Biólogo Jorge Paiva desiludido com alunos que esquecem o que aprenderam nas suas palestras
O MIRANTE foi a Tomar assistir à palestra do biólogo Jorge Paiva, no âmbito da 19ª edição da Biodiversidade, organizada pelo Agrupamento de Escolas Nuno de Santa Maria. E como leitor do jornal sei que o tem feito ano após ano.
O MIRANTE foi a Tomar assistir à palestra do biólogo Jorge Paiva, no âmbito da 19ª edição da Biodiversidade, organizada pelo Agrupamento de Escolas Nuno de Santa Maria. E como leitor do jornal sei que o tem feito ano após ano.
A propósito do resultado dessas palestras, que Jorge Paiva tem feito nas escolas, permitam-me que recorde o que ele disse ao Público, numa entrevista publicada a 17 de Setembro deste ano, quando fez 90 anos, em que se confessava desiludido com a sua actividade cívica.
“Fiz trabalho científico reconhecido, [descrevi] algumas espécies novas e grupos novos. Mas a parte da minha actividade cívica, ambiental e cultural é uma desilusão brutal. Sou cientificamente realizado e civicamente desiludido”. E explicava porquê:
“Fiz mais de 2.500 palestras. Verifiquei que os alunos na escola gostavam muito de ouvir o que tinha para dizer e ficavam alertados para o que estava a acontecer. Escrevi muitos artigos de opinião. Mas depois os alunos são tão massacrados com propaganda consumista que quando chegam à universidade a maioria esquece-se. E, quando vão para as suas profissões esqueceram-se. E quando chegam a políticos não fazem absolutamente nada”.
Deixo só mais duas notas sobre a entrevista que refiro. Uma, a propósito de uma decisão tomada há alguns anos por O MIRANTE, de não publicar fotografias dos incêndios de Verão. Referindo-se às imagens dos fogos nas televisões Jorge Paiva diz que servem para “activar a piromania” e interroga-se: “Porque é que se mostra este espectáculo dantesco?”
Uma outra nota, a propósito do suplemento dos 36 anos do aniversário do jornal e da inclusão do tema do ambiente, no inquérito feito a mais de quatro dezenas de personalidades. Jorge Paiva explica o seu desapontamento. “ (...) as pessoas vivem no comodismo. Ninguém quer alterar a sua maneira de viver. Temos de alterar a nossa maneira de viver, que é extremamente consumista. (Senão) É impossível, não vamos lá.”
Fernando de Carvalho