Fernando Lourenço: o ex-combatente que quer Abrantes a valorizar mais o seu património militar
Fernando Lourenço é antigo militar e presidente do Núcleo da Liga dos Combatentes de Abrantes desde o ano passado. Enquanto militar serviu na Bósnia, Angola e em vários territórios nacionais. Como presidente do núcleo diz que a associação tem sido uma ajuda importante para antigos militares nas mais diversas dificuldades.
Fernando Lourenço, presidente do Núcleo de Abrantes da Liga dos Combatentes, dedicou grande parte da sua vida à carreira militar. Alistou-se no Exército quando completou 18 anos e, ao longo das quase quatro décadas em que serviu, esteve colocado em Lisboa, Abrantes, Santa Margarida e Açores. No currículo conta com duas missões no estrangeiro, a primeira na Bósnia e mais tarde em Angola. Foi na Bósnia onde viveu dos tempos mais difíceis enquanto militar, afirma a O MIRANTE. Os veículos e os equipamentos não estavam preparados para as baixas temperaturas e os portugueses montaram acampamento, durante quatro meses, num hotel em ruínas onde acordavam, várias vezes, debaixo de neve. A situação que mais o marcou foi quando passeava pela cidade com o seu comandante e sofreram uma abordagem por parte de um sérvio que, sob ameaça de espingarda, raptou o comandante português. Fernando Lourenço, ainda em choque, dirigiu-se ao aquartelamento e avisou o batalhão que resgatou ainda nesse dia o comandante sem males maiores.
Aos 65 anos, é presidente do núcleo desde o ano passado e é sócio há mais de 10 anos. Fernando Lourenço explica que a Liga dos Combatentes, em Portugal, foi fundada em 1923 pela necessidade e falta de apoios que os veteranos de guerra, órfãos e viúvas de ex-combatentes tinham. Actualmente, o Núcleo de Abrantes tem cerca de 1.400 sócios. “Não somos uma associação de militares, somos uma associação de pessoas que pretendem ajudar o próximo. Neste caso, o próximo são os antigos militares e seus familiares, que sofreram na guerra e que o Estado não acompanhou”, explica. Além das cerimónias e passeios turísticos, o núcleo tem vários protocolos no ramo da saúde, como dentistas e clínicas de análises, para que os ex-combatentes possam ter direito a descontos. O núcleo central, em Lisboa, tem na sua organização um centro de estudos de apoio psico-social, com técnicos especializados, que realizam consultas pessoalmente ou via telefónica, mensalmente, aos antigos militares referenciados. Os casos de alcoolismo e comportamentos violentos são as manifestações de trauma mais comuns. O presidente da associação explica que o núcleo apoia também de forma monetária, dentro das possibilidades, os sócios e casos referenciados, chegando a haver situações de pagamento de despesas domésticas e farmacêuticas. Fernando Lourenço afirma que as maiores dificuldades são a escassez de recursos humanos para garantir um serviço ainda mais próximo.
Abrantes e o património militar
Fernando Lourenço acredita que não há povo sem história e que é importante preservar o que ainda se tem. “Uma das principais questões que debato com o presidente Manuel Valamatos é a falta de homenagem aos sobreviventes da guerra do Ultramar, que ainda temos no nosso concelho. Temos militares vivos que estão ao abandono, sem qualquer tipo de apoios e reconhecimento. É preciso reconhecer estes homens em vida, porque daqui a 10 anos podemos já não ter sobreviventes da guerra do Ultramar. Temos de valorizar mais o nosso património militar”, remata Fernando Lourenço. O presidente do núcleo lamenta que o monumento de homenagem aos combatentes, presente no Jardim da República, em Abrantes, seja uma faixa de mármore com o nome dos militares falecidos, que está num estado elevado de degradação e que passa despercebido.