Sociedade | 24-10-2023 19:30

Começou em Santarém julgamento do caso do acidente que vitimou Sara Carreira

Começou em Santarém julgamento do caso do acidente que vitimou Sara Carreira

Arguidos contaram as suas versões dos acontecimentos na sessão realizada na terça-feira, 24 de Outubro

O condutor do veículo que deu origem ao acidente que vitimou Sara Carreira negou estar a circular a cerca de 30 quilómetros por hora como referem os peritos, mas sim a 80 quilómetros por hora. O arguido, acusado de um crime de homicídio por negligência grosseira, falava, no dia 24 de Outubro, no Tribunal de Santarém, na primeira sessão do julgamento do caso do acidente que provocou a morte da cantora Sara Carreira, em 5 de Dezembro de 2020.

Paulo Neves disse discordar dos resultados da perícia, que concluiu que circularia a uma velocidade entre os 28 e os 32 quilómetros por hora na Autoestrada 1 (A1), na zona de Santarém, na altura em que o carro da segunda arguida, Cristina Branco, embateu na sua viatura. “Sobre a velocidade tenho muitas dúvidas”, disse, defendendo que estaria a circular entre os “70 a 80 quilómetros por hora”.

Já sobre a taxa de alcoolemia, disse “ter que aceitar” o resultado do teste, que acusou uma taxa de álcool de 1,18 gramas por litro de sangue (acima por permitido por lei – 0,5 gramas por litro), explicando ter estado a lanchar com dois colegas e ter “comido queijo e bebido vinho”, sem conseguir especificar a quantidade. No entanto, o arguido disse estar consciente da sua condução. “Estava plenamente consciente do estava a fazer”, afirmou Paulo Neves ao Tribunal de Santarém.

Segundo a descrição do acidente, a viatura de Cristina Branco embateu, cerca das 18h30, no veículo de Paulo Neves, que circulava na faixa da direita, alegadamente a uma velocidade inferior à mínima permitida por lei (50 Km/h) e depois de ter ingerido bebidas alcoólicas. A viatura de Cristina Branco embateu, de seguida, na guarda lateral direita, rodando e imobilizando-se na faixa central da A1. Apesar de ter ligado as luzes indicadoras de perigo, a fadista, que abandonou a viatura na companhia da filha, foi acusada pelo Ministério Público de não ter feito a pré-sinalização de perigo.

A fadista contou ao tribunal: “vi umas luzes mesmo em frente ao meu carro, pus a mão no peito da minha filha, travei e disse “vamos bater”. Cristina Branco explicou à juíza Marisa Dias Ginja que a sua preocupação foi “colocar a filha em segurança”, no separador central da A1 e que não colocou o triângulo de sinalização do acidente porque se encontrava “confusa e em estado de choque” e porque “estavam carros a circular”, entre os quais recorda a passagem de um camião.

A primeira sessão do julgamento foi marcada pela audição de Ivo Lucas, namorado da cantora, que conduzia o carro em que ambos circulavam e que está acusado também de um crime de homicídio por negligência grosseira. Num testemunho emotivo, o terceiro arguido a ser ouvido pelo tribunal recordou que ele e Sara Carreira se deslocavam do Porto com destino à Charneca da Caparica, onde a cantora deveria jantar com a mãe, e seguiriam para um fim de semana com amigos, em Salvaterra de Magos.

Ivo Lucas afirmou que vinham a conversar e que só se apercebeu de “um vulto” no mesmo momento em que Sara Carreira “gritou ‘cuidado’”, tendo embatido de seguida na viatura de Cristina Branco. A fadista tinha já testemunhado que havia visto o carro do casal “sobrevoar” o local onde se encontrava com a filha, embater no separador e capotar várias vezes.

Já Ivo Lucas disse não se ter apercebido do impacto e só ter consciência a partir do momento em que se encontrava “a atravessar a estrada, sem t-shirt e com o braço todo desfigurado”. “Não sabia onde estava, não sabia o que tinha acontecido e não sabia da Sara”, recordou, acrescentando que, dois anos depois do acidente, as suas memórias continuam a ser apenas ‘flashes’ que não consegue “ordenar cronologicamente”.

No acidente esteve ainda envolvido Tiago Pacheco que seguia pela via central da A1 e que, segundo a acusação, não reduziu a velocidade, mesmo apercebendo-se que passava por um acidente, não conseguindo desviar-se da viatura de Ivo Lucas (que ocupava parcialmente aquela faixa), onde este ainda se encontrava, bem como Sara Carreira. Este foi o último arguido a falar ao tribunal, tendo também discordado da velocidade que a acusação alega que ia [entre 146,35 e 155,08 Km/h].

O condutor alegou que circulava a “85/86 quilómetros por hora” poucos minutos antes do embate e que não terá travado ao passar pelo acidente por não ter “sentido a necessidade de abrandar”. Tiago Pacheco disse ainda não ter visto qualquer sinalização de acidente e só se ter apercebido de “luzes laranja” na faixa direita da A1, tendo passado pelo meio dos carros acidentados “passando por cima de destroços” e acabando por embater com o seu carro na viatura conduzida por Ivo Lucas.

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