Desaparecimentos de idosos com demência continuam sem resposta
Não saber de um familiar desaparecido é o mesmo que viver no limbo, sem um desfecho, sem se poder fazer o luto. Na região há pelo menos três idosos, com demência, que continuam em paradeiro incerto. Um dos casos tem três anos, o mais recente é o de Leonilde Ribeiro, desaparecida desde 5 de Outubro.
Leonilde Ribeiro desapareceu sem deixar rasto, na madrugada de 5 de Outubro, da casa de acolhimento onde vivia há quatro anos, em Charneca de Peralva, no concelho de Tomar. Saiu em pijama, descalça, sem dinheiro, telemóvel ou documentação. Só a demência de que padece explica a acção. A última vez que foi vista encontrava-se junto à escola da localidade cerca das 05h30, mas quem a viu não questionou por que motivo estaria na rua uma idosa, naqueles preparos, àquela hora da madrugada.
O alerta foi dado pela manhã pela responsável da casa de acolhimento que garantiu à família que pelas 02h30 Leonilde Ribeiro estava na cama. Nesse dia, o primeiro do desaparecimento, que nos casos de idosos que sofrem de demência é fundamental, as buscas policiais começaram durante a tarde. Quem tomava conta da idosa de 84 anos foi interrogada e foram descartadas hipóteses de crime. Depois de terem andado com drones e equipa cinotécnica ao quinto dia do desaparecimento a GNR continuava no terreno, mas de forma menos reforçada, com a presença de seis militares, até que as buscas acabaram por ser suspensas.
“Estamos a sentir uma revolta muito grande por as autoridades não terem mantido as buscas. Nós, familiares e amigos, continuamos na batalha, vamos para o terreno consoante os nossos horários. Ela tem de aparecer”, disse a O MIRANTE a filha, Edite Fontinha. Desesperada, a família tem lançado vários apelos para quem tiver alguma informação sobre o possível paradeiro da idosa que entre em contacto com as autoridades. “Nunca teremos descanso se ela não aparecer”, sublinha.
Também a família de José Mingote Lopes não pode ainda descansar. O idoso, de 87 anos, está desaparecido desde 9 de Julho, em Chainça, concelho de Abrantes. Segundo a filha, Marília Mingote, o idoso, diagnosticado com Alzheimer, tinha ido passar uns dias a sua casa e desapareceu depois de ter deixado a residência, ao final da tarde, para ir dar um passeio com passagem pelo café Arcada, onde foi visto pela última vez, do lado de fora, a espreitar pelo vidro. Também neste caso os esforços das autoridades e da população foram infrutíferos. O caso acabou por passar, como prevê a lei, para a alçada da Polícia Judiciária, mas não surgiu qualquer pista que leve ao paradeiro de José Mingote Lopes.
Sem pistas e com a fotografia a constar da lista de desaparecidos da Polícia Judiciária, que se encontra online, está o caso de José Silva, o homem residente em Alverca do Ribatejo que, aos 72 anos, desapareceu sem deixar rasto. Tal como Leonilde e José tinha sido diagnosticado com demência. Apesar de terem passado três anos, as filhas, Carla e Vera Silva, que na altura se revoltaram com a suspensão das buscas por parte das autoridades, ainda não desistiram de o procurar. As irmãs lançaram, no ano seguinte, uma petição entregue na Assembleia da República para que fosse revista a forma como os casos de desaparecimentos são investigados.
Pulseira ajuda idosos a regressar a casa
Foi a pensar nos adultos com demência ou que sofram de algum tipo de desorientação na via pública que a Polícia de Segurança Pública criou o programa Estou Aqui-Adultos. Através da atribuição de uma pulseira com chapa metálica com um código alfanumérico e a inscrição call/ligue 112, a pessoa que a recebe (por pedido) pode ser mais facilmente encontrada e encaminhada para junto dos seus familiares. “O primeiro contacto é muitas vezes crítico e a urgência com que a pessoa é identificada pode fazer toda a diferença sendo dever da Polícia procurar todas as alternativas para que esse processo seja rápido, simples e seguro”, lê-se na página da PSP.