Sociedade | 13-05-2023 10:00

Mães adoptivas: o amor que não se gerou no ventre mas no coração

Mães adoptivas: o amor que não se gerou no ventre mas no coração
Maria da Fé Nunes e Carla Reis são mães adoptivas mas o amor aos seus filhos é incondicional

Depois de várias tentativas falhadas Maria da Fé e o companheiro decidiram avançar com o processo de adopção. Carla Reis, solteira, realizou o sonho de formar família por meio da adopção. Os processos foram morosos, a maternidade repentina, mas o amor que nutrem pelos filhos é incondicional.

Maria da Fé Nunes sempre teve o sonho de ser mãe e o facto de vir de uma família numerosa contribuiu para que quisesse ter mais do que um filho. Um sonho que passou a ser a dois quando conheceu Luís Nunes. Tentaram várias vezes, iniciaram tratamentos médicos mas a gravidez nunca chegou. Ainda duravam os tratamentos quando começaram a falar na hipótese de adoptar. “Os anos em que tentámos ser pais através de tratamentos médicos foram muito dolorosos sobretudo a nível psicológico. Foi mais difícil do que estar à espera para adoptar”, recorda Maria da Fé a O MIRANTE, a propósito do Dia da Mãe, assinalado no primeiro domingo de Maio.
Maria da Fé e Luís Nunes tinham preferência por uma menina e que fosse bebé, mas quando o telefone tocou e lhe disseram que havia um menino de cinco anos disponível para ser adoptado não pensaram duas vezes. “No momento em que o vi desatei a chorar de felicidade. Percebi que tinha chegado a minha hora de ser mãe. Foi uma sensação indescritível. Percebi logo que aquele menino iria ser o nosso filho”, conta a proprietária de uma empresa de limpezas, que vive em Fazendas de Almeirim. A ligação ao menino, agora com 21 anos, foi imediata e depois de algumas visitas e dormidas levaram-no definitivamente para casa.
O primeiro processo de adopção deste casal demorou três anos e o segundo seis. Desta vez tiveram a tão desejada menina, Iara, que faz seis anos em Agosto. “Queria viver o lado mais maternal, o biberon e o mudar fraldas, que não aconteceu com o Luís”, conta Maria da Fé, que chegou a pensar desistir do segundo processo de adopção devido ao avançar da idade. Iara veio completar a família e comemorou o primeiro aniversário com os pais.

“A ligação entre mãe e filho não cai do céu”
Carla Reis sempre quis ser mãe e nunca escondeu esse desejo. Teve várias relações amorosas mas com nenhum dos companheiros surgiu a possibilidade de o concretizar. Foi então que ainda durante um relacionamento decidiu avançar sozinha para um processo de adopção que se prolongou ao longo de 13 anos. A vida foi seguindo, o relacionamento amoroso terminou, mas nunca perdeu a esperança nem a vontade de ser mãe. Em finais de Agosto de 2018 recebeu a tão aguardada chamada de que a sua aventura pela maternidade estava prestes a começar.
“Disseram-me que estava convidada para conhecer um menino que podia vir a ser meu filho, caso se adaptasse a mim”. Sozinha, fez-se à estrada em direcção ao encontro mais emocionante da sua vida. “Senti de imediato uma afectividade grande. Disseram-me que socialmente ele tinha algumas dificuldades com adultos mas aproximou-se de mim, alimentei-o e brincámos”, conta a professora de Matemática que é natural de Casais da Lagoa, concelho de Azambuja, explicando que durante uma semana ficou hospedada próximo da instituição onde estava o menino, que tem hoje cinco anos. Um procedimento comum mas para o qual, lamenta, não há uma justificação válida para se faltar ao trabalho. Valeu-lhe a compreensão do agrupamento de escolas no qual lecciona, no Cartaxo.
Fazer-se mãe repentinamente, sem o natural aviso prévio de nove meses, foi um desafio para o qual não estava preparada. “É uma alteração grande que mexe muito connosco”, sem tempo para se ganhar consciência de que se vai ter um ser indefeso no colo. “Foi muito complicado, a ligação entre mãe e filho não cai do céu, mas meti na cabeça que não o devolvia, não ia fazer isso. Só precisava de tempo para interiorizar que aquela criança era o meu filho”, conta Carla Reis.
A ligação entre os dois foi-se construindo e hoje o amor que sentem um pelo outro em nada se assemelha ao sentimento dos primeiros meses. “Somos um do outro. E eu, além de mãe sou, como ele diz, o pai e o irmão que não tem. Derreto-me quando me chama mamã sem que alguma vez lhe tenha pedido para o fazer”. Este Dia da Mãe, assinalado no primeiro domingo de Maio, foi o primeiro que sentiu como tal ao acordar com um beijo do filho que lhe “encheu o coração”.
Para nenhuma destas duas mães a adopção é um tema tabu, nem o deve ser em família alguma. Os seus filhos sabem que nas barrigas das suas mães não houve gestação e que o amor que recebem veio directamente do coração. “A nossa família pauta-se pela verdade e nunca vamos esconder nada aos nossos filhos. Adoptar é amar incondicionalmente. Só não saíram da minha barriga. De resto é igual como se fossem biológicos”, sustenta Maria da Fé. A professora de Matemática, de 52 anos, completa: “Digo-lhe que é meu filho do coração, que não esteve na minha barriga, mas que é meu filho. Ainda é pequeno para perceber bem”, mas um dia entenderá.

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