Sociedade | 29-01-2024 07:00

Realidade virtual sobrepôs-se à factual na avaliação das acessibilidades

FOTO ILUSTRATIVA – FOTO DR

Opções que não têm ferrovia tiveram melhor avaliação da Comissão Técnica Independente do que a solução Santarém, que é servida pela Linha do Norte. Um dado que causou estranheza.

A opção Santarém para localização do novo aeroporto de Lisboa está pior avaliada pela Comissão Técnica Independente (CTI) no capítulo das acessibilidades rodoviárias e ferroviárias - apesar de ter a A1 e a Linha do Norte nas proximidades - do que as opções do campo de tiro da Força Aérea (Benavente) e do Montijo, que não são actualmente servidas por auto-estrada nem por ferrovia. Nem se sabe quando serão...
Esse facto mereceu observações críticas e estranheza por parte de alguns dos participantes na sessão de apresentação do relatório preliminar da CTI, como o presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, o eleito da Assembleia Municipal de Santarém José Magalhães, ou o professor universitário João Raposo. Afirmaram não compreender a desvalorização das infraestruturas rodoviárias e ferroviárias existentes em detrimento da valorização de supostos projectos que apenas existem no papel e que só deverão estar concretizados a 10 ou 15 anos como a ferrovia de alta velocidade para a margem sul do Tejo.
Paulo Pinho, da CTI, esclareceu que a avaliação foi feita numa perspectiva de futuro e não baseada no cenário actual. “Não estamos a analisar projectos que vão entrar em funcionamento no dia seguinte. Temos que ter uma visão de longo prazo. Por isso agarrámo-nos a compromissos do actual Governo”, referiu o professor catedrático aposentado para justificar a avaliação positiva conferida às acessibilidades nas opções a sul do Tejo, que poderão vir a ser servidas pela ferrovia de alta velocidade, cujo concurso para o primeiro troço (Porto – Oiã) foi lançado recentemente. “Se ignorássemos isso estávamos a fazer uma avaliação futura com o referencial do presente. Tivemos em conta a escala a longo prazo” justificou.
O mesmo especialista lembrou que o trajecto do comboio de alta velocidade já está definido e estabilizado entre o Porto e o Carregado. Depois, daí até Lisboa não há ainda soluções fechadas. O mesmo responsável defendeu que seria ideal que houvesse uma articulação entre os projectos da alta velocidade e o do novo aeroporto, “onde quer que ele seja”.

Milhares de sobreiros em risco

A construção do novo aeroporto em Benavente ou em Vendas Novas pode levar ao abate de milhares de sobreiros. Potencialmente, pode afectar cerca de 40 mil sobreiros, admitiu Teresa Fidelis, da Comissão Técnica Independente. “São as soluções mais gravosas” nesse capítulo, apontou. “No caso de Santarém, esta é uma vantagem comparativa, sem dúvida, e está exposta no nosso estudo. Fizemos análise comparativa de vantagens e desvantagens de cada localização, não definindo o que se vai fazer no futuro em relação a essa matéria sendo que existe uma legislação de protecção dos sobreiros implicando medidas de compensação, de replantação ou de relocalização”, disse a professora da Universidade de Aveiro.

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