Sociedade | 05-08-2020 07:00

Meninas e mulheres abusadas por familiares durante décadas

Meninas e mulheres abusadas por familiares durante décadas
SOCIEDADE

Crimes sexuais ocorreram no seio de uma família em Santa Catarina, Tomar.

Pai e dois filhos foram detidos e estão em prisão preventiva. Dois deles terão abusado das próprias filhas, entre outras familiares. População do pequeno lugar está em choque e com vergonha de ver a terra ser notícia pelas piores razões.

Ao longo das últimas quatro décadas, meninas e mulheres de uma família de Santa Catarina, em Tomar, terão sofrido abusos sexuais por aqueles que, em primeiro lugar, tinham o dever de as proteger: o pai, o avô ou o tio. Ao todo são oito as vítimas, com idades entre os 5 e os 68 anos. Os crimes foram cometidos num contexto familiar de terror e coacção e nunca levantaram suspeitas entre a comunidade, que agora acordou em choque para a dura realidade que pôs a terra no mapa pelas piores razões.


Os moradores do pequeno lugar da freguesia de Casais continuam incrédulos com a notícia que no final da semana passada agitou a localidade e lhe deu destaque na comunicação social. Três homens, pai e dois filhos, com 71, 43 e 38 anos, foram detidos pela Polícia Judiciária (PJ) no dia 23 de Julho por suspeita de abuso sexual de crianças, violação e violência doméstica, cometidos em contexto familiar, nalguns casos durante décadas.


O MIRANTE esteve em Santa Catarina na manhã de segunda-feira, 27 de Julho, e dos poucos cidadãos que encontrou ninguém quis dar a cara para evitar complicações. A maioria não esconde o choque pela notícia porque nunca se apercebeu de nada. Alguns contam que os detidos sempre foram pessoas conflituosas e que não se davam com ninguém. A família vive em várias casas contíguas na Travessa da Fonte, uma rua sem saída, à entrada da localidade e longe do centro. Quando O MIRANTE passou no local não encontrou ninguém e as janelas estavam todas fechadas.


Uma moradora diz conhecer o homem mais novo que foi detido, cumprimentava-o e falava normalmente quando o encontrava no café. “Nunca pensei que fosse capaz de um acto desta natureza. Se é verdade tudo o que dizem, é uma monstruosidade o que aconteceu”, afirma. Uma jovem explicou a O MIRANTE que conhecia uma das alegadas vítimas, agora com 21 anos, e que esta já teria denunciado a situação mas não acreditaram nela. “Como ela já tinha mentido algumas vezes na escola quando falou nisso não acreditaram nem investigaram”, recorda.


Apesar de ninguém querer dar a cara este é o assunto de que toda a gente fala em Santa Catarina. Todos conheciam a família mas não se relacionavam muito com ela. “É uma família grande que nunca se deu muito com ninguém. Além disso, a maioria das pessoas que vive em Santa Catarina não trabalha cá, por isso há muitas pessoas que não se conhecem. Nem quis acreditar quando vi as notícias”, conta outro morador.

Clima de terror imposto sobre as vítimas

Segundo a PJ, que está a investigar o caso, os abusos sexuais, a violência física e psicológica e o ambiente de terror imposto sobre as vítimas passou de pai para filhos ao longo dos anos, sem despertar suspeitas na comunidade. Ao longo dos anos os três homens abusaram das próprias filhas e de outras familiares. Na terra conta-se que uma das filhas do arguido mais velho terá emigrado para escapar dos abusos.


A PJ afirma que as vítimas foram sujeitas a “actos sexuais de relevo bem como maus-tratos físicos e psíquicos. Os crimes foram cometidos de forma transgeracional ao longo dos últimos 40 anos”. Os factos foram conhecidos recentemente, tendo-se iniciado de imediato as diligências que levaram à detenção dos suspeitos.


O homem mais velho, pedreiro de profissão, além de ser suspeito de ter abusado de duas filhas – crimes já prescritos – terá também abusado de três netas, agora com 7, 14 e 21 anos. Os seus dois filhos, um electricista e um motorista, são acusados, entre outros crimes, de terem abusado um da filha e o outro de uma sobrinha. A prática dos crimes sexuais ter-se-á tornado habitual e uma das vítimas, agora com 14 anos, revelou à PJ ter sido abusada pelos tios e pelo avô desde os seis anos.


Foi um irmão dos detidos que denunciou a situação às autoridades depois da filha lhe ter contado o que se passava no seio da família e de que nunca se terá apercebido. A rapariga de 21 anos também admitiu ter sido vítima de abusos por parte do avô desde os seis anos.

Menores vão ser encaminhadas para instituições

Contactado por O MIRANTE, o vice-presidente da Câmara de Tomar, Hugo Cristóvão, explicou que as menores vão ser encaminhadas para instituições competentes e que a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPJC) está a acompanhar o caso. Se for necessário algum tipo de ajuda por parte do município esta será pedida pela CPCJ que trabalha em coordenação com a autarquia.

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