Sociedade | 15-06-2021 15:00

Meio século a consertar bicicletas que são cada vez menos um meio de transporte

Meio século a consertar bicicletas que são cada vez menos um meio de transporte
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José Oleiro é mecânico de bicicletas há 50 anos e é o mais antigo em Aveiras de Cima, concelho de Azambuja

José Oleiro é mecânico há cerca de 50 anos e montou o seu próprio negócio em Vale do Brejo, concelho de Azambuja, há 25. A O MIRANTE diz que, embora esteja reformado, vai continuar a trabalhar porque quer continuar a ver os seus clientes felizes.

José Fernando Oleiro é mecânico de bicicletas há 50 anos e é o mais antigo em Aveiras de Cima, concelho de Azambuja. Quando começou a exercer a profissão arranjava mais de uma dezena de bicicletas por dia. Actualmente faz o mesmo num mês devido à quebra abrupta do número de clientes. “São os efeitos da modernização. A população já não utiliza a bicicleta para ir trabalhar porque também há menos pessoas a viver do campo e da agricultura. O meio de sustento das famílias são as fábricas industriais, situadas na plataforma logística, que fica demasiado longe para ir de bicicleta”, afirma a O MIRANTE.

José Oleiro é mecânico desde os 13 anos quando decidiu que não queria trabalhar na agricultura e pediu aos pais autorização para aprender o ofício com um mestre que existia na vila. A primeira metade da sua vida profissional foi a trabalhar por conta de outrem, na mítica Casa do Carrapato, loja que existiu no centro de Aveiras de Cima. O falecimento do proprietário antecipou a aventura de fundar o seu próprio negócio e passar a ser ele a trabalhar para fidelizar e arranjar novos clientes.

Há 25 anos montou a sua casa em Vale do Brejo, uma pequena localidade em Aveiras de Cima, onde também reside com a família. O mecânico não esconde que “ser patrão traz mais preocupações”, porque tem de dormir com o trabalho, mas “sentir os clientes felizes é a maior recompensa para quem gere um negócio com porta aberta”.

A conversa com O MIRANTE decorre enquanto José Oleiro atende dois clientes. Na rua, à porta do estabelecimento, esperam outros dois. Na sua oficina faz-se todo o tipo de arranjos, desde os mais baratos aos mais caros. “O mais importante é dar resposta aos meus clientes, seja em que situação for, porque assim sei que vão voltar. Também foi por essa razão que comecei a arranjar motas e motosserras. Como diz o velho ditado albarda-se o burro à vontade do dono”, sublinha.

Actualmente, o trabalho de mecânico está mais facilitado. Segundo José, as peças estão mais resistentes e é mais fácil substituí-las. Por exemplo, uma câmara de ar dava para remendar umas dez a quinze vezes; hoje furam-se e é logo uma nova, refere. O facto de grande parte das reparações estar relacionada com furos nas rodas, estragos nos travões e nas mudanças também reduz bastante o tempo de trabalho.

José Oleiro está aposentado há vários anos mas diz que vai continuar a trabalhar até ter saúde e clientes que precisem dos seus serviços. “Fiz muitos amigos durante a vida por causa da mecânica e felizmente ainda tenho muitos que precisam de mim. Trabalhar faz bem à alma e vou continuar até o meu corpo aguentar”, vinca.

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