocou um perímetro de segurança.

Família revoltada

Segundo um depoimento deixado na página de Facebook da filha, Filipa Taxa de Araújo, a delegada de saúde ter-se-á recusado a ir ao local declarar o óbito. A situação foi reportada ao longo do dia a várias entidades, como a própria delegada de saúde, o director regional de saúde, o Estado Maior do Exército, o Procurador-Geral e ainda o presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, mas o impasse arrastou-se penosamente por mais de dez horas. Filipa Taxa de Araújo refere que o autarca “terá ordenado à delegada de saúde que fosse ao local declarar o óbito. Mas, passadas duas horas, soubemos que esta se recusava a ir ao local”.

Mesmo sem se dirigir ao local, a delegada de saúde terá declarado o óbito perto das 17h00, “por causas desconhecidas”. “O Procurador-Geral declarou que não haverá autópsia, não sendo esse o nosso desejo, e até duvidando da legalidade de uma imposição dessas tendo em conta as causas desconhecidas da morte do meu pai”, acrescenta ainda Filipa Taxa de Araújo.

Foi também ordenado que o corpo seria levantado por uma viatura própria para transporte de cadáveres, vinda de Benavente. “Aguardámos até às 20h00, noite cerrada, quando a ambulância chegou e a equipa, devidamente equipada, fez o levantamento do corpo ao fim de 11 horas deitado na via pública”, descreve Filipa Taxa de Araújo, classificando a situação como surrealista. Ao longo das 10 horas, em que o corpo permaneceu na rua a filha e a mulher do Coronel Taxa Araújo tiveram como companhia vários elementos da PSP e alguns curiosos que passavam pelo local.

Coronel Taxa Araújo Pereira era natural de Vila Praia de Âncora e foi comandante da Escola Prática de Cavalaria em Santarém e comandante territorial da extinta Brigada de Trânsito (BT) da Guarda Nacional Republicana (GNR). Tinha três filhas e um filho.

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