Sociedade | 07-07-2020 18:00

Câmara de Ourém leva escultor à insolvência

Câmara de Ourém leva escultor à insolvência

Fernando Crespo está a arder com cerca de meio milhão de euros há três anos.

O autor da escultura do Coração de Fátima, inaugurada aquando da visita do Papa Francisco, em Maio de 2017, teve de pedir a insolvência porque a autarquia, até agora, não pagou a peça com um custo de 400 mil euros mais IVA. O trabalho foi encomendado pelo anterior presidente da Câmara de Ourém, o socialista Paulo Fonseca. O actual presidente, Luís Albuquerque (PSD), também não pagou o montante pedido pelo escultor Fernando Crespo, que tem despesas com a metalomecânica que produziu o maior coração de aço do mundo. O artista viu-se obrigado a ir para a insolvência porque “não nada em dinheiro” e um “buraco de centenas de milhares de euros não é fácil de aguentar”.


Em conversa com O MIRANTE, o escultor diz que se tivesse recebido em devido tempo não estaria nesta situação, acusando os autarcas de Ourém de serem moralmente responsáveis pela situação difícil em que se encontra. O caso tem episódios surrealistas, que começam com Paulo Fonseca a dizer que tinha arranjado uma empresa para financiar a peça, mas que nunca apareceu. Depois Luís Albuquerque propôs adquirir a obra por 60 mil euros, que não chega sequer para pagar o transporte e a montagem das estruturas metálicas. O actual presidente atirou o preço com base num parecer jurídico, que o escultor considera uma ofensa, porque não reconhece competências artísticas, nem de idade ou outras qualidades na matéria à advogada que fez o parecer.


O artista já tinha dito a O MIRANTE que não vê grandes diferenças entre o anterior e o actual presidente, realçando que devem achar que “os artistas trabalham por um prato de sopa”. Com a insolvência, Albuquerque veio agora anunciar que está a negociar com o administrador judicial o pagamento da peça à massa insolvente por 150 mil euros. Fernando Crespo considera os valores ofensivos, porque em 2012 o monumento ao empreendedor, em Famalicão, que tem dimensões idênticas, ficou em 400 mil euros.


A Câmara de Ourém encomendou a peça, com 12 metros de altura e 12 de largura, para fazer figura na altura em que o Papa Francisco ia visitar o Santuário de Fátima. O escultor teve que apressar o passo e reservar um espaço de grandes dimensões numa empresa de metalomecânica para ter o trabalho pronto em metade do tempo. Na altura a autarquia anunciou investimentos de cinco milhões de euros, apresentados ao Governo, para receber o Papa no Centenário das Aparições. Depois da peça inaugurada, em Maio de 2017, Paulo Fonseca desvinculou-se da situação mandando o escultor falar com uma empresa que iria financiar a obra, que entretanto passou o assunto para outra entidade, mas nunca houve nem acordo nem dinheiro.


O acordo entre o município e o escultor foi aprovado em reunião de câmara no dia 3 de Março de 2017, tendo sido referido que a obra custaria cerca de 500 mil euros. Além de não haver mecenas, como tinha prometido o seu antecessor, também não há papéis sobre a encomenda e a aquisição da escultura.

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