Sociedade | 11-04-2021 12:30

Parkinson: "Faço tudo, mas não faço quando quero e como quero"

Parkinson: "Faço tudo, mas não faço quando quero e como quero"

Na data em que se assinala o Dia Mundial do Doente de Parkinson revelamos parte da entrevista a Francisco Lourenço, responsável pela delegação do Médio Tejo da Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson.

Francisco Lourenço, 78 anos. Recebeu o diagnóstico de Parkinson aos 65. É natural de Chancelaria e vive em Carvalhal da Aroeira, localidades torrejanas. Na conversa com O MIRANTE, na delegação do Médio Tejo da Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson, que ajudou a erguer em Torres Novas, assegura que falou mais numa hora do que consegue dizer em dias inteiros quando a doença teima em se mostrar. Lutador por natureza, falou abertamente das dificuldades de viver com a doença e de uma sociedade que ainda a encara com estigma e onde predomina o egoísmo.

Quando lhe foi diagnosticada a doença de Parkinson?

Recebi o diagnóstico em 2008. Mas, tal como todos os doentes de Parkinson, sei que a doença não apareceu no dia anterior. É uma doença que se arrasta, silenciosa. Vamos aprendendo a lidar com as dificuldades que temos e procuramos encontrar defesas para combater essas dificuldades. Quando chegamos ao ponto de nos queixarmos já está instalada. Quando procurei ajuda estava de rastos.

O que o fez procurar ajuda?

Trabalhava há mais de uma década numa empresa em Espanha, Mérida, como comercial. Tinha muitas responsabilidades. Durante anos criei um mercado muito grande em Portugal. Todas as semanas vinham camiões carregados de móveis, torneiras, cabines de hidromassagem e acessórios de casa de banho, para todo o país. Era responsável por uma equipa de quatro vendedores em Portugal. Em 2005 houve uma quebra acentuada das vendas. A partir daí tive que trabalhar ainda mais. Conduzia muito, chegava a fazer mais de três mil quilómetros por semana para visitar clientes.

Sentia-se exausto?

Em duas situações perdi-me em caminhos que conhecia como a palma da mão. Atribui sempre a culpa ao cansaço. Numa dessas vezes nem conseguia lembrar-me do meu próprio nome. Fui sempre desvalorizando e continuei a trabalhar até poder. Já depois de deixar o trabalho em Espanha, em 2008, em percursos mais curtos, como de Lisboa para Torres Novas, tinha que parar nas áreas de serviço de Aveiras e de Santarém para descansar.

Não eram sinais de alerta suficientes para ir ao médico?

Tenho um historial de depressão, por exigir sempre demais de mim próprio. Nunca fui diagnosticado, mas cheguei a ir várias vezes às urgências dos hospitais por onde passava em viagens de trabalho. Chegaram a dar-me injecções de Valium, mas nunca tentaram chegar ao porquê. Quando me sentia melhor também esquecia o episódio e continuava a minha vida. Numa destas idas às urgências um dia vim ao Hospital de Torres Novas. Apanhei lá uma médica, Margarida Carvalho, que por acaso foi minha vizinha. Aconselhou-me a ir a um neurologista.

Seguiu o conselho?

Não. Mas estava cada vez pior. Um dia notei que tinha a visão alterada. Estava em frente à televisão e comecei a ver a imagem cortada ao meio ou deformada. Assustei-me e marquei uma consulta de psiquiatria na urgência de Tomar. O clínico medicou-me. Como já tinha passado por depressões sabia que o que estava a passar não era o mesmo. De noite acordava com dores tão fortes como se me estivessem a cortar o cérebro. Dormia muito mal. Tomei a iniciativa de ir ter com um radiologista amigo para me fazer uma radiografia à cabeça. Detectou qualquer coisa, mas sugeriu que fizesse uma tomografia axial computorizada (TAC) e fosse visto por um médico da especialidade. A doutora Margarida estava de serviço e chamou de imediato uma ambulância que me levou a Abrantes para fazer a TAC. Quando viu o relatório deu-me dois conselhos: consultar um oftalmologista e um neurologista.

Desta vez deu-lhe ouvidos?

Marquei consulta com o doutor Paulo Martins, neurocirurgião, em Santarém. Viu os exames que levei e disse-me de chofre 'o senhor tem a doença de Parkinson'.

Uma entrevista para ler na íntegra na próxima edição de O MIRANTE, quinta-feira nas bancas.

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