Sociedade | 18-01-2022 21:00

A morte de um dirigente torturado pela PIDE nos 70 anos da ponte Marechal Carmona

A morte de um dirigente torturado pela PIDE nos 70 anos da ponte Marechal Carmona

Exposição evocativa dos 70 anos da Ponte Marechal Carmona, a primeira travessia rodoviária sobre o rio Tejo na região de Lisboa, vai estar disponível até Outubro no Museu Municipal de Vila Franca de Xira.

A história da Ponte Marechal Carmona, inaugurada há 70 anos em Vila Franca de Xira, está disponível no Museu Municipal de Vila Franca de Xira até Outubro deste ano. A exposição “A (re)Afirmação de um Elemento Identitário, 70 anos da Ponte Marechal Carmona” pretende dar a conhecer todos os passos que levaram à construção da primeira travessia sobre o rio Tejo na região de Lisboa e que actualmente é usada diariamente por cerca de 15 mil utilizadores.
O MIRANTE visitou a exposição alguns dias depois da sua inauguração, acompanhado pela vereadora da cultura da autarquia, Manuela Ralha, e pela equipa técnica do museu composta por Diogo Paz, Nelson Gonçalves, Inês Rodrigues, Idalina Mesquita e João Pereira. As paredes do primeiro andar do museu estão repletas de quadros que assinalam os momentos mais marcantes da ponte. Os componentes multimédia existentes também ajudam a perceber, através da utilização de óculos de realidade virtual, como era realizada a travessia há várias décadas. Os visitantes que quiserem aprofundar os conhecimentos sobre a ponte podem fazê-lo através de uma visita guiada que a equipa disponibiliza de forma gratuita.
Apesar de ter sido construída nas décadas de 40 e 50 do século passado, a ponte já era tema de conversa nos anos 20, quando começou a aumentar o número de automóveis e fábricas em Lisboa e em localidades periféricas. A solução, conta a equipa do museu, era colocar as viaturas num barco, medida que se tornou insuficiente devido ao aumento do tráfego.
O regime do Estado Novo ainda não tinha decidido que a travessia seria construída em Vila Franca de Xira, quando os vilafranquenses decidiram realizar uma manifestação de vitória em pleno Terreiro do Paço, em Lisboa. Os técnicos contam que foi um momento que fez correr muita tinta, porque nesses anos as manifestações populares eram proibidas. Mas a irreverência dos cidadãos teve impacto no Governo de Oliveira Salazar, que mandou realizar a empreitada que, durante muitos anos, foi a que mais dinheiro custou aos cofres do Estado.

A REVOLTA DE UM DIRIGENTE QUE FOI TORTURADO

A construção da ponte trouxe muitas vantagens para a economia da região, mas também fez perder muitos postos de trabalho, nomeadamente dos muitos barqueiros que realizavam diariamente a passagem de pessoas e bens entre as duas margens do Tejo. A revolta dos trabalhadores fez com que muitos emigrassem, situação que originou muita contestação em alguns dirigentes associativos. Carlos Pato, presidente à época do Ateneu Artístico Vilafranquense, recusou-se mesmo a autorizar a participação da banda filarmónica na inauguração da ponte, o que fez com que fosse parar à prisão e morresse pouco tempo depois em grande sofrimento, por falta de assistência médica, após ter sido torturado pela polícia política do regime, a PIDE.

Nome é para manter porque a História não se apaga

Manuela Ralha diz que está a ser desenvolvido um projecto para melhorar a Ponte Marechal Carmona de forma a dar mais segurança a quem, por razões de trabalho ou lazer, a utiliza. A vereadora considera a infra-estrutura um marco cultural importante que teve um forte impacto económico no concelho e na região. “A lezíria sempre foi o celeiro de Portugal e graças a esta ponte foi possível passar camiões entre as margens do rio e promover ainda mais o comércio”, afirma.
A autarca conta que já estiveram em cima da mesa propostas para alterar o nome da ponte, à semelhança do que aconteceu com a Ponte 25 de Abril, entre Lisboa e Almada, anteriormente Ponte Oliveira Salazar. Manuela Ralha admite que não concorda que se façam essas mudanças. “A História não se reescreve, não se altera, não se apaga. Se não, também deveríamos mandar abaixo o Padrão dos Descobrimentos porque não fomos só descobridores, também traficámos escravos”, sublinha.
Recorde-se que o município aprovou recentemente, em reunião camarária, um protocolo a celebrar com a Infraestruturas de Portugal (IP) tendo em vista a implementação de um novo sistema de iluminação no tabuleiro da ponte. Além de facilitar os trabalhos, a câmara fica também responsável por assumir os encargos relativos ao fornecimento de energia eléctrica e manter o funcionamento do sistema no futuro. Os trabalhos incluem a substituição do antiquado sistema de iluminação de vapor de sódio por um sistema de iluminação LED.

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