Rui Gabriel saiu da casa onde morava com os pais, em Vialonga, a 16 de Março, apenas com a roupa que tinha no corpo e com um euro no bolso, supostamente para ir trabalhar, mas nunca chegou ao destino nem regressou a casa. Desesperada a família participou o caso às autoridades e procurou-o incansavelmente, até o encontrar perto da estação do Oriente, em Lisboa, dez dias após o seu desaparecimento.

A irmã, Ângela Gabriel, conta a O MIRANTE que afinal o homem largou o trabalho e saiu de casa com o propósito de ir viver para as ruas da capital porque “sente que precisa de estar sozinho e mudar de vida”. A família desespera com a decisão do homem, ainda para mais numa altura de pandemia por causa da Covid-19. “Os nossos pais estão muito confusos e querem que ele volte para casa, mas tentam respeitar a decisão”, afirma.

Rui Gabriel era operador de armazém no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), em Vialonga, e uma semana antes de desaparecer já não ia trabalhar. Aos 46 anos ainda vivia em casa dos pais, situação que, segundo a irmã, não lhe agradava e o impulsionou a tomar esta decisão. “Quando o encontrámos ofereci-lhe a minha casa e disse-lhe que o ajudava a pagar um quarto se quisesse, mas ele não aceita e diz que quer viver assim. Nem as coisas dele quer reaver”, conta a irmã.

A vida de Rui Gabriel faz-se agora juntamente com a de muitos sem-abrigo de Lisboa. Não tem quaisquer rendimentos, “come e dorme num albergue na zona do Parque das Nações” e durante o dia vagueia pela estação do Oriente. “Diz que quer arranjar trabalho”, refere a irmã, admitindo que nesta altura com muitos estabelecimentos fechados por causa do surto do novo coronavírus será muito mais difícil.