Sociedade | 18-05-2022 15:00

Cancro do ovário é um assassino silencioso

Ivone Caçador, directora do serviço de Ginecologia/Obstetrícia do CHMT. Madalena Nogueira, directora do serviço de Ginecologia/Obstetrícia do Hospital Distrital de Santarém

O cancro do ovário não é tão comum como o cancro da mama ou o cancro do colo do útero. Afecta cerca de 700 mulheres por ano em Portugal. No entanto, é o mais letal dos tumores do aparelho reprodutor porque é muito difícil de diagnosticar.

São raros os casos em que se detecta numa fase inicial e normalmente é muito agressivo. Para assinalar o Dia Mundial do Ovário, que se comemora a 8 de Maio, O MIRANTE conversou com duas médicas, directoras dos serviços de Ginecologia/Obstetrícia do Hospital Distrital de Santarém e do Centro Hospitalar do Médio Tejo, que alertam para a necessidade de ser estar atenta aos sinais, por mais comuns que possam ser.

O cancro do ovário é conhecido entre os médicos como o ‘assassino silencioso’. É um tipo de cancro pouco comum, o quinto cancro com maior incidência na mulher, mas o mais mortal dos cancros ginecológicos. A directora do serviço de Ginecologia/Obstetrícia do Hospital Distrital de Santarém (HDS), Madalena Nogueira, explica a O MIRANTE que não se ouve falar muito no cancro do ovário porque não é tão comum como outros. No HDS são registados cerca de 15 a 20 casos por ano. “Quando o detectamos, infelizmente, já é em estádios muito avançados em que já não há muito a fazer. Ou o apanhamos numa consulta de rotina ou numa queixa da paciente; e mesmo assim não temos a certeza se será cancro do ovário. Temos que fazer mais exames”, refere.
Madalena Nogueira recorda-se do caso de uma paciente, com pouco mais de 20 anos, que apareceu numa urgência. Foi operada e retiraram-lhe todo o aparelho reprodutor, mas como já estava num estádio avançado viveu cerca de 18 meses após ter-lhe sido diagnosticado cancro do ovário. Era um caso hereditário porque normalmente aparece em pessoas mais velhas, na faixa etária dos 70 ou 80 anos.
O cancro do ovário é de difícil diagnóstico e não há muito a fazer para prevenir. Há estudos médicos que demonstram que quanto mais ovulações a mulher tiver ao longo da vida mais probabilidade tem em desenvolver cancro do ovário. Mulheres que têm filhos, tiveram a menarca (primeira menstruação) mais tarde e menopausa mais cedo têm menor probabilidade de desenvolver este tipo de tumor.

Pílula anticoncepcional diminui a probabilidade
A directora do serviço de Ginecologia/Obstetrícia e directora clínica do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT), Ivone Caçador, refere que este cancro é pouco falado porque existem poucos novos casos. Em Portugal são diagnosticados cerca de 700 casos por ano. Ivone Caçador também refere que é um cancro silencioso e quando dá sinais, normalmente, já é tarde demais.
“Cinquenta por cento das mulheres a quem foi diagnosticado cancro do ovário ao fim de cinco anos acabam por falecer. Pode acontecer mais cedo mas a média é cinco anos. É um cancro pouco comum mas é o mais letal dos cancros ginecológicos”, explica, acrescentando que a perda de peso em pouco tempo também pode ser sinal de alerta. Tomar a pílula anticoncepcional diminui entre 30 a 60% a probabilidade de ter este tipo de cancro, assim como a obesidade pode levar a uma maior predisposição para cancro.
Ivone Caçador lembra-se de uma paciente, com cerca de 50 anos, a quem foi detectado um tumor na zona do ovário. Só se tem a certeza que é cancro do ovário depois de operar a doente. A senhora não quis ser operada porque tinha medo e procurou soluções na medicina alternativa. “Quando apareceu no hospital, cerca de um ano depois, já tinha metástases por todo o corpo. Morreu passados dois meses. Este caso ficou-me na memória porque o tumor foi detectado numa fase inicial e a senhora poderia ter sido salva se tivesse sido operada”, recorda a directora clínica do CHMT.

Pandemia atrasou todos os diagnósticos de cancro
O cancro do ovário é de difícil diagnóstico mas há que ter atenção se houver aumento do volume abdominal, ou seja, a barriga fica muito inchada devido a algum líquido no interior. “É difícil detectar e não temos maneira de rastrear. Mesmo com análises ou ecografia vaginal, numa fase inicial os marcadores podem dar negativo, mesmo que já exista um tumor. Mesmo que o tumor seja detectado, só conseguimos um diagnóstico correcto ao fazer uma cirurgia à paciente”, refere Madalena Nogueira, acrescentando não existirem certezas absolutas de onde deriva este tipo de cancro. “Ainda hoje [sexta-feira] os meus colegas operaram uma senhora, com cerca de 40 anos, que já tinha o cancro num estádio muito avançado. Quando é exequível operar retira-se todo o aparelho reprodutor”, explica.
A pandemia atrasou todos os diagnósticos de cancro. Segundo Ivone Caçador, após a pandemia surgiram quatro casos de cancro do ovário mas já não havia nada a fazer. “Foram detectados em estádios já muito avançados. Eram senhoras já com alguma idade”, diz, reforçando a importância de fazer exames de rotina e ir ao ginecologista todos os anos.

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