Sociedade | 05-08-2020 15:00

Avós continuam a ter tempo para os netos

Longe da imagem do velhinho de bengala e óculos na ponta do nariz, os avós são hoje mais activos e um elemento estruturante na maioria das famílias.

Ajudam os pais, contam histórias, jogam, ajudam nos estudos, passeiam e são cúmplices dos netos. No Dia dos Avós, 26 de Julho, conversámos com alguns avós da região para perceber o que permitem aos netos que não permitiam aos filhos, se acreditam que o papel dos pais é educar e o dos avós mimar e como viveram os meses de confinamento imposto pela Covid.

“Há avós que passam a vida a ralhar, não tenho esse feitio”

Fernando Pereira Caldas, gerente da Sociedade Distribuidora de Gás José Marques Agostinho, tem dois filhos e sete netos entre os 3 e os 22 anos.

Não convivemos tanto como deveríamos, mas tenho uns netos formidáveis, tratam-me muito bem. Agora os mais velhos vivem em Lisboa, mas até há cerca de um ano viviam todos em Santarém, perto de mim. As actividades que fazíamos juntos eram a caça, a pesca, ver bichos no campo, colher fruta… coisas muito simplórias (risos). Os mais pequenos agora têm uma horta. Não os posso ajudar porque tenho um problema complicado de saúde que me limita os movimentos. Mas gosto de ver. Andam ali descalços, de pés na lama, é uma coisa que apreciam. A horta está em flor e ainda não deu frutos.


Comecei a trabalhar novo e como pai fui um bocadinho ausente. Quando chegava a casa, estafado do trabalho, muitas vezes eles já estavam a dormir. A mãe é que se encarregou de lhes pôr as rédeas mais curtas quando era necessário. De uma forma geral considero que tanto os meus filhos como os netos foram pessoas razoavelmente simples de lidar. A minha relação com os netos é muito fácil. Há avós que passam a vida a ralhar, mas não tenho esse feitio. Prefiro convencê-los com a argumentação. É verdade que os pais devem educar e os avós mimar, esse é o princípio, mas em situações limite defendo que os avós também devem pôr um travão aqui ou acolá.


O confinamento foi uma fase difícil, mas conseguimos continuar a ver-nos, com cuidados redobrados. Conseguimos manter o contacto, uns moram perto e os que moram em Lisboa vieram passar o confinamento a Santarém.

“O mimo dos avós tem outro sabor”

Maria Beatriz Martinho, presidente do Conservatório de Música de Santarém, tem três filhos e nove netos, com idades entre os 13 e os 21 anos.


Sou uma felizarda, os meus netos passam muito tempo comigo porque moramos todos em Santarém. Só nos últimos anos é que dois se mudaram para Cascais, mas vêm a Santarém com frequência e passaram cá o confinamento. Temos uma relação muito estreita e muito íntima. Costumamos passar férias juntos e pelo menos uma das refeições do fim-de-semana é também feita em conjunto, com filhos e netos. Vamos juntos ao cinema, visitamos museus, somos muito próximos e gostamos de deixar fluir os afectos.


Não interfiro na educação dos meus filhos em relação aos meus netos. Pode acontecer, mas é raríssimo, observar algum comportamento exagerado dos meus filhos. Nesses casos tomo o partido dos netos, mas não o manifesto à frente deles. Por norma os pais educam e os avós mimam, mas também sou mãe e sempre mimei muito os meus filhos e estes também são muito “mimalhentos” em relação aos seus filhos.


Hoje em dia os avós estão sempre muito ocupados, mas todo o tempo disponível é para os filhos, quando precisam, e para os netos. O mimo dos avós tem outro sabor. Só quando se é avó é que se consegue perceber. Durante o confinamento mantivemos um relacionamento diário. Eles iam à minha casa, mas não entravam. Conversávamos e víamo-nos, sempre com um cuidado extremo. Também falávamos por telefone e via Skype. Foi assim que mitigámos as saudades.

“O que não permitia aos filhos não permito aos netos”

Maria Emília Rufino, presidente da direcção do Lar de Santo António, em Santarém, tem três netos. Um pequenino, em Portugal, e dois mais crescidos, com 9 e 11 anos, em Espanha.

As visitas ao neto que está mais perto são mais frequentes, ainda assim também visito os que estão em Madrid sempre que posso. Costumamos passar férias juntos onde lhes proporciono experiências engraçadas. O ano passado, por exemplo, fomos ao Zoomarine, no Algarve. Gostamos do ar livre, das idas à praia e de fazer campismo selvagem. Já acampamos todos juntos no Rosmaninhal (Idanha-a-Nova) junto ao rio, na altura da brama dos veados. Para este ano tínhamos previsto um passeio nos passadiços do Paiva, mas não sei se será possível. Há sempre muitos projectos e pouco tempo para os concretizar.


Sou uma avó mãe, aquilo que não permitia aos filhos também não permito aos netos. Como mãe, aprendi com a minha, que teve seis filhos, a não ser muito rígida. Quem está com a criança tem que educar. Quando há alguma coisa errada nenhum deles (pais ou avós) pode estar à espera que o outro intervenha. Comparo com a relação com os professores, há quem defenda que os professores têm que instruir e os pais educar. Só afirma isso quem não conhece o país.


Muitos dos alunos não tiveram pais com oportunidade de os saber educar. Há muitas diferenças agora, mas ainda assim há momentos em que o professor também tem que ser educador, não é só alguém que debita matéria.


Gosto de mimar filhos e netos, mas se tiver que dizer alguma coisa digo. Durante o confinamento ficámos algum tempo sem nos ver, mas contactávamos por telefone e por Skype.

“Éramos muito mais rigorosos no nosso tempo de pais”

Diamantino Diogo, ex-administrador da Caixa Agrícola de Coruche, tem dois netos, dois rapazes de 19 e 12 anos. Em Outubro chega uma netinha.

Vivemos todos perto, em Coruche, e passamos muito tempo juntos. Também temos por hábito fazer férias juntos. Quando estou com eles gostamos de conversar, de contar histórias e de falar sobre as novidades da região que todas as semanas são noticiadas em O MIRANTE, do qual sou assinante há muitos anos. Falamos de tudo um pouco. O mais velho é muito critico, já está na faculdade, em Évora, onde estuda Gestão.


Permito muitas coisas aos meus netos que não permitia aos meus filhos. Éramos muito mais rigorosos no nosso tempo de pais. Para algumas coisas era bom, para outras não. Eram tempos difíceis, hoje os tempos são outros. Destaco sobretudo a obediência, os nossos pais eram muito rigorosos na pontualidade e no respeito. A educação era outra, nem vale a pena comparar. A liberdade de hoje é por vezes exagerada e no nosso tempo era apertada de mais. Se o meu pai dizia que tinha que estar em casa à meia-noite, não podia chegar cinco minutos depois, sob pena de ser logo açoitado. “In medium est virtus”, estudei latim, sou de Direito, e acredito que no meio está a virtude. Mimar e educar são tarefas que devem ser feitas em conjunto por pais e avós. Se juntarmos o que os avós têm de meiguice com o respeito que os pais devem ensinar temos a combinação perfeita. Foi difícil e triste o confinamento. Levámos o caso muito a sério e cumprimentávamo-nos de varanda. Nunca mais houve a aproximação que havia e não sei se voltará a haver. A afectividade nunca mais vai ser a mesma. Há 45 anos que estou ligado à creche, jardim-de-infância e ATL do Lar São José, em Coruche. Também aqui as coisas vão ser diferentes.

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