Sociedade | 11-05-2022 21:00

Associação de Santarém é um porto de abrigo para mães desempregadas

Ateliê de costura da Associação Ajuda de Mãe foi criado com o objectivo de apoiar mulheres grávidas em Santarém

Cristiane Chaves partiu do Brasil e foi viver para o Porto, onde trabalhou como cozinheira, cabeleireira, entre outros ofícios. Solteira, desempregada e com a bebé Helena de 4 meses para cuidar, é uma das muitas mães que têm encontrado o seu porto de abrigo na Associação Ajuda de Mãe.

Cristiane Chaves, 38 anos, veio do Brasil e encontrou em Portugal um novo lar. Depois de viver cinco anos no Porto, está há três meses em Santarém, na casa da irmã. Desempregada e com a bebé Helena, de apenas 4 meses, para cuidar, encontrou na associação Ajuda de Mãe um “refúgio para os problemas e solidão”. Todos os dias da semana desloca-se para o gabinete, situado na Avenida 25 de Abril, com o intuito de aprender técnicas de costura e partilhar histórias que, acredita, servem para “estabelecer laços de amizade”.
A Ajuda de Mãe é uma associação que nasceu em 1991 por iniciativa de um grupo da sociedade civil para apoiar cada mãe e cada família de modo a receber o bebé com qualidade e ultrapassar dificuldades que originem situações de risco e exclusão. Sediada em Lisboa, mas com gabinete em Santarém, a associação tem uma vasta experiência na área da formação certificada, nomeadamente em cursos de formação profissional, e realiza diversos projectos de reintegração na sociedade.
As clássicas máquinas de costura da Singer decoram as mesas do gabinete onde tudo acontece. O ruído que provocam, numa sala repleta de luz no interior do antigo presídio de Santarém, torna-se música para os ouvidos quando o resultado reverte a favor de quem precisa.
Sofia Tormenta, 44 anos, é a coordenadora do projecto ReUse by Ajuda de Mãe, e explica a O MIRANTE alguns dos principais aspectos do projecto. “Os produtos que as mães aqui criam são vendidos e parte do valor reverte a favor delas. Outra parte é para a associação, pois ainda não somos auto-sustentáveis”, afirma.
O ateliê de costura foi criado com dois propósitos; o primeiro é apoiar mulheres grávidas, ou mães com bebés até aos dois anos e em situação de desemprego. O segundo tem uma componente ambiental que pretende evitar o desperdício e reaproveitar excedentes têxteis e outros materiais. De chapéus, bolsas, peluches ou malas, a criatividade materializa-se através do engenho das mães que dizem não às dificuldades. Sofia Tormenta pediu a reabertura do gabinete de Santarém, em 2015, e actualmente dirige o projecto que define como “empreendedorismo social, com impacto ambiental”.

Reintegração no mercado de trabalho

A associação concorreu há três anos aos “Prémios BPI La Caixa Solidário” que atribui apoio financeiro a iniciativas de integração de jovens e adultos na vida activa. Desde essa altura que o ReUse by Ajuda de Mãe tem servido para reintegrar mães no mercado de trabalho. Sofia Tormenta adianta que, quanto mais tempo as mães permanecem em casa, maior o risco de falta de auto-estima e desmotivação. “Essa condição tem um impacto negativo no sucesso numa entrevista de emprego, por exemplo”, explica.
Em 2021, 35 mães desempregadas passaram pelo ateliê de costura; 17 já foram reintegradas no mercado de trabalho ou em formação profissional. Carla Pais é um dos casos de sucesso. Está neste momento a cumprir estágio profissional na associação que a acolheu, trabalha com tecidos que iriam parar a um aterro e tece novas peças quase de olhos fechados. Além disso, ensina quem ainda não domina a arte na totalidade. “Tenho muita paixão pelo que faço”, vinca a O MIRANTE.

Faltam condições para mulheres grávidas no distrito de Santarém

Lígia Nestal, Técnica Superior de Educação Social, faz a avaliação às famílias e o plano de intervenção apropriado a cada situação. Afirma que, dos desafios com que se depara, “o maior problema é o desemprego”. A técnica adianta que a associação conta apenas com uma psicóloga voluntária que agenda consultas exclusivamente aos sábados.
Lígia Nestal lamenta que não exista, através do Sistema Nacional de Saúde (SNS), nenhum local que permita às mulheres grávidas fazer ecografias obstetras de regime obrigatório no distrito de Santarém. No que diz respeito à vigilância pré-natal, as grávidas têm de deslocar-se até Lisboa para acederem ao serviço, sendo que muitas delas não o fazem por impossibilidade ou desconhecimento. Nesse caso podem vir a ser notificadas pelos serviços sociais, situação que pode trazer muitos problemas no futuro para a família.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1657
    27-03-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1657
    27-03-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo