Mãe e filha nunca tiveram médico de família em Vila Franca de Xira
Mafalda Sousa vive em Vila Franca de Xira desde 2018 e nunca teve médico de família no centro de saúde da cidade. A utente engravidou e continuou sem médico. O mesmo se passa com a filha de três meses que não tem acesso a consultas no Centro de Saúde de Vila Franca de Xira.
O Centro de Saúde de Vila Franca de Xira não está a garantir as consultas aos bebés com pais que não têm médico de família atribuído. A denúncia é de Mafalda Sousa, 34 anos, farmacêutica, que vive na cidade de Vila Franca de Xira desde 2018. Na altura em que se mudou do Carregado para Vila Franca de Xira dirigiu-se ao centro de saúde da cidade e informaram-na de que ia ficar sem médico e por isso era melhor continuar agregada ao Carregado. Mafalda Sousa assim fez até saber que estava grávida. Em Junho de 2022, já com seis semanas de gravidez, deslocou-se ao Centro de Saúde do Carregado e soube que já não tinha médico de família nem médicos disponíveis para fazerem o acompanhamento de saúde materna.
Como morava em Vila Franca de Xira foi novamente ao centro de saúde da cidade onde relata que a demoveram da ideia de se inscrever uma vez que não ia ter médico durante a gravidez. “Andei feita bola de pingue-pongue entre os dois centros de saúde e ninguém me queria. Só fui a uma consulta de urgência às 12 semanas, no Carregado, onde por especial favor me passaram as análises e a ecografia do primeiro trimestre de gestação. Exames esses que só podem ser feitos até às 13 semanas”, conta.
No Centro de Saúde de Vila Franca de Xira mostraram a Mafalda Sousa um e-mail da responsável do Agrupamento de Centros de Saúde Estuário do Tejo que dizia que a partir de Março de 2022 as grávidas tinham que recorrer ao Hospital de Vila Franca de Xira porque não podiam garantir acompanhamento durante a gestação. Como alternativa aconselharam Mafalda Sousa a recorrer ao privado. Já no Hospital de Vila Franca de Xira explicaram que não tinham capacidade para acompanhar grávidas e que só atendiam as gestantes nas urgências. Durante a gravidez Mafalda Sousa diz que no Centro de Saúde do Carregado, por favor, lhe passaram as análises e as três credenciais obrigatórias para fazer as ecografias durante a gravidez. Mas assim que a bebé nascesse tinha que recorrer a outro centro de saúde.
“A minha filha não tem culpa que os pais não tenham médico de família”
Quando a filha nasceu, há três meses, foi com o marido ao Centro de Saúde de Vila Franca de Xira e avisaram novamente que não ia ter médico. Só garantiam as vacinas para a bebé mas não ia ter consultas médicas. Mafalda Sousa expôs a situação à Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo mas nunca obteve resposta. Do gabinete do utente recebeu resposta que não havia recursos humanos. Sem alternativa fez um seguro de saúde para a filha mas questiona como será com os bebés cujos pais não têm possibilidades financeiras para acarretar com mais uma despesa. “Não me consigo conformar porque faço os meus descontos. A minha filha não tem culpa que os pais não tenham médico de família. É descriminação. Ela tem que ter médico”, reitera.
O MIRANTE contactou a ARS a solicitar esclarecimentos acerca da situação das grávidas e bebés sem médico atribuído, assim com o caso particular de Mafalda Sousa, mas sem sucesso.