Sociedade | 26-11-2023 12:00

A magia do cinema também passa pelos projeccionistas

A magia do cinema também passa pelos projeccionistas
Joaquim Salgueiro acompanhou a transição do cinema analógico para o digital

A sétima arte continua a ter lugar de destaque em Benavente. Os filmes são exibidos no cine-teatro duas semanas após as estreias nas grandes salas nacionais e a preços convidativos. O Dia Mundial do Cinema comemora-se me Novembro e por isso estivemos à conversa com o projeccionista Joaquim Salgueiro.

A magia do cinema não se perdeu para o público que continua a gostar de ver filmes no grande ecrã. A opinião é de Joaquim Salgueiro, 41 anos, projeccionista no Cine-Teatro de Benavente desde 2004. Com formação na área da música aprendeu a projectar filmes com um antigo colega. Nessa altura os filmes ainda eram recepcionados em película e era necessário fazer a montagem dos frames. Era preciso entre uma hora a hora e meia para preparar o filme para ser exibido. Agora os filmes cabem num disco externo e é só copiar e colar para ser exibido na máquina, depois de ser inserido o código de desbloqueio por causa das cópias ilegais.
Antigamente, quando os filmes chegavam na bobine para serem exibidos no Cine-Teatro de Benavente já se tinha passado um mês ou mês e meio desde a data da estreia. Agora, duas semanas depois da estreia, já é possível ver o filme em Benavente com bilhetes a três euros, um valor mais acessível do que o das grandes salas nacionais.
“Quando abrimos tínhamos temporadas de cinema analógico e as pessoas vinham mesmo sem saber qual era o filme. Era um público de cinema fiel. Na paragem do analógico para o digital, quando comprámos a actual máquina, o público regressou mais lentamente, também por causa dos stremings. Mas é diferente ver um filme num grande ecrã, numa sala de cinema e com bom som”, afirma o projeccionista.
A sala do cine-teatro enche com os mesmos filmes que as grandes salas dos centros comerciais. Este ano aconteceu isso mesmo no filme da Barbie e Oppenheimer. Em relação ao analógico Joaquim Salgueiro considera que o digital inevitavelmente tem melhor imagem, já em 4K, apesar de alguns entendidos em cinema considerarem que o som do filme não é tão natural.

Revivalismo cinematográfico
Joaquim Salgueiro recorda alguns dos episódios quando a projecção ainda era analógica. Em Samora Correia passou um filme que tinha sido montado por outra pessoa e a meio percebeu que a banda sonora não tinha som. Teve de fazer uma paragem para depois retomar a exibição. Já em Benavente exibiu um filme português que não trazia marcações. Só sabia onde começava e acabava a película. Montou as duas bobines e notou que o filme tinha uns saltos pelo meio mas ninguém se queixou.
No filme O Senhor dos Anéis, que era enorme, a película saía fora da bobine e teve de meter fita cola para evitar que caísse no chão. Um dos episódios mais caricatos foi no ciclo de cinema de terror. “No dia em que passou um dos filmes estava temporal. Numa parte do filme em que havia um susto as luzes apagaram-se. Foram cerca de dez segundos só com as luzes de emergência ligadas. Assim que a máquina arranca e eu ligo a luz e o filme continuou. O público pensou que fazia parte do filme”.
Até hoje o maior sucesso em sala que acompanhou, com sessões esgotadas, foi o filme Mamma Mia, em 2008. Actualmente os filmes infantis, com sessões de tarde e à noite, também trazem muitas famílias ao grande ecrã. Joaquim Salgueiro defende a importância do cinema no concelho de Benavente porque desde que fechou o IMAX em Vila Franca de Xira as pessoas só têm sala de cinema no Montijo e Santarém. “Temos uma bela oferta mas acho que podíamos retomar os ciclos de cinema temáticos, com preços acessíveis. Gostava muito de retomar os ciclos de cinema na rua. Já chegámos a exibir filmes gratuitos aqui na esplanada do cine-teatro”, diz.
O projeccionista está paralelamente a terminar a licenciatura em Produção Teatral, na Escola Superior de Teatro e Cinema. É da opinião que os projeccionistas não vão acabar até porque apesar de ser possível programar filmes em várias salas ao mesmo tempo é sempre preciso alguém para carregar no botão.
Por outro lado assiste-se a um revivalismo em que os jovens criadores querem produzir ainda em bobines e serem originais. Isto leva a que a profissão permaneça de forma mais minimalista. “A magia do cinema passava pelos projeccionistas porque tínhamos a máquina na mão. Ouvíamos o som dos carretos a passar, os marcadores e os problemas que se resolviam na hora. Mas para o público essa magia mantém-se e vai continuar”, diz.

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